Quénia/Polícia dispara balas de borracha contra
manifestantes
Bissau,
25 Jun 24 (ANG) - A polícia queniana disparou, hoje, no terceiro dia de
protestos liderados por jovens contra os planos fiscais do Governo, balas de
borracha para dispersar os manifestantes reunidos no centro da capital,
Nairobi.
“Tirem
as balas de borracha da caixa”, gritou um agente da polícia aos colegas diante
dos jornalistas da agência de notícias France-Presse (AFP), que viram depois a
polícia disparar essas balas tanto para o ar como na direção dos manifestantes.
De
acordo com os meios de comunicação social locais, realizaram-se igualmente
manifestações, sem qualquer oposição policial, em várias outras cidades do
país, nomeadamente nos bastiões da oposição de Mombaça (leste) e Kisumu
(oeste), em Eldoret (oeste), uma grande cidade do Vale do Rift, a região natal
do Presidente, William Ruto, Nyeri (sudoeste) e Nakuru (centro).
Na
zona comercial central de Nairobi, os primeiros grupos de manifestantes, na
maioria jovens com bandeiras quenianas, apitos e vuvuzelas e gritando “Somos
pacíficos”, foram inicialmente mantidos à distância por gás lacrimogéneo.
A
polícia utilizou então balas de borracha.
Uma
grande força de segurança, incluindo canhões de água e polícia montada, foi
destacada para este distrito, epicentro de anteriores manifestações, bloqueando
o acesso ao parlamento, onde está atualmente a ser debatido o controverso
projeto de orçamento que desencadeou os protestos.
Para
este terceiro dia de ação, os organizadores apelaram a manifestações em todo o
país e a uma greve geral.
O
movimento, apelidado de “Ocupar o Parlamento”, foi lançado nas redes sociais
pouco depois de o orçamento para 2024-2025 ter sido apresentado ao parlamento,
a 13 de junho, que incluía a introdução de novos impostos - incluindo um IVA de
16% sobre o pão e um imposto anual de 2,5% sobre os veículos privados.
Após
uma primeira manifestação, em 18 de junho, em Nairobi, com algumas centenas de
pessoas, na maioria jovens da “Geração Z” (nascidos depois de 1997), o Governo
anunciou que abandonava a maior parte dos impostos previstos.
Mas a
hashtag #RejectFinanceBill2024 (“Rejeitar o projeto de orçamento para 2024”)
cristalizou um descontentamento mais amplo entre a população, atingida por
dificuldades económicas desde há vários anos, e no dia 20 de junho, desfilaram
procissões em muitas cidades.
As
reivindicações anti-impostos transformaram-se num desafio às políticas do
Presidente, que disse no domingo estar pronto para falar com os jovens.
Embora
largamente pacíficos, os dois primeiros dias de manifestações foram marcados
pela morte de duas pessoas em Nairobi. Várias dezenas de pessoas foram feridas
pela polícia, que também efetuou centenas de detenções.
A
Amnistia Internacional do Quénia, num comunicado divulgado na segunda-feira,
alertou para o risco de escalada que "poderia levar a mais mortes”.
A
Comissão Queniana dos Direitos Humanos, uma ONG, acusou as autoridades de
raptarem ativistas “principalmente à noite (...) por polícias à paisana em
carros sem identificação”.
A
porta-voz da polícia queniana, Resila Onyango, não respondeu às perguntas da
AFP sobre estas acusações.
O
projeto de orçamento deve ser votado no parlamento antes do final do ano
financeiro, a 30 de junho. Os manifestantes pedem que o texto seja retirado na
íntegra, denunciando a manobra do Governo que anuncia a retirada de certas
medidas fiscais, mas prevê compensá-las com outras, nomeadamente um aumento de
50% dos impostos sobre os combustíveis.
Segundo
o Governo, estes impostos são necessários para devolver ao país, altamente
endividado, uma certa margem de manobra.
O
Quénia, um país da África Oriental com uma população de cerca de 52 milhões de
habitantes, é uma potência económica na região mas vive o drama da inflação.
ANG/Lusa
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