Covid-19/África com segunda vaga mais severa e subida de 30% nos casos diários
Bissau, 25 Mar 21 (ANG) – A segunda vaga de covid-1
9 em África
foi mais severa, revela um estudo, que aponta o relaxamento das medidas de
saúde pública e as novas variantes como causas prováveis de um aumento médio
diário de 30% de infecções.
De acordo com a análise,
publicada pela revista científica The Lancet, houve cerca de 30% mais infecções
diárias durante a fase ascendente da segunda vaga em África, durante os meses
finais de 2020, em comparação com o pico da primeira, registado em meados de
Julho.
O estudo, que abrange o
período entre 14 de Fevereiro e 31 de Dezembro de 2020, é apresentado como a
“primeira avaliação aprofundada à natureza da pandemia” nos 55 Estados-membros
da União Africana (UA), que somam mais de 1,3 mil milhões de pessoas.
De acordo com os
autores, as “respostas iniciais rápidas e coordenadas” à pandemia contribuíram
para limitar a severidade da primeira vaga, no entanto, o afrouxamento e a
menor adesão às medidas de saúde pública e sociais, que se seguiram,
“contribuíram para os maiores impactos observados durante a segunda vaga”.
“O surto de casos
durante a segunda vaga é também susceptível de ter sido parcialmente
impulsionado pelo aparecimento das variantes covid-19, algumas das quais mais
transmissíveis do que a estirpe original”, aponta o estudo, ressalvando, no
entanto, não ter sido possível avaliar os seus efeitos.
Os autores analisaram os
casos de covid-19, mortes, recuperações e testes realizados em todos os 55
Estados-membros da UA, utilizando dados recolhidos pelo Centro Africano de
Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), bem como as medidas de saúde
pública e as restrições adoptadas pelos países no combate à pandemia.
Até 31 de Dezembro de
2020, África tinha reportado 2.763.421 casos de covid-19, cerca de 3% do total
global, e 65.602 mortes.
Durante o primeiro pico
da pandemia, foram reportados em média 18.273 novos casos por dia, valor que
subiu para 23.790 casos diários no final de Dezembro de 2020, quando 36 países
enfrentavam uma segunda vaga de infecções.
A análise das medidas de
saúde pública em vigor no mesmo período confirmou que os países agiram muito
rapidamente numa primeira fase, o que parece ter retardado o progresso da
pandemia no continente.
Entre 50 países, 36
(72%) implementaram as primeiras medidas de controlo rigoroso aproximadamente
15 dias antes de comunicarem o primeiro caso, e em meados de Abril, quase todos
os países (96%, 48 países), tinham pelo menos cinco medidas de saúde pública
rigorosas em vigor.
No entanto, quando
confrontados com uma segunda vaga, no final do ano, muitos países não aplicaram
tão fortemente as mesmas medidas, refere o estudo.
Dos 38 países que
enfrentavam uma segunda vaga e adoptaram restrições, quase metade (45%, 17
países) tinha menos medidas em vigor durante a segunda vaga.
Embora a análise indique
que a África, como um todo, não reportou tantos casos e mortes associadas à
covid-19 como outras partes do mundo, o estudo revela variações consideráveis
em todo o continente.
Apenas nove países
contabilizaram a maioria dos casos (83%) e mais de três quartos das mortes
(78%) ocorreram em cinco: África do Sul, Egipto, Marrocos, Tunísia e Argélia.
As maiores incidências
de casos por 100.000 habitantes foram registadas em Cabo Verde (1.973), África
do Sul (1.819), Líbia (1.526), Marrocos (1.200), e Tunísia (1.191).
Dos 53 países que relataram
mais de 100 casos de covid-19, um terço (34%) tinha uma proporção de mortes em
comparação com o total de casos mais elevada do que a média global de 2,2%.
A nível regional, a
África Austral foi responsável por cerca de metade dos casos (43%) e das mortes
(46%).
O Norte de África foi
também fortemente afectado, com mais de um terço de todos os casos (34%) e
mortes (37%) ocorridos na região.
A África Oriental foi
responsável por 12% dos casos e 9% das mortes, com 9% dos casos e 5% das mortes
a registarem-se na África Ocidental e 3% dos casos e 2% das mortes na África
Central.
No final de Março de
2020, a maioria dos países (89%) tinha a capacidade de realizar testes PCR à
covid-19 e, em Julho de 2020, todos estavam em condições de o fazer.
Até 31 de Dezembro, mais
de 26 milhões de testes tinham sido realizados, no entanto, a análise indica
que muitos países não conseguiram satisfazer a procura de testes durante os
períodos de pico da pandemia.
Mais de dois terços dos
países (70%) tinham capacidade de teste suficiente quando a primeira vaga
começou, mas apenas um quarto (26%) conseguiu satisfazer a procura de testes no
pico.
No pico da segunda vaga,
apenas um terço dos países (36%) podia satisfazer a procura de testes.
“As nossas conclusões
indicam que vários factores conduziram provavelmente à segunda maior vaga de
casos covid-19 em África. A par de relatos de que a adesão a medidas de saúde
pública – tais como o uso de máscaras e o distanciamento físico – diminuiu,
destaca-se a importância de uma monitorização e análise contínuas,
particularmente à luz do aparecimento de novas variantes mais transmissíveis”,
disse o director do África CDC e um dos coautores do estudo, John Nkengasong.
Estimando que os países
africanos venham a enfrentar novas vagas de infecções pelo novo coronavírus, os
resultados do estudo realçam a necessidade de monitorização e análise contínuas
dos dados para ajudar os países a equilibrar o controlo da transmissão com as
economias.
“Estes conhecimentos
revelam também a necessidade de melhorar a capacidade de teste e revigorar as
campanhas de saúde pública, para voltar a sublinhar a importância de se
respeitarem as medidas que visam atingir um bom equilíbrio entre o controlo da
propagação da COVID-19 e a sustentação das economias e dos meios de
subsistência das pessoas”, sublinhou Nkengasong.
Os autores reconhecem
algumas limitações ao seu estudo, considerando que como a análise foi concluída
a 31 de Dezembro de 2020, não foi possível avaliar os efeitos das novas
variantes do vírus, incluindo a variante sul-africana B.1.351.
Por outro lado,
assinalam a escassez de dados específicos de cada caso, tais como idade, sexo
ou profissão, bem como o facto de nem todos os países comunicarem os dados de
casos e testes diariamente, entre outras limitações.
Os dados mais recentes
indicam que África totaliza 110.524 vítimas mortais desde o início da pandemia
e 4.148.866 de casos de covid-19, além de 3.705.369 doentes recuperados. ANG/Inforpress/Lusa
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