quinta-feira, 19 de maio de 2022


Dissolução do parlamento
/“País poderá enfrentar situações indesejadas com a queda do parlamento”, dizem Organizações da Sociedade Civil  

Bissau, 19 Mai 22 (ANG) - O Espaço de Concertação das Organizações de Sociedade Civil advertiu, esta quinta-feira, que o país corre o risco de enfrentar situações indesejadas com a dissolução de Assembleia Nacional Popular (ANP).

 

A informação consta no comunicado à Imprensa da referida Organização feito em reação a decisão de dissolução do parlamento por Decreto Presidencial Nº24/2022 no passado dia 16 do corrente mês.

 

“A recente medida de dissolução de ANP, com base nos argumentos políticos inconsistentes e mesquinhos, constitui mais um sinal de esforço na implantação de um regime absolutista na Guiné-Bissau e consequente, controlo de todas as instituições democráticas do país, impedindo-as de exercer as suas atribuições e competências constitucionalmente asseguradas”, refere o comunicado.

 

No documento, este fórum das organizações da sociedade civil guineense sustentou que, se antes o país atravessava um momento delicado em termos socioeconômicos, com um governo manifestamente incapaz, cujo Primeiro-ministro se contentou com o atual contexto de crise política agravada, agora com a dissolução do parlamento, a Guiné-Bissau corre o risco de enfrentar situações indesejadas. 

 

“Existem Fortes riscos de perturbação da campanha eleitoral, em consequência da instabilidade política e consequente problemas de insegurança nela atinentes, capazes de desencorajar apoios  externos para financiar o processo”, lê-se no comunicado.

 

No mesmo documento consta ainda que, a ausência de um Governo legítimo com capacidade de dialogar e estabelecer acordos com os parceiros internacionais, tendente às ajudas públicas ao desenvolvimento, bem como o provável intensificação de ações antidemocráticas de limitação do exercício do direito da oposição democrática constitucionalmente assegurados; são entre tantos outras situações que podem contribuir para piorar a situação do país.

 

Segundo o comunicado à imprensa, o verdadeiro motivo de dissolução de ANP se deve a  “recusa de se vergar perante um anteprojeto de revisão constitucional manifestamente ilegal”, que pretendia “instalar um regime  presidencialismo atípico com destaque para a consagração formal do absolutismo”.

 

 Diz-se no comunicado que isso se deve igualmente a “inédita e patriótica atuação política da ANP de denunciar o Acordo secreto ilegal e inconstitucional firmado com a República do Senegal, tendente a futura exploração do petróleo na zona conjunta com aquele país vizinho e a interpelação do Primeiro-ministro pelos deputados para esclarecer as circunstâncias da vinda de forças estrangeiras sem nenhum processo de consulta dos órgãos de soberania”.

 

O Espaço de Concertação das Organizações de Sociedade Civil exige a criação de condições materiais e financeiras com vista a realização das eleições na data marcada e responsabiliza o Presidente da República pela crise política artificial por ele criada e pelas consequências que possam advir com a decisão de dissolver o parlamento.

 

O mesmo Espaço exige ainda a criação de condições de diálogo franco e aberto entre diferentes atores políticos e sociais, com vista a escolha dos membros da Comissão Nacional das Eleições, à luz dos critérios e consensos políticos, capazes de promover a confiança na administração do processo eleitoral, entre outros.

 

No comunicado, o referido espaço considera a atitude de dissolução de parlamento de quase que autoritária e que tem minado a necessária colaboração e solidariedade institucional que deveria existir entre os diversos órgãos de soberania, pondo assim em causa os esforços de estabilização política, social e económica do país.

 

O Presidente de República apontou como razões para dissolução do parlamento: a existência de divergências persistentes e que se tornaram inultrapassáveis entre a Assembleia Nacional Popular e outros órgãos de soberania, recusa de forma sistemática o controlo das suas contas pelo Tribunal de Contas, assim como a defesa dos deputados   indiciados pela prática de crimes de corrupção, por parte de ANP.

ANG/AALS/ÂC//SG

 

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