Moçambique/Agências humanitárias sem dinheiro nem ‘stocks’ para acudir a Cabo Delgado
Os doadores ainda só
cobriram 10% do apelo de 254,4 milhões de dólares (216,31 milhões de euros)
feito em Dezembro para apoiar Cabo Delgado, numa altura em que ainda não se
contava com o agravamento decorrente do ataque a Palma, referiu fonte oficial.
O ataque de dia 24
aconteceu ao lado do maior investimento privado em África da ordem dos 20 mil
milhões de euros, liderado pela petrolífera Total, para exploração de gás, uma
das principais riquezas naturais da região norte de Moçambique.
A situação é crítica,
acrescentou à Lusa outra fonte humanitária no terreno: nalguns casos, os itens
à disposição da assistência humanitária satisfazem 30% das necessidades
identificadas.
Algumas comunidades
deslocadas já nem aceitam receber equipas técnicas para realização de
levantamentos caso não levem comida, disse uma pessoa envolvida nas operações.
“Se não tem comida, não
vale a pena”, disse.
A fome grassa junto dos
700 mil deslocados do norte de Moçambique, cerca de metade crianças (sem contar
com o impacto do ataque a Palma), que chegam a ficar vários dias sem comer ou
recorrem a plantas silvestres – esta é também a época baixa da produção
agrícola, que só deverá ter novas colheitas a partir de Abril e Maio.
No terreno, quem presta
ajuda humanitária pede um reforço de ‘stocks’ que, para já, não se sabe de onde
virá, alertando em especial para o impacto da desnutrição infantil, que terá
reflexos por muitos anos.
Além de comida (o kit
habitual inclui arroz, milho ou feijão e óleo), faltam os itens não alimentares
(roupa, abrigo e utensílios básicos para cozinhar) e medicamentos.
Antibióticos fazem parte
de qualquer lista de necessidades, além de antidiarreicos (baseados em zinco) e
antimaláricos, específicos para Cabo Delgado onde a cólera está sempre à
espreita e a malária está entre as principais causas de morte.
“O que está em armazém
não chega”, disse a fonte ligada à ONU, temendo o impacto acrescido dos
deslocados pelo ataque a Palma.
Em declarações feitas à
Lusa 20 dias antes do ataque a Palma, a coordenadora residente das Nações
Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, classificou como “muito grave” a falta de
recursos financeiros para acudir à crise humanitária, reflexo do impacto da
covid-19 nos principais países doadores.
“O problema dos recursos
financeiros é muito grave”, referiu.
Aquela responsável chega
hoje a Pemba para acompanhar a situação juntamente com as autoridades
moçambicanas.
Dezenas de civis foram
mortos pelo grupo armado que atacou a vila na quarta-feira, segundo o
Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a
provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil
mortes.
O movimento terrorista
Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto
à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas acções já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora existam relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.ANG/Inforpress/Lusa
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