Fome no Mundo/Banco Mundial desbloqueia financiamentos para prevenir insegurança alimentar
Bissau, 19 Mai 22 (ANG) - O Banco Mundial anunciou quarta-feira que vai desbloquear 30 mil milhões de Dólares para prevenir situações de insegurança alimentar, num contexto em que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que fornecem 30% dos cereais a nível mundial, tem provocado escassez de certos produtos e aumento de preços.
Neste sentido, o Banco Mundial esclareceu
ainda que 18 mil milhões de Dólares vão servir desde já para implementar planos
de apoio, nomeadamente no continente africano, onde as consequências do
conflito se fazem fortemente sentir ao nível da subida do custo de vida.
"O aumento dos preços dos alimentos teve efeitos devastadores
sobre os mais pobres e os mais vulneráveis" declarou
em comunicado o Presidente do Banco Mundial, David Malpass, sublinhando
que "para informar a estabilizar os mercados, é crucial que os países fassam
agora declarações claras sobre os futuros aumentos de produção, em resposta à
invasão da Ucrânia pela Rússia".
Moçambique, país muito permeável à
flutuação dos preços dos cerais e onde o mais infímo aumento do valor do pão é
problemático, tem sido um dos pontos do globo directamente afectados pela
escassez dos bens alimentícios e o aumento dos preços. Luís Muchanga,
coordenador executivo da UNAC, União Nacional dos Camponeses de Moçambique
saúda a decisão do Banco Mundial.
"Se esta ajuda está virada para apoiar as políticas públicas para
que os países tenham capacidade interna de produzir alimentos e alimenta ro seu
povo, para nós, essa é que é visão que tem que fazer sentido. Sobretudo porque
este modelo de choques internacionais acabam por testar até que nível temos uma
capacidade soberana de alimentar o nosso próprio povo. Nós temos que usar isso
como o momento para poder garantir que as políticas públicas possam ser mais
progressivas, mais eficientes e que os países consigam alimentar o seu próprio
povo", considera este responsável.
Ao dar conta da situação vivenciada pelo seu país desde que as
forças russas invadiram a Ucrânia há cerca de 3 meses, provocando uma paralisia
parcial das cadeias de fornecimento de cereais a nível mundial, Luís Muchanga
refere que "todos os indicadores apontam para um
agravamento dos preços, apontam para alguma escassez de alimentos. Só nos
últimos anos, a informação que sai dá conta de que, de facto, os preços vão
aumentar ao nível do mercado. Também o poder de compra não é tão elevado para
poder fazer face a isso. Então esse bloqueio afecta-nos directamente e esses
três meses também são o resultado disso. Mais uma vez, esta é a prova de que
precisamos de nos fortalecer internamente. Os últimos três meses têm sido um
sufoco e isto poderá agravar-se se a situação se mantiver como está",
disse.
Por conseguinte, num contexto já difícil, a recente decisão de a
Índia bloquear as suas exportações de trigo de que é o segundo produtor
mundial, muito embora o essencial da sua produção seja para consumo interno,
soa como um sinal negativo do ponto de vista do coordenador executivo da UNAC.
"Em
princípio, os países são soberanos, podem tomar as suas decisões. Mas se as
decisões começam a afectar o exterior, isto também tem de ser tido em conta.
Não me parece ser humanismo, esta atitude. Era preciso olhar para o momento e
perceber que o mundo não é homogéneo. Existem diferenças em termos de
capacidade de produção. Tem que se entender acima de tudo que a disponbilidade
do alimento é um Direito Humano. É verdade que não estamos a exigir que a Índia
assuma a responsabilidade pela nossa incapacidade de produzir internamente os
produtos, mas também não é o momento para esse país tomar uma decisão desta
natureza",
considera Luís Muchanga. ANG/RFI
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