Uso de
antirretrovirais reduz em um terço mortes por Aids desde 2010
Bissau, 17 jul 19 (ANG) - O número de vítimas da Aids diminuiu
no mundo graças a um maior número de portadores do vírus HIV que utilizam o
tratamento com antirretrovirais.
Segundo relatório anual da Unaids (Programa Conjunto das Nações
Unidas sobre HIV/Aids), divulgado terça-feira (16), 770.000 pessoas morreram de
doenças relacionadas ao HIV em 2018, cerca de 30 mil a menos que em 2017.
O Brasil registrou, no entanto, um aumento de 21% de novos casos
da doença.
Mais de três a cada cinco soropositivos recenseados no mundo
seguem o tratamento com antirretrovirais, o que representa 23,3 milhões de
pessoas. Esta proporção é inédita e cerca de dez vezes maior do que nos anos
2000. Quando adotada corretamente, essa terapia reduz a transmissão do vírus
HIV. De acordo com o estudo da Unaids, o número de novas infecções pelo HIV
permaneceu estável em relação aos anos precedentes: foram 1,7 milhão de novas
contaminações no mundo em 2018.
Esses números globais escondem, no entanto, fortes disparidades
regionais. O notável declínio no número de mortes e melhor acesso ao tratamento
pode ser explicado pelo progresso significativo feito no sul e leste da África,
o continente historicamente mais afetado pela Aids. Essas duas regiões
africanas concentram a metade da população mundial afetada pelo vírus.
Em outras partes do mundo, alguns indicadores são preocupantes.
O Brasil, por exemplo, vai na direção oposta da média mundial e registrou,
entre 2010 e 2018, um aumento de 21% no número de novos casos de Aids (contra
queda de 16% na média mundial). A progressão no Brasil ainda fez com que a
América Latina registrasse, em média, um crescimento de 7% de novos casos de
Aids na região no intervalo de oito anos.
Países menores da região tiveram queda acentuada de novos casos,
como em El Salvador (-48%), Nicaragua (-29%), Colômbia (-22%) ou Equador
(-12%). Apenas Chile e Bolívia tiveram resultados mais preocupantes que o
Brasil na América Latina e, ainda assim, por uma margem mínima.
Na Europa de Leste e na Ásia Central, o número de novas
infecções aumentou 29% desde 2010, e o número de mortes provocadas pela doença
cresceu 5%. No Oriente Médio e norte da África, as mortes relacionadas à doença
aumentaram 9% nos últimos oito anos.
A Unaids está preocupada com a queda no financiamento dos
programas de prevenção. Em 2018, US$ 19 bilhões foram gastos em programas de
combate à doença implementados em países de baixa e média renda. A quantia
representa US$ 1 bilhão a menos do que em 2017 e US$ 7 bilhões a menos do que o
montante considerado necessário para 2020 (US$ 26,2 bilhões).
A Unaids considera que a luta contra a Aids não está progredindo
em ritmo suficiente. A redução dos investimentos na guerra contra a doença é
vista como um fracasso coletivo. Todas as fontes de financiamento recuaram,
sejam as contribuições internacionais dos Estados, os recursos que cada país
empenha ou as doações do setor privado.
Diante desse quadro, a conferência destinada ao financiamento do
Fundo Mundial contra a Aids, prevista para 10 de outubro em Lyon, na França, é
considerada fundamental pelos atores do setor. A ONU pretende arrecadar US$ 14
bilhões para o período 2020-2022, com o objetivo de alimentar o Fundo, criado
em parceria com Estados, organizações da sociedade civil, contribuintes
privados e doentes. Os principais doadores são Estados Unidos, França, Reino
Unido, Alemanha e Japão.
Todos esses obstáculos comprometem a meta fixada pela ONU para
2020: ter 90% dos portadores do HIV diagnosticados, sob tratamento com
antirretrovirais e, por consequência, com uma carga viral indetectável no
sangue. Em 2018, a proporção dessas três metas no universo de pessoas
contaminadas era de 79%, 78% e 86%.ANG/RFI
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