Quénia/PR
nomeia figuras da oposição no seu novo governo, depois de fortes
contestações
Bissau, 25 Jul 24 (ANG) - O
Presidente queniano William Ruto nomeou quarta-feira quatro figuras da oposição no
seio do seu "governo alargado" composto para tentar estancar a
contestação que tem abalado país desde meados do mês passado e que
resultou numa severa repressão, com um balanço de pelo menos 50 mortos.
Estas quatro personalidades, todos membros do
partido de Raila Odinga, o mais directo adversário político do
Presidente, (o Movimento Democrático Laranja, ODM), são
John Mbadi que ficou com o pelouro das Finanças, James Opiyo Wandayi,
novo ministro da Energia e Petróleo; Hassan Ali Joho, titular do
Ministério das Minas e da Economia do Mar, assim
como Wycliffe Oparanya, que foi nomeado Ministro para o
Desenvolvimento das Cooperativas e das PME.
Estas figuras estão inseridas numa lista de
dez personalidades nomeadas hoje e que vieram somar-se a mais dez outros novos
membros do novo governo de William Ruto, já submetidos à aprovação do
Parlamento.
A nomeação destes quatro apoiantes
de Raila Odinga coloca a oposição numa postura delicada, uma vez
que ainda na sexta-feira, um dos seus líderes, Musyoka Kalonzo, disse
que não participaria nem apoiaria o "governo
alargado" preconizado pelo Presidente da República.
Estas nomeações em catadupa acontecem depois
de William Ruto ter anunciado no passado dia 11 de Julho a demissão
de praticamente todo o seu governo, com excepção do seu ministro dos Negócios
Estrangeiros Musalia Mudavadi.
Metade dos 20 ministros que acabam de ser
nomeados estavam no governo anterior e só falta agora um cargo, o de ministro
da Justiça, inicialmente atribuído a Rebecca Miano, que foi
entretanto colocada na liderança do Ministério do Turismo e a Fauna.
Esta remodelação governamental veio em
resposta ao forte movimento de contestação desencadeado pelo projecto de
orçamento 2024-25 que introduzia novos impostos, que ele finalmente retirou sob
pressão da rua.
A mobilização lançada pela juventude a 18 de
Junho fora de qualquer quadro político assumiu contornos dramáticos, quando no
passado dia 25 de Junho a polícia disparou com balas reais contra a multidão. O
balanço da repressão das manifestações eleva-se a pelo menos 50 mortos e mais
de 400 feridos, de acordo com a Agência Nacional de Protecção dos Direitos
Humanos (KNCHR).
Por outro lado, jornalistas também denunciam "ameaças" e "intimidações" por
parte da polícia durante a repressão das manifestações. Ainda hoje, dezenas de
jornalistas participaram em marchas em vários pontos do país para reclamar a
protecção da polícia e que "ela pare de atirar "contra eles.
Apesar do anúncio da retirada do orçamento e
da formação de um novo governo, a situação continua delicada no
Quénia.
Centenas de manifestantes continuam a
reunir-se todas as semanas no país para exigir a demissão do Presidente que
tinha sido eleito em 2022 com a promessa de lutar contra a pobreza no seu país.
Na sequência da retirada do seu projecto de
reforma fiscal que previa 29 biliões de euros de despesas financiadas pelos
contribuintes, o Presidente queniano anunciou um aumento nos empréstimos, cerca
de 1,2 bilhão de euros, assim como uma redução das despesas públicas, na ordem
de 1,3 bilhão de euros.
A dívida pública do Quénia, motor económico da África Oriental, ascende a cerca de 71 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 70% do seu PIB.ANG/RFI
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