Como Casaco despolui ambiente
Por
Salvador Gomes da Agência de Notícias da Guiné(ANG)
Bissau, 18 Set 23 (ANG) - Convencido pelo slogan
“Lixo Tene Balur”,(Lixo tem valor) e com uma carrinha, Domingos Casaco Silva,
de 48 anos de idade, sai à recolha de garrafas em bares e locais onde houve
festas. Chega a fazer 600 blocos diários a base de vidros, areia e cimento.Casaco e o seu bloco
O técnico de Construção Civil inventou duas
máquinas com as quais tortura garrafas
de vidros. Mais Casacos, mais garrafas de vidro seriam retiradas da rota de
poluição do meio ambiente na Guiné-Bissau.
Estranho, é que, nem a Câmara Municipal de
Bissau nem o Ministério do Ambiente e Biodiversidade (MAB) se mostraram
interessados em apoiar esta iniciativa
que despolui o meio ambiente .
“Mandei uma carta à Câmara pedindo que me
seja autorizado a recolher garrafas de
vidro no Vazadouro de Safim, não recebi nenhuma resposta, e pedi apoio ao MAB
não tive resposta nenhuma”, diz Domingos Casaco.
O Técnico de Construção Civil formado em
CIFAP, em Bissau, não dá sinal de quem seja atingida por essas insatisfações.
Falando para jornalistas que participavam numa formação sobre “Jornalismo de Soluções”, diz, “Esta casa foi construída com blocos aqui produzidos”. O homem apontava uma casa construída ao lado de sua oficina, no bairro de Bôr, arredores de Bissau. Banco Mundial (BM)
“Lixo tene Balur”, em português, Lixo tem valor é o nome da empresa. Há 10 anos que recolhe garrafas de vidro em bares
e sítios por onde houve festas.
O autor da insólita iniciativa com impacto no saneamento da cidade de
Bissau e na despoluição do meio ambiente, não espera pela
ajuda de terceiros para se lançar em novas aventuras de despoluição. Já fala em
aproveitar objetos de plásticos que inundam Bissau. Sacos e garrafas de
plástico, tigelas e mais outros, “para
fazer mosaicos, lancil, pavi e mais outros materiais de construção civil.
Na oficia aguardam dias de torturas
vidros de janelas e portas, e Domingos Silva diz que vai ser necessário
a invenção de uma nova máquina, porque “esses vidros são mais duros”.Zona húmida de Granja de Pessibé
. “Esses vidros são, geralmente, reforçados, são mais rijos que os de
garrafas”.
Casaco produz blocos de 15 e de 20 e diz que os vende praticamente ao mesmo preço
que os blocos tradicionais. Quer levar a iniciativa ao interior do país. “Já
visitei Bafatá e Gabu. Falei com jovens e preparei terrenos para ali se
instalar”. Vidros torturados
substituem cascalhos e tornam os blocos
mais rijos. “Mais valiosos para construções em zonas húmidas”, diz Domingos.
Garrafas poluem bolanhas, lagoas, rios e mares. Amontoam-se em frente as
habitações e nas ruas, arrastados pelas águas das chuvas, mais Casacos dariam ,
certamente, uma grande contribuição ao combate à poluição do meio ambiente.
Não há registo de iniciativas semelhantes, ou seja, que utilizam vidros
de garrafas para construção de blocos. Vários projetos de reciclagem de lixo fizeram-se
conhecer mas já deixaram de ser
empregador, e por conseguinte, já não contribuem para a diminuição do potencial
poluidor do país.
Para além da poluição do meio ambiente com sacos e garrafas de
plásticos, garrafas de vidro e vários outros objetos recicláveis, entrou na
preocupação de ambientalistas, a pressão de construções nas zonas húmidas.
Quem visitar zonas húmidas de bairros de São Paulo e Antula, certamente descobre que essas zonas, indispensáveis, não só para a agricultura mas também pela importância que representam na alimentação de lençóis freáticos, são cada vez mais comprimidas.
Armazéns e habitações proliferam, e as construções pouco importam,
inclusive, com espaços reservados a passagem da água das chuvas. Consequências:
cai murro levanta-se novo murro, cai chuva entra água em armazéns, novos
investimentos são feitos.
Muitas construções não resistiram a precariedade do terreno para essas
atividades e os donos registaram prejuízos que só eles sabem quantificar.
Zonas de prática de agricultura, mantidas durante longos anos como áreas
húmidas de Bissau deixaram de ter valor ecológico.
No bairro de Chão de Papel/Varela, atrás da antiga central elétrica e o
local onde se ergueu a sede da ONU, e agora a Lagoa de M`batonha, são apenas
alguns exemplos. O gasóleo queimado que saía das máquinas da Central Elétrica
de Bissau começaram e a lixeira fez o resto.
Tudo ficou poluído, e impróprio para agricultura e pescas, uma situação
que arrepia ambientalistas. Sem solução a vista, fica este manifesto de
consternação de Gualdino Afonso Té, perito em questões ambientais.
Avelina Delgado, a cara das horticultoras |
“Acho que existe um plano Urbanístico. As pessoas devem ter em conta de
que há zonas onde não se deve construir, tendo em conta a função ecológica
dessas zonas. Construir nessas zonas significa que estamos não só a
agredir o meio ambiente mas também a por
em causa a vidas pessoas em risco”, diz
A resistir contra essa destruição de zonas húmidas de
Bissau, a promover a segurança alimentar e ao mesmo tempo a preservar o
ambiente, estão as mulheres hortícolas da Granja de Pessubé 2. Os seus trabalhos
protegem uma das poucas zonas húmidas que Bissau ainda dispõem, mas não se denota entre essas
mães a consciência de que não estão
apenas a fazer a exploração de hortaliças.
Falam do que fazem mais como forma de sobrevivência mas os defensores do meio ambiente já dizem que a
Granja de Pessubé representa uma
inovação de produção de hortaliças, combinada com práticas agrícolas
sustentáveis e conservação da biodiversidade.
“Tudo o que produzimos aqui é para o sustento das nossas famílias,
pagamento dos estudos dos nossos filhos e para nossa alimentação”, diz Avelina
Delgado, de 54 anos de idade, 40 dos quais a plantar e regar.
São mais de 300 mulheres horticultoras que labutam diariamente na
proteção do “Bem” que outros destroem. ANG//SG
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