Alterações climáticas/comunidade internacional analisa relatório sobre clima após série de catástrofes
Bissau, 27 Jul 21 (ANG) - Representantes de 195 países começaram a
examinar segunda-feira,em Paris, as novas previsões dos especialistas sobre o
clima da ONU, um relatório de referência "crucial para o sucesso" da
conferência sobre o tema, a COP26, em Novembro.
Sete anos depois do
último relatório dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a actual avaliação será divulgada após
as chuvas devastadoras na China e na Alemanha, além das temperaturas sufocantes
no Canadá.
"As últimas
seis semanas nos apresentaram uma série de acontecimentos devastadores, calor,
inundações, incêndios, secas e mais (...) Há vários anos alertamos que era
possível, que tudo isto aconteceria", afirmou a secretária executiva da
Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Patricia Espinosa.
Para Petteri Taalas,
secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), "o relatório
que vão concluir será muito importante no mundo inteiro (...) Este informe de
avaliação é crucial para o êxito da conferência sobre o clima de Glasgow (Escócia),
em Novembro".
A menos de 100 dias
da COP26, Espinosa alertou que não "estamos no caminho certo para
respeitar a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a +1,5ºC
até o final do século".
"Na verdade,
estamos no caminho oposto, caminhamos para mais de +3ºC. Temos que mudar de
rumo com urgência, antes que seja tarde demais", insistiu.
Apesar das imagens
chocantes dos desastres naturais, alguns temem que esse interesse pelo clima
seja apenas passageiro e que a cimeira de Novembro não termine em acordos
significativos.
"Neste momento,
todos estão a falar sobre uma emergência climática e com bons motivos. Mas,
quando essas tragédias acabarem, provavelmente iremos esquecer novamente e
continuar como antes", lamentou a activista Greta Thunberg, que mobilizou
milhões de jovens nos últimos anos por uma redução drástica nas emissões de
gases de efeito estufa por parte dos governos.
O relatório do IPCC,
que deve ser publicado a 09 de Agosto e cujas conclusões para os líderes
políticos serão cuidadosamente negociadas ao longo de duas semanas, deve
actualizar a avaliação e suas previsões climáticas sobre o aumento das
temperaturas, níveis do oceano, intensificação de eventos extremos, entre
outros tópicos.
Além disso, outras
duas partes serão publicadas no início de 2022, incluindo uma que mostra como a
Terra mudará em 30 anos, ou mesmo antes, e da qual a AFP obteve uma versão
preliminar.
Mas esta ferramenta
será lançada após a COP26.
Com a assinatura do
Acordo de Paris em 2015, quase todos os países do planeta se comprometeram a
reduzir suas emissões de CO2 para limitar o aquecimento global "bem
abaixo" de +2ºC em comparação com a era pré-industrial e, se possível,
+1,5°C.
Essa meta de +1,5ºC
se tornou uma prioridade para muitos activistas e autoridades políticas,
especialmente quando o planeta ganhou aproximadamente 1,1°C desde a Revolução
Industrial. Cada décimo adicional conta, porque traz fenómenos extremos.
Mas isso pode ser
alcançado? Essa é uma das perguntas que o relatório do IPCC terá de responder,
com base em milhares de estudos científicos.
Alguns duvidam de
que seja possível. Outros, na tentativa de evitar o desânimo, dizem que não é
impossível.
"Limitar o
aquecimento a +1,5ºC ainda é física, técnica e economicamente possível. Mas não
por muito tempo, se continuarmos a agir pouco e tarde", estima Kaisa
Kosonen, da ONG Greenpeace.
"O IPCC nos
disse qual deve ser a ambição: que cada país do mundo se comprometa com a
neutralidade de carbono e detalhe o plano para alcançá-la", insistiu hoje
a vice-directora executiva de Meio Ambiente das Nações Unidas, Joyce Msuya.
Para atingir essa
meta, as emissões devem ser reduzidas em 7,6%, em média, a cada ano entre 2020
e 2030, segundo a ONU. Em 2020, este registro caiu, devido à pandemia, mas a
expectativa é que volte a aumentar.
Diante das poucas
medidas planeadas para impulsionar a energia limpa, a Agência Internacional de
Energia (AIE) prevê, inclusive, emissões recordes para 2023.
"Mas, se não conseguirmos, alcançar 1,6ºC é melhor que 1,7ºC, e 1,7 ºC é melhor que 1,8ºC", diz o climatologista Robert Vautard, um dos autores do IPCC.ANG/Angop
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