Bangladesh/ Justiça anula 93% das quotas de emprego na origem das manifestações
Bissau, 22 Jul 24 (ANG) – Há quase uma semana que o Bangladesh conta todos os dias os seus mortos e feridos, no rescaldo da repressão a uma uma revolta sem precedentes contra a Primeira-ministra Sheikh Hasina.
O anúncio de quotas de empregos percebidas
como privilégios, levou para as ruas a juventude numa fase inicial e, em
seguida, toda a população.
O
Tribunal Supremo, a mais alta instância jurídica do país, decidiu este domingo
21 de Julho abolir 93% das quotas de emprego. Uma
medida que segundo analistas, não vai necessáriamente aliviar as tensões.
No Bangladesh, o que começou como um protesto
contra as quotas de admissão para empregos no governo, muito procurados,
desembocou esta semana nas piores violências ocorridas sob o mandato da
Primeira-ministra Sheikh Hasina, no poder há 15 anos. Segundo os manifestantes,
essas quotas beneficiam o actual governo.
Desde
terça-feira 16 de Julho, já foram registadas um pouco por todo o país as mortes
de pelo menos 151 pessoas em confrontos, incluindo vários
policias, de acordo com uma contagem feita pela AFP, com base em dados de
fontes policiais e hospitalares. Os manifestantes continuam a desafiar a
polícia, apesar da instauração de um recolher obrigatório e do encerramento das
universidades, de onde partiu o movimento.
Este domingo foi um dia decisivo pois o
Supremo Tribunal, a mais alta instância jurídica do país, julgou essas quotas
controversas e, decidiu por isso reduzí-las drásticamente, sem todavia as
abolir por completo. Aquela instância decidiu que o grosso das vagas da
função pública deveriam estar acessíveis a qualquer candidato, com base no
respectivo mérito e, sem quotas.
De acordo com o procurador-geral A.M. Amin
Uddin, “O Tribunal Supremo declarou o veredicto ilegal”, acrescentando que 5%
dos empregos da função pública continuariam reservados aos filhos de veteranos
da guerra da independência e 2%, a outras categorias. O procurador-geral
referia-se a uma decisão anterior que tinha reintroduzido as quotas.
O governo da Primeira-ministra Sheikh Hasina
havia abandonado esse sistema de quotas em 2018, mas um tribunal decidiu restabelece-lo
no mês passado, desencadeando a onda de protestos que foi reprimida pelo
governo.
Segundo analistas, essa decisão aparentemente
independente do Supremo Tribunal pode muito representar da parte da
Primeira-ministra, simultaneamente um gesto de apaziguamento e de preservação
da sua reputação. As quotas não foram por sinal inteiramente eliminadas
mas sim reduzidas, pois há que igualmente satisfazer os fiéis do seu regime que
delas tiram benefícios.
O Tribunal Supremo exortou também aos
estudantes a “regressarem às aulas” depois da violência, de acordo com
declarações de Shah Monjurul Hoque, um advogado representante de dois
estudantes, num processo visando abolir o sistema de quotas.
Em
vez de tentar responder às críticas dos manifestantes, as acções do governo
agravaram a situação
Seja como for, fica difícil saber se este
anúncio pode vir a desarmar a crise, visto haver desde segunda-feira, mortos e
palavras horríveis ditas aos manifestantes, pelo que muitos afirmam que só irão
parar caso a Primeira-ministra Sheikh Hasina se demita.
Se por um lado a questão das quotas foi a
faísca que provocou o incêndio, por outro a medida restritiva ora decidida é
vista como um simples copo de água face ao incêndio. A deriva autocrática do
regime, acusado pela oposição de fazer vergar o judiciário, as últimas eleições
realizadas sem oposição, o desespero económico da juventude: foi tudo isso que
fez com que a população saísse às ruas, em sinal de protesto.
Estando o Bangladesh na impossibilidade de proporcionar condições adequadas de emprego aos seus 170 milhões de habitantes, o sistema de quotas acaba por ser uma importante fonte ressentimentos por entre os jovens diplomados atingidos pela aguda crise económica. ANG/RFI
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