Nova Iorque/ONU obrigada a cortar ajuda alimentar por falta de fundos
Bissau, 31 Jul 23 (ANG) – A ONU foi forçada a cortar alimentos, pagamentos em dinheiro e assistência a milhões de pessoas devido a “uma crise de financiamento incapacitante” e a uma queda para cerca de metade, disse um responsável.
O
director executivo adjunto do Programa Alimentar Mundial (PAM) afirmou, em
conferência de imprensa, que pelo menos 38 dos 86 países, incluindo
Afeganistão, Síria, Iémen e África Ocidental, onde o PAM opera já sofreram
cortes ou planeiam cortar a assistência em breve, numa altura em que a fome
aguda está a atingir níveis recorde.
Carl
Skau salientou que o PAM tem uma necessidade operacional de 20 mil milhões de
dólares (18,2 mil milhões de euros) para prestar ajuda a todos os necessitados,
mas o objectivo é obter entre 10 mil milhões de dólares e 14 mil milhões de
dólares (entre nove e 12,7 mil milhões de euros), montantes recebidos nos
últimos anos pela agência.
“Continuamos
a visar esse objectivo, mas este ano só atingimos metade desse valor, cerca de
cinco mil milhões de dólares” [4,5 mil milhões de euros], disse.
Skau
disse que as necessidades humanitárias dispararam em 2021 e 2022 devido à
pandemia da covid-19 e à guerra na Ucrânia, com implicações globais. “Essas
necessidades continuam a crescer, esses factores continuam a existir, mas o
financiamento está a diminuir. Por isso, esperamos que 2024 seja ainda mais
terrível”.
“A
maior crise alimentar e nutricional da história persiste actualmente”, afirmou
Skau. “Este ano, 345 milhões de pessoas continuam em situação de insegurança
alimentar aguda, enquanto centenas de milhões de pessoas correm o risco de
agravar a fome”.
O
director executivo afirmou que os conflitos e a insegurança continuam a ser os
principais factores de fome aguda em todo o mundo, juntamente com as alterações
climáticas, as catástrofes constantes, a inflação persistente dos preços dos
alimentos e o aumento da dívida, tudo isto num momento de abrandamento da
economia global.
O PAM
está a tentar diversificar a base de financiamento, mas também apelou aos
doadores tradicionais da agência para que “se aproximem e apoiem neste momento
muito difícil”.
Questionado
sobre a razão pela qual o financiamento está a diminuir, Skau disse ser preciso
perguntar aos doadores.
“Mas
é claro que os orçamentos de ajuda, os orçamentos humanitários, tanto na Europa
como nos Estados Unidos, (não) estão onde estavam em 2021-2022”, disse.
Em
Março, Skau indicou que o PAM foi forçado a cortar as rações de 75% para 50%
para as comunidades do Afeganistão que enfrentavam níveis de fome de emergência
e, em Maio, foi forçado a cortar os alimentos para oito milhões de pessoas, ou
66% daqueles que estava a ajudar. Actualmente, está a ajudar apenas cinco
milhões de pessoas.
Na
Síria, 5,5 milhões de pessoas que dependiam do PAM para obter alimentos já
estavam a receber rações de 50%, disse Skau. Em Julho, a agência cortou todas
as rações a 2,5 milhões delas.
Nos
territórios palestinianos, o PAM reduziu a assistência em dinheiro em 20% em
Maio, e em Junho e reduziu o número de casos em 60%, ou seja, 200 mil pessoas.
E no Iémen, um enorme défice de financiamento vai obrigar o PAM a cortar a
ajuda a sete milhões de pessoas, já em Agosto.
Na
África Ocidental, onde a fome aguda está a aumentar, a maior parte dos países
está a enfrentar grandes cortes nas rações, em especial as sete maiores operações
de crise do PAM: Burkina Faso, Mali, Chade, República Centro-Africana, Nigéria,
Níger e Camarões, destacou.
“Os
cortes nas rações não são claramente o caminho a seguir”, afirmou Skau.
Skau
exortou os líderes mundiais a dar prioridade ao financiamento humanitário e a
investir em soluções a longo prazo para os conflitos, a pobreza, o
desenvolvimento e outras causas profundas da actual crise. ANG/Inforpress/Lusa
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