CPLP/”Angola vai apostar na vertente económica porque “faz falta na comunidade”, diz Teté António
Bissau, 16 Jul
21 (ANG) - Luanda é palco da XIII Conferência de
Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), no dia 17 de Julho, quando a organização comemora 25 anos.
Esta é a primeira cimeira da CPLP depois
do início da pande
mia de covid-19 e tem como lema “Construir e Fortalecer um
Futuro Comum e Sustentável”.
Ao longo desta semana, também na capital
angolana, decorrem a reunião dos pontos focais da cooperação, encontros do
Comité de Concertação Permanente e eventos em torno da Segurança Alimentar e da
cooperação económica e empresarial. Na sexta-feira, 16 de Julho, é a vez da
reunião do Conselho de Ministros da CPLP.
Angola vai assumir a presidência rotativa
da comunidade e, em entrevista à RFI, o ministro das Relações Exteriores de
Angola, Téte António, disse que “a maior contribuição da presidência angolana”
vai ser “a introdução do pilar económico e empresarial” porque “a vertente
económica faz falta na CPLP”.
A
implementação do acordo de mobilidade é outro dos principais desafios da
presidência angolana.
Téte António destacou, ainda, que há uma
“avalanche de Estados que querem ser observadores associados” e reiterou que
Angola “não questiona a permanência da Guiné Equatorial” na “família” da CPLP,
apesar de Malabo ainda não ter cumprido com a promessa de abolição da pena de
morte.
RFI: Quais são as prioridades da
presidência rotativa angolana da CPLP?
Téte Antonio, Ministro das Relações
Exteriores de Angola: Toda e qualquer presidência primeiro tem de ser uma
presidência de continuidade. Continuidade significa levar a cabo os projectos
já existentes na organização e, com certeza, cada presidência também é chamada
a dar a sua pequena contribuição.
Qual vai ser a contribuição de Angola?
No caso de Angola, a maior contribuição da
presidência angolana é a introdução do IV pilar nos objectivos da CPLP,
portanto, é o pilar económico e empresarial. Estamos a agir no espírito da
vissão estratégica da CPLP 2016-2026 que foi adoptada em Brasília. Portanto, é
na base desta visão que nós pensamos que devíamos introduzir o IV pilar que é o
pilar económico e empresarial.
Que tipo de projectos há em manga?
Já a partir desta cimeira, nós vamos ter
um fórum económico, portanto, já estamos a pôr em prática o que nós defendemos.
A partir daí, vamos promover a cooperação empresarial que é bastante importante
porque pensamos que a vertente económica faz falta na CPLP. A vertente
económica é bastante importante, nós podemos falar de tudo mas se nós não
fortalecermos as nossas economias, teremos sempre soluções incompletas.
Vamos continuar o trabalho já iniciado por
Cabo Verde que é a questão da mobilidade. O acordo vai ser assinado aqui em
Luanda. Claro que nós não podemos ter uma mobilidade sustentada se não tivermos
a vertente económica a funcionar.
Há vozes da sociedade civil a dizerem que
é um acordo classista ou limitado. Como é que vai ser este acordo e não vai ser
uma dor de cabeça implementá-lo?
É sempre um passo, é sempre um passo.
Penso que, se olhar para o mundo, mesmo naquelas regiões onde a integração
económica já é um facto, a mobilidade levou o seu tempo para ser uma
realidade. Portanto, é preciso acreditar e iniciar essa longa viagem. Penso que
esse objectivo nós temos de fazer com que um dia seja uma realidade. Há sempre
um passo que é preciso marcar que é este aqui, é um passo que vai ser marcado
em Luanda e trabalharemos todos para que o grande desafio, a implementação,
seja uma implementação efectiva.
Pode revelar-nos alguns aspetos desta
mobilidade?
Como sabe, mesmo os acordos de facilitação
de vistos – estou a falar dos acordos clássicos que existem entre os países –
geralmente começam com uma classe, por exemplo, portadores de passaporte
diplomático, de serviços ou ainda classe empresarial. Portanto, são esses
passos que se dão quando se assinam esse tipo de acordos. Penso que na vida
multilateral também não difere, há sempre um primeiro passo com uma categoria
de pessoas que possam beneficiar, no início, enquanto alargamos essa classe
para o resto dos cidadãos do espaço da nossa comunidade.
Em relação a outros temas
que marcam a CPLP, como é que a organização pode ser mais
proactiva na ajuda à luta contra o terrorismo em Cabo Delgado?
