França/”Dívida africana
é ridícula" quando comparada com países do Norte”, diz
Carlos Lopes
Bissau, 26 Jun 23 (ANG) - No rescaldo da Cimeira para um Novo Pacto Financeiro Global, que decorreu em Paris, um dos temas mais debatidos foram as dívidas soberanas dos países mais vulneráveis, com Carlos Lopes, economista guineense, que esteve na capital francesa para seguir e aconselhar este encontro de líderes mundiais, a afirmar que as dívidas africanas "são ridículas", já que são apenas uma fracção das dívidas do Norte, mas que estes países têm mesmo assim dificuldades em financiarem-se nos mercados financeiros.
Mais de 40 líderes mundiais estiveram em Paris no fim desta semana
para encontrar novas soluções para o finaciamento das economias em
desenvolvimento, com alguns resultados importantes como a dotação de 100 mil
milhões de dólares para um fundo verde e a doação dos direitos de saque do FMI
dos países mais ricos para os países mais pobres. Um dos temas discutidos foi a
dívida soberana dos países africanos que pesa nos orçamentos destes Estados,
embora a nível global, pese muito menos do que as dívidas dos países do Norte.
"Em
todos os sentidos, a dívida africana é ridícula. Se tivermos em conta o que diz
o banco responsável pela regulação mundial no sistema bancário, o Bank of
International Settlements, há um fosso criado pela dívida soberana de 800
biliões de dólares onde os 800 mil milhões de África não são nada. E, depois
para complicar as coisas, podemos olhar para a dívida em relação ao PIB e o
rácio da África é muito baixo, é de 60%, a média dos países ricos é de 120%,
portanto nós não somos os responsáveis principais pela dívida",
explicou o economista Carlos Lopes.
Carlos Lopes esteve em Paris para acompanhar esta cimeira, tendo
integrado também o grupo de 12 economistas que fizeram diversas propostas de
estímulo da economia global de forma a financiar os países mais vulneráveis,
que têm, ,tais dificuldades em apostar no desenvolvimento sustentável.Com o
aquecimento global, o esconomisa defende que África está a passar um preço mais
elevado do que a sua contribuição.
"Se
seguirmos os relatórios científicos e compararmos com os montantes e atitudes
dos diferentes países para poder dar satisfação à exigência de conter o clima e
as mudanças climáticas em várias frentes, nomeadamente da temperatura, de 1,5
graus até 2050 não estamos nem perto dessa trajectória. A ideia é saber quem
são os responsáveis. Os países africanos emitem cerca de de 3% das emissões
totais e quando vemos a contribuição do continente para a captura do carbono,
nós somos contribuintes da solução, não somos parte do problema e devíamos ser
compensados por isso", defendeu.
Neste fórum, Carlos Lopes garantiu que as vozes dos países
africanos e da América Latina se fizeram ouvir.
"Durante
esta cimeira tivemos vozes estridentes a dizer basta, não queremos mais esta
discussão. Tivemos o Presidente Lula, o Presidente Rutto do Quénia, o
Presidente Ramaphosa da África do Sul, tivemos uma série de protagonistas
africanos todos em sintonia, com a primeira-ministra dos Barbados, e, portanto,
há grandes chances de este ano podermos chegar a alguns resultados importantes",
declarou. ANG/RFI
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