Níger/ "Os militares
golpistas não têm muitas condições e poderão ter que mudar de cenário",
diz analista político Daniel Medina
Bissau,28 jul 23(ANG) - Dois dias depois do golpe de
Estado no Níger, o Presidente deposto, Mohamed Bazoum, continua detido no
palácio presidencial. O Níger, até agora aliado dos países ocidentais,
tornou-se o terceiro país da região do Sahel, depois do Mali e do Burkina Faso,
a sofrer um golpe de Estado desde 2020.
O Presidente deposto, Mohamed
Bazoum, democráticamente eleito em 2021, continua detido no palácio
presidencial e o general Abdurahamane Tchiani, chefe da guarda presidencial,
proclamou-se hoje "presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da
Pátria".
O golpe de estado foi condenado pela comunidade
internacional e regional. Para Daniel
Medina, analista político em Cabo Verde, os golpistas não
têm muitas portas de saída e terão que procurar uma forma de negociação.
[A junta golpista] não tem muitas
condições. É considerado um dos países mais pobres do mundo e se a
comunidade internacional, através dos canais diplomáticos, não apoiar esta
iniciativa militar, poderão ter que mudar de cenário e de discurso. A
própria CEDEAO e os países vizinhos estão a condenar o golpe de Estado e quando
os próprios vizinhos dizem não concordar, as coisas ficam mal colocadas para os
militares do Níger.
Daniel Medina considera que os militares vão
possivelmente "falar de negociações para que as coisas possam
alterar-se", mas admite que a tensão irá continuar.
No mesmo dia, no outro lado do mundo, em São Petersburgo
decorre a 28 de Julho o último dia da cimeira África-Rússia, onde Vladimir Putin recebe parceiros
africanos de 49 países. Segundo o
analista político Daniel Medina, a situação no Níger representa uma ocasião que
a Rússia não irá perder.
Moscovo tem um papel extremamente importante.
Estando vários representantes africanos reunidos em São Petersburgo, poderão
fazer considerações muito determinantes e assertivas, que podem alterar a
situação no Níger. E Moscovo não irá perder essa oportunidade, enquanto país
que no xadrez geoestratégico das influências em África tem sempre uma palavra a
dizer, mesmo que à distância.
Nessa mesma cimeira em São Petersburgo, Vladimir Putin
anunciou que Moscovo irá fornecer gratuitamente cereais a seis países
africanos, entre os quais o Mali e
o Burkina Faso, países que têm vindo a estreitar laços
económicos e securitários com a Rússia e a afastar-se do Ocidente. Esta decisão
surge depois da saída da Rússia do acordo de exportação dos cereais, tornando-o
caduco.
Quanto a saber se o grupo
paramilitar russo Wagner irá estender a sua presença no continente, investindo
o Níger, "nada é certo", para Daniel
Medina. O analista vê na recente rebelião do líder da Wagner, Evgueni
Prigojine, e as consequentes tensões com o Kremlin, um factor de distância,
pelo menos temporário, com novos movimentos em África: "Se o grupo
Wagner fizer alguma intervenção no Níger será uma coisa muito cautelosa, para
não colocar a Rússia em maus lençóis".
O Níger, aliado ocidental, era considerado como um
'estado-tampão', resistindo até agora às tensões no Sahel, região assolada por
ataques de grupos ligados ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda.ANG/RFI
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