Eu penso que o projecto de comunicado que
está a ser preparado – não quero falar do comunicado já antes do próprio chefe
de Estado – se o adoptarem está bem claro relativamente à boa vontade e
solidariedade da CPLP para com Moçambique. Cada um de nós está a agir nas
plataformas existentes - ou do ponto de vista bilateral ou então do ponto de
vista multilateral. Eu sei que Estados-membros da CPLP individualmente
estão a trabalhar com Moçambique – aliás não é uma novidade, temos todos uma
cooperação estreita com Moçambique também neste domínio de questões de defesa.
E há o lado multilateral em que cada um de nós, na região em que está inserido,
está também a fazer o seu esforço. No caso de Angola, é no âmbito da SADC, a
Comunidade do Desenvolvimento da África Austral, que nós estamos a trabalhar
para ajudar o povo em Moçambique.
Relativamente à Guiné Equatorial, Malabo
ainda não cumpriu a promessa que fez à CPLP da abolição da pena de morte. Qual
é o sentido da permanência da Guiné Equatorial na CPLP se não cumpre
aquilo que prometeu, nomeadamente em termos de direitos humanos?
Eu penso que a Guiné veio para ficar. A
Guiné Equatorial veio para ficar. A Guiné Equatorial é um país responsável,
está consciente dos critérios que existem na organização e nós acreditamos que
o governo da Guiné Equatorial tem estado a trabalhar nesse sentido. Nós não
questionamos a permanência da Guiné Equatorial na nossa família.
E um dia a Guiné Equatorial poderá assumir
a presidência rotativa da CPLP?
Penso que os Estados-membros, em qualquer
organização, têm obrigações, deveres e direitos também. Claro que cumprindo com
os nossos deveres, os nossos direitos estão garantidos. Não há nenhum
questionamento relativamente a isto.
A CPLP cumpre 25 anos no sábado. Qual o
sentido da existência da CPLP hoje em dia? As pessoas, em geral, não percebem
muito bem o papel da CPLP...
Eu não concordo consigo ao dizer que as
pessoas não percebem bem o que é que é a CPLP. Se assim fosse não teríamos essa
avalanche de Estados que querem ser observadores associados da nossa
organização. Portanto, esta consciência existe do que é que é a CPLP. Agora, o
que é preciso talvez dizer é como fazer com que a CPLP seja também uma questão
interiorizada pelos nossos povos. Estou a falar dos habitantes do espaço da
CPLP. E não só interiorizada, mas também beneficiar deste mesmo espaço, desta
mesma comunidade. Isto sim é o trabalho que nós devemos fazer. Mas dizer que
não se entende bem o que é que é a CPLP, penso que até o mundo entendeu o que é
que é a CPLP.
Então, concretamente, qual é a vantagem
para um guineense, um angolano ou um português de pertencer à CPLP?
Temos eixos de cooperação que têm um
impacto na vida das pessoas. Estamos a falar da cooperação económica. Claro que
qualquer investimento que se faça num país, por exemplo, beneficia a população.
Muitas vezes é preciso ter muito cuidado quando queremos medir ou calcular os
ganhos da diplomacia multilateral. Nem sempre são visíveis, mas claro que há
muitos benefícios colaterais que vêm com a integração nesta comunidade.
Falou numa avalanche de Estados
interessados em serem observadores associados. Qual é a vantagem para a CPLP de
ter estes observadores e porquê este interesse em participarem? O que é que
eles vão fazer pela língua portuguesa, por exemplo?
A língua portuguesa tem-se expandido. Já
há uma consciência que é uma língua que está sendo falada no mundo inteiro.
Depois, a questão deve estar do nosso lado. O que é que nós podemos tirar desta
avalanche de observadores? É a questão que devemos colocar.
Está a falar de financiamento?
Exactamente. A cooperação com esses
países, cada um deles traz consigo uma vantagem comparativa que pode ser
benéfica para a organização e para os Estados-membros em particular. Isso expõe
os nossos países ao mundo no sentido de que também participa na visibilidade
não só da CPLP mas também dos seus Estados-membros e todas as vantagens que daí
advêm.
É a primeira cimeira depois da pandemia. A
CPLP tem respondido presente para ajudar os Estados-membros a combater esta
pandemia e, por exemplo, distribuir vacinas?
Sobre a questão das vacinas, tem havido
uma solidariedade dos Estados da CPLP e eu penso que o que é preciso é
continuar a cultivar essa solidariedade, mas também sabemos as condicionantes
que há no mundo de hoje relativamente a essa questão das vacinas. Só apelamos à
consciência de todos de que ninguém estará seguro se o mundo inteiro não for
vacinado. ANG/RFI
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