Joanesburgo/Áfricado Sul diz que prender Putin na cimeira dos BRICS seria ato de guerra
Bissau, 19 Jul
23 (ANG) - O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, alertou terça-feira
que uma eventual detenção do Presidente russo, Vladimir Putin, durante a
cimeira das economias emergentes conhecidas como BRICS, em agosto, seria uma
"declaração de guerra".
"A
Rússia deixou claro que deter o seu Presidente em exercício seria uma
declaração de guerra; seria contrário à nossa Constituição arriscar-se a entrar
em guerra com a Rússia", disse Ramaphosa numa declaração que até agora era
confidencial e foi terça-feira tornada pública, contra a vontade do chefe de
Estado, por ordem de um tribunal de Gauteng, no norte do país.
Assumir
o risco de guerra com a Rússia seria "um exercício temerário,
inconstitucional e ilegal face aos poderes conferidos ao Governo", disse
ainda Ramaphosa, que acrescentou: "Tenho obrigações constitucionais de
proteger a soberania nacional, a paz e a segurança da República e de respeitar,
proteger, promover e satisfazer os direitos à vida, à segurança e à proteção do
povo da República".
De
acordo com os meios de comunicação locais, citados pela agência de notícias
EFE, esta foi a resposta presidencial a um pedido apresentado ao tribunal pela
Aliança Democrática (AD), o principal partido da oposição na África do Sul,
para conseguir uma ordem do tribunal para garantir a detenção de Putin se o
chefe de Estado russo realmente participar na cimeira dos BRICS (Brasil, China,
Rússia, Índia e África do Sul), marcada para agosto na África do Sul.
A
maior economia da África subsaariana e um tradicional aliado da Rússia está num
dilema relativamente à ida de Putin, já que, por um lado, impende sobre ele um
mandado de captura internacional por crimes contra a Humanidade no seguimento
da invasão da Ucrânia, mas por outro lado é um convidado do país organizador da
cimeira.
A
África do Sul, país que é um Estado-membro do Tribunal Penal Internacional
(TPI), vai receber a cimeira entre 22 e 24 de agosto em Joanesburgo, mas está
obrigada a colaborar com a detenção de Putin, mas Pretória ainda não tinha
revelado, até agora, como vai fazer se Putin realmente aterrar no país.
No
final de maio, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da África do Sul emitiu
uma ordem que garante imunidade diplomática a todos os russos que participem na
cimeira, abrindo assim caminho à ida de Putin.
No
entanto, o porta-voz do ministério admitiu que "estas imunidades não
anulam nenhuma ordem judicial emitida por um tribunal internacional sobre
qualquer participante na cimeira".
A
África do Sul adotou uma postura de neutralidade sobre a guerra da Rússia
contra a Ucrânia, e defendeu o diálogo e a diplomacia como meios para resolver
o conflito.
Esta
posição não está apenas vinculada ao papel estratégico, político e económico
que Moscovo tem nalguns países africanos, mas também a motivos históricos como
o apoio russo aos movimentos anticolonialistas e de libertação no século XX,
como a luta contra o regime segregacionista 'apartheid'.
Brasil, Rússia, Índia e China criaram em 2006 o acrónimo BRIC, a que se juntou a África do Sul em 2010, formando-se assim os BRICS como símbolo de economias emergentes que estavam, na altura, a crescer acima da média mundial, mas que desde então perderam fulgor. ANG/Lusa
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