ONU/Invasão da Ucrânia "criou mundo de insegurança para todos", diz Guterres
Bissau, 20 Set 23 (ANG) - O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou hoje que a invasão da Ucrânia pela Rússia é "prova" de uma violação da Carta das Nações Unidas e que criou "um mundo de insegurança para todos".
No seu discurso de
abertura do debate geral da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU (UNGA 78, na
sigla em inglês), Guterres voltou a dar destaque à guerra lançada pela Rússia
na Ucrânia no momento em que sublinhava a importância do compromisso de paz
patente na Carta das Nações Unidas.
"Em vez de se
acabar com o flagelo da guerra, estamos a assistir a uma onda de conflitos,
golpes de Estado e caos. Se todos os países cumprissem as suas obrigações nos
termos da Carta, o direito à paz estaria garantido", começou por dizer.
"Quando os países
quebram esses compromissos, criam um mundo de insegurança para todos. Prova A:
A invasão da Ucrânia pela Rússia. A guerra, em violação da Carta das Nações
Unidas e do direito internacional, desencadeou um nexo de horror: vidas
destruídas; direitos humanos violados; famílias dilaceradas; crianças
traumatizadas; esperanças e sonhos destruídos", afirmou o líder da ONU.
O discurso de Guterres
antecede o do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, terça-feira - e pela
primeira vez presencialmente - na Assembleia Geral (AG) da ONU, após ter
participado remotamente no ano passado, através de uma mensagem pré-gravada.
Naquela que é a segunda
AG da ONU desde o início da invasão russa em 2022, Guterres dedicou parte do
seu discurso a esse conflito, advogando que o mesmo vai além das fronteiras
ucranianas e "tem sérias implicações para todos nós".
"As ameaças
nucleares colocam-nos a todos em risco. Ignorar tratados e convenções globais
torna-nos a todos menos seguros. E o envenenamento da diplomacia global obstrui
o progresso em todos os sentidos. Não devemos ceder no trabalho pela paz - uma
paz justa, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e o direito
internacional", acrescentou.
O ex-primeiro-ministro
português defendeu ainda a procura de todos os caminhos possíveis para aliviar
o sofrimento dos civis na Ucrânia e noutros lugares, dando como exemplo o Acordo
dos Cereais do Mar Negro, que serviu para exportar cereais ucranianos e
fertilizantes russos ao longo de vários meses de guerra, mas que se encontra
suspenso por decisão de Moscovo.
"O mundo precisa
urgentemente de alimentos ucranianos e de alimentos e fertilizantes russos para
estabilizar os mercados e garantir a segurança alimentar. Não vou desistir dos
meus esforços para que isso aconteça", assegurou, recebendo fortes
aplausos.
Contudo, e tal como já
havia feito no ano passado, o secretário-geral da ONU chamou a atenção dos
chefes de Estado e de Governo presentes para outros conflitos e crises
humanitárias que se estão a multiplicar em todo o mundo, sustentando que
"velhas tensões estão a agravar-se, enquanto surgem novos riscos".
Entre os conflitos
enumerados por Guterres estão uma série de golpes de Estado que desestabilizam
ainda mais o Sahel, à medida que o terrorismo ganha terreno nessa região; a
guerra civil em grande escala no Sudão; o deslocamento e violência de género na
República Democrática do Congo; a violência de gangues no Haiti; ou a grande
proporção (70%) da população afegã que necessita de assistência humanitária,
além dos direitos das mulheres e das raparigas sistematicamente negados.
Também incluídos no
discurso do chefe da ONU foram os ciclos de violência e agravamento da pobreza
e repressão em Myanmar; ou a escalada da violência e mortes nos territórios
palestinianos ocupados, com um impacto sobre os civis.
"As ações
unilaterais estão a intensificar-se e a minar a possibilidade de uma solução de
dois Estados - o único caminho para uma paz e segurança duradouras para
palestinianos e israelitas. A Síria permanece em ruínas enquanto a paz
permanece remota. Entretanto, os desastres naturais estão a agravar o desastre
causado pelo homem, o conflito", apontou.
"Face a estas
crises crescentes, o sistema humanitário global está à beira do colapso. As
necessidades estão a aumentar. E o financiamento a acabar. As nossas operações
humanitárias estão a ser forçadas a fazer cortes massivos. Mas se não
alimentarmos os famintos, estaremos a alimentar o conflito. Apelo a todos os
países para que intensifiquem e financiem o Apelo Humanitário Global",
instou.
Advogando que a
arquitetura de paz e segurança está sob uma pressão sem precedentes, Guterres
voltou a pedir aos Estados para que se comprometam novamente com um mundo livre
de armas nucleares e para que acabem com a erosão do regime de controlo de
armas.
O debate de alto nível
da 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU arrancou hoje, em Nova Iorque, com a
presença de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, e irá prolongar-se
até ao próximo dia 26, com a guerra da Rússia na Ucrânia ainda sob foco.
Espera-se que as
potências ocidentais usem os seus discursos na ONU para reafirmem o seu apoio a
Kiev, mas também que se foquem na importância dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável serem alcançados até 2030, um dos principais focos da ONU.
Por outro lado,
espera-se que a Rússia - que se fez representar pelo chefe da Diplomacia,
Serguei Lavrov, e que discursará no sábado - utilize este evento para atacar o
Ocidente por ajudar Kiev. ANG/Angop
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