ONU/ "É urgente clamar
por mais ação e objetivos climáticos mais ambiciosos"
As
conclusões antecedem a Cimeira de Ambição Climática nas Nações Unidas, que
decorre esta quarta-feira, 20 de Setembro, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Em
entrevista à RFI, o presidente da ONG portuguesa ZERO, Francisco Ferreira,
reconhece que é urgente clamar por mais ação e objetivos mais ambiciosos.
RFI: O último relatório da
Organização Mundial de Meteorologia indica que as Nações Unidas não vão
alcançar grande parte dos Objetivos sobre o Desenvolvimento Sustentável. Depois
dos compromissos feitos