Clima/Alterações sugerem aumento da frequência dos “fenómenos
extremos"
RFI: Como é que se explicam estes cenários de alterações
climáticas que sugerem condições meteorológicas cada vez mais extremas?
Ângela Lourenço: O que tem vindo a acontecer, principalmente
neste último ano, é que a temperatura média da Terra tem vindo a aumentar e têm
sido ultrapassados recordes todos os meses, o que indicia já um cenário em que
a alteração do clima pode realmente estar em curso, com a informação de que nos
últimos treze meses a temperatura média do globo tem sido sempre superior aos
valores médios. São valores que estão a ser ultrapassados, principalmente a
temperatura máxima, mas também na temperatura mínima. Face a esta situação,
tudo indica que de facto, as alterações climáticas estão em curso e os cenários
associados a uma situação de alteração climática sugerem o aumento da
frequência dos fenómenos extremos. Quando digo fenómenos extremos, estou a
incluir as secas mais prolongadas, tempo quente com episódios de onda de calor
mais frequentes nos períodos de verão, mas também estou a falar de ocorrência
de precipitação forte. Por exemplo nas situações de verão podem ocorrer, em
simultâneo, haver regiões do mundo ou regiões, em particular da Europa, que
estão a passar por uma situação de onda de calor, mas outros países, ao mesmo
tempo, terem situações de precipitação forte. Estamos a falar de situações
extremas; pode ser frio, frio extremo também, isto no Inverno. Este fenómeno
extremo é um cenário previsto nas alterações climáticas incluem tanto o calor
ou a temperatura elevada, mas também as temperaturas muito baixas que podem
ocorrer e precipitação forte, nevões, ciclones tropicais. Tudo isso são de
facto condições que neste momento estão em cenário. Nalguns países já se começa
a perceber que é uma situação que já está a ocorrer e portanto, nestas
condições, é normal não só a Comissão Europeia, como também os Estados-Membros
e outros países do mundo começarem a adoptar e a preparar se, a adoptar medidas
de mitigação e preparação para essas situações.
Como é que explica estas condições extremas num espaço
geográfico tão próximo?
Isso tem a ver com as situações meteorológicas e os padrões
meteorológicos que ocorrem numa determinada situação. É óbvio que, se o tiver
condições iniciais que potenciam um fenómeno extremo e, como eu disse, o
fenómeno extremo, podemos incluir uma situação de tempo quente, mas
simultaneamente uma situação de chuva forte. Se as condições iniciais potenciam
fenómenos extremos é óbvio que, onde está previsto que ocorra precipitação,
ocorra chuva, essa chuva pode ser muito forte. Onde está previsto que ocorra
tempo quente, essas temperaturas poderão ser muito elevadas. Nós temos num
espaço vasto, por exemplo, a Europa; podemos ter situações mais a norte, por
exemplo, de passagem de superfícies frontais frias e na região mais a sul da
Europa temos o anticiclone ou regiões estabilidade que sugerem situações de
tempo mais quente. Ora, se as situações iniciais no Sul sugerem tempo quente,
no Norte sugerem uma chuva, a passagem de uma superfície frontal fria, o que
pode acontecer é, em simultâneo, nos termos a zona mais a norte da Europa, com
chuva mais intensa e a zona mais a sul com as temperaturas mais elevadas. O
fenómeno meteorológico no fundo, inicialmente teria previsto, fica
potenciado para ser mais gravoso.
Não esquecer também que estes padrões de que fala, os padrões
meteorológicos variam de ano para ano?
Exacto. Estes padrões meteorológicos todos nós já passámos por
qualquer estação do ano e reconhecemos e identificamos este inverno este ano é
mais ameno ou este inverno, este ano mais frio ou este verão é mais húmido ou o
verão é mais quente e seco. Todos os anos vamos tendo variações nos padrões
meteorológicos que dão origem a um estado do tempo que vai realmente
variando de ano para ano. O que acontece é que muitas vezes temos situações
que, não sendo necessariamente extremas são situações que fazem parte da
variabilidade climática, ou seja, nem todos os anos são iguais. O que nos ajuda
a perceber é que a definição de clima vai englobar todas estas estações do ano;
verão ou inverno, primavera, etc. Vai englobar e vai se fazer uma estatística,
obtendo uma média. Normalmente em meteorologia estas medidas são de 30 anos, o
que significa que depois à medida que vai avançando na estação do ano, vamos
comparando com a média. E, claro, ela será sempre um bocadinho mais quente que
o normal ou um bocadinho mais frio que o normal ou muito próximo do normal. Mas
de facto, todos os anos temos estações do ano que são ligeiramente diferentes.
O que pode acontecer no futuro. É de facto haver aqui padrões meteorológicos
que se podem tornar mais frequentes ou fazer com que, quando nós juntarmos
vários anos em conjunto para obter uma nova média, vamos obter um padrão
climático diferente.
Há um aspecto também que tem que ver com a nossa memória ser
mais curta?
É verdade porque o ser humano tem limitações de memória e é normal.
Muitas vezes já não nos lembramos de quando tínhamos cinco anos ou quando
tínhamos dez anos. Como é que tinha sido o outono desse ano, a não ser que
tenhamos vivido um episódio particular, mas normalmente vamos esquecendo. O que
acontece é que é preciso perceber quão anómalo um determinado ano ou uma
determinada estação do ano, seja verão, inverno, primavera, etc. Quão enorme é
o afastamento e, portanto, quão diferente ele é da média, porque, de facto,
perdemos essa memória e essa memória já não acompanha isso tudo e só nos
lembramos, se calhar, dos anos mais recentes e portanto, temos dificuldade em
perceber se de facto, há 20 anos atrás ou há 25 anos atrás, se houve um verão
semelhante ou não houve um verão semelhante.
Estamos a poucos dias do início dos Jogos Olímpicos de Paris. Os
organizadores estão preocupados com a segurança dos atletas e do público devido
às temperaturas que podem atingir níveis muito altos. Quais é que são as
medidas de precaução que podem tomar?
Em relação aos atletas e óbvio que são atletas muito especiais, são atletas de alta competição e, portanto, têm medidas muito específicas. E para cada modalidade, com certeza que existirão medidas de protecção que ainda assim são diferentes. E eu creio que as medidas de protecção são na realidade genéricas para todos os cidadãos. Todas aquelas medidas que preservam a hidratação: hidratar se as pessoas beberem bastante água e estarem à sombra nas horas mais críticas do dia. Não só preservando essa hidratação, mas também a preservar a questão das cautelas das queimaduras solares. Isto são situações que se aplicam a toda a gente, inclusivamente para os atletas, embora, como eu disse, atletas de alta competição depois têm aspectos muito particulares e cada um a ter as suas medidas mais específicas. De facto a hidratação e procurar locais de sombra ou zonas mais frescas, que pode ser inclusivamente no interior de edifícios, como seja, por exemplo, os centros comerciais. Estes são os aspectos mais significativos: procurar a sombra no período do dia mais quente e procurar estar sempre hidratado.ANG/RFI
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