Sociedade/“Mais de 50 por
cento de mulheres continuam a ser vítimas de excisão”, diz a presidente do
CNAPN
Bissau,
12 Jul 24(ANG) - A Presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas
Nefastas à Saúde da Mulher e Criança (CNAPN) afirmou que mais de 50 por cento
das mulheres de idade compreendida entre 15 e 49 anos, continuam a ser vítimas
da excisão.
Aquela
responsável assegurou que a Polícia Judiciária (PJ) é uma parceira fiel, assim
como o Ministério do Interior, através da Guarda Nacional (GN) e da Polícia de
Ordem Pública (POP), pelo que tem havido uma colaboração muito pontual em
diferentes zonas do país.
Djaló
Condé lembrou que existe uma lei, conhecida como Lei 14, que prevê penas de
prisão que variam entre um a cinco anos para as pessoas condenadas à prática de
mutilação genital feminina (MGF), e também para aquelas que levam as meninas às
“fanatecas”. A referida norma foi aprovada pelo parlamento, e promulgada em 5 de Julho de 2011, pelo
falecido Presidente da República, Malam Bacai Sanhá.
A
presidente do CNAPN afirmou que, mesmo com essa lei, a prática da excisão feminina
continua a registar-se no país de forma clandestina. Lembrou do último caso que
envolveu uma menina de nome Binta, de
seis anos de idade, que foi infibulada e teve graves problemas de saúde.
Sobre
esse caso, a presidente do CNAPN disse que a organização que dirige diligenciou
bastante para a evacuação desse menor para Portugal, no sentido de receber um
tratamento médico mais especializado.
Por outro
lado, aquela responsável alerta à sociedade guineense de que a problemática da
mutilação genital feminina interpela à cada cidadão, independentemente das
crenças religiosas ou da cultura étnica, pelo que é preciso encarar esse mal como um problema
social e uma ameaça à saúde pública.
Marliatu
Djaló Condé revelou que os indicadores apontam que a zona de maior prevalência
da excisão feminina é a Região de Gabu,
com cerca de 97 por cento, seguida de Bafatá, Oio, Quinará, também com índices
elevados.
Questionada
o que é que o CNAPN tem estado a fazer para pôr fim a essa prática que agora se
faz de forma clandestina, Condé disse que o Comité está a trabalhar mais na
questão da prevenção, um método, segundo ela, mais importante e eficaz para a
organização, sensibilizar os pais e encarregados de educação para abandorem a prática, ao invés de descobrir
e julgar os casos de pessoas excisadas.
Acrescentou
que o CNAPN tem estado a desenvolver campanhas de sensibilização, denominadas
“Diálogos Comunitários”, que é a base do trabalho, através de sessões de
“Djumbai” a nível das tabancas, em todo o território nacional. Igualmente,
desenvolver ações de consciencializações, com diferentes atores, desde líderes
tradicionais e religiosos (imames e professores corânicos), chefes das
tabancas, régulos, entre outros.
A
presidente do CNAPN afirmou que as organizações internacionais na Guiné-Bissau,
como o Unicef e outras, na qualidade de parceiros na luta contra as prática
nefasta, têm estado a dar um grande apoio.
Condé lamentou o facto de a sua organização
ser uma instituição pública mas que não beneficia de nenhum fundo no quadro do
Orçamento Geral do Estado. “Nós financiamos algumas ações, através de apoio dos
parceiros internacionais de desenvolvimento”, disse.
Acrescentou
que há mais de 10 anos que o CNAPN tem estabelecido uma parceria com o programa conjunto do Sistema das Nações
Unidas, através do Unicef e FNUAP, na
luta contra a MGF e outras práticas tradicionais nefastas.
Por outro
lado, afirmou que, recentemente, a organização que dirige beneficiou do apoio
da União Europeia, um gesto que qualificou de inédito e histórico”, para
implementação das ações que visam acabar com a mutilação genital feminina.
Entretanto,
Marliatu Djaló Condé disse que o CNAPN está a trabalhar com o Banco Mundial
desde 2022 e essa instituição têm dado apoio direto às ações de diálogos
comunitários, nomeadamente nas zonas de Farim.
Acrescenta
que a Plan Internacional tem
desenvolvido projetos transfronteiriços, com a colaboração do Comité, nessa
zona, em assuntos da mutilação genital.
No seu entender,
esse não é um fenómeno exclusivamente da Guiné-Bissau, mas sim, um problema
mundial, na qual todos têm que se empenhar para a sua eliminação.
A maior
parte da população, as autoridades e organizações da sociedade civil guineenses
concorda que a mutilação
genital feminina é um mal, o que fez com que, em 2011, uma lei
contra a prática fosse aprovada pela Assembleia Nacional Popular, conhecida
como lei 14, de 5 de julho. Apesar de entrada em vigor do documento, há ainda
resistências por parte dos praticantes.
No
passado, antes da existência da lei, a prática era feita de forma aberta, que
até chegava a juntar, numa ‘barraca’, mais de 100 crianças.
De acordo
com alguns especialistas na matéria, a mutilação genital feminina refere-se aos
procedimentos que envolvem a remoção parcial ou total dos órgãos genitais
externos femininos ou qualquer outra lesão nos órgãos genitais das mulheres sem
justificação médica.
Tradicionalmente,
a excisão é feita com uma lâmina e sem qualquer anestesia. Apesar de ser
reconhecida como uma violação dos direitos humanos, cerca de 68 milhões de
raparigas correm o risco de sofrer mutilação genital até 2030.
A
mutilação genital feminina concentra-se principalmente em 30 países na África e
no Médio Oriente, mas também é praticada em alguns países asiáticos e da
América Latina e ainda entre comunidades que provêm destas regiões.
É
maioritariamente exercida em raparigas, entre a infância e os 15 anos de idade.ANG/Nô Pintcha
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