"Interesses Politicos” ditaram Aquivamento de Caso “Nino” Vieira
Bissau,03 Jan 18 (ANG) - O analista político Suleimane
Cassama questiona a decisão do Ministério Público da Guiné-Bissau de mandar
arquivar as investigações sobre a morte do ex-Presidente guineense
"Nino" Vieira, e fala em "falta de vontade".
“Normalmente, os crimes públicos não prescrevem,
muito menos havendo vontade do Ministério Público em avançar com as
investigações”, foi esta a reação do analista à decisão do Ministério Público
da Guiné-Bissau, que por ordem do Tribunal Constitucional vai mandar arquivar o processo de investigações sobre o
assassinato, a 2 de março de 2009, do ex-Presidente "Nino" Vieira e
do ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagmé Na Waié.
O anúncio disso foi feito dia 28 de Dezembro findo pelo
procurador-geral da República, Bacari Biai.
Suleimane Cassama diz que o Ministério Público da
Guiné-Bissau nunca se posicionou de forma clara sobre as investigações.
"Surpreende-nos que o procurador-geral venha dizer que baseia a sua
posição no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça. Um acórdão que, simplesmente,
retira ao Ministério Público algumas competências e que o próprio Ministério
Público não reconhece", sublinha.
Em entrevista à DW África, o analista político
salienta ainda que a retirada de competências ao Ministério Público não é
motivo para este arquivar o processo definitivamente.
Para Suleimane Cassama, por trás da decisão
de mandar arquivar as investigações existem "interesses políticos e
financeiros". "Estamos a falar de crimes de sangue de pessoas com
cargos públicos, nomeadamente o Presidente da República e o chefe de Estado
Maior General das Forças Armadas. Portanto, aqui há interesses. No meu
entendimento, alguns interesses políticos e até de origem inconfessável, até
pode ser financeiro", afirma.
O analista sublinha que a morte de "Nino"
Vieira e de Tagmé Na Waié deve ser esclarecida e que não se pode tomar decisões
sem conhecer os autores dos crimes.
Para o especialista, a saída para o problema
deveria passar por uma discussão na Assembleia Nacional Popular, mas num
"contexto político normal" no país, que vive atualmente uma crise
política profunda.
Suleimane Cassama questiona ainda por que motivo
foram escolhidos estes dois processos, sabendo que existem muitos outros casos
de crimes de sangue.
"Há processos que estão lá. Porque é que o
procurador vai precisamente selecionar [estes casos]? Que nos traga uma
interpretação que diga isso. Porque é que ele, do mesmo modo, não encerra
outros crimes de sangue? Portanto, não se consegue compreender o porquê de
posicionar-se exatamente nesta situação, com base num acórdão que não diz nada
sobre o assunto. Isso é no mínimo incompreensível", questiona.
O procurador-geral da República, Bacari Biai,
responde às críticas, afirmando que não foi ele quem selecionou os processos,
cujas investigações deverão ser suspensas. "Eu não escolhi! Isso não
levanta a questão de que eu escolhi aleatoriamente estes crimes, não é nada
disso", reagiu.
Em entrevista à DW África, o procurador-geral disse
ainda que não concorda com a diretriz do Tribunal Constitucional, porque acha
que vai prejudicar as investigações.
Bacari Biai afirmou aos jornalistas que o processo
deve ser arquivado, porque o Tribunal Constitucional manda que seis meses
depois do início de qualquer averiguação em curso no Ministério Público ou há
uma acusação ou o processo é arquivado.
O procurador explicou que a investigação da morte
de "Nino" Vieira não avançou por não ter sido possível ouvir a versão
de Isabel Vieira, esposa do falecido Presidente, na qualidade de testemunha
ocular do assassínio do marido.
ANG/Dw
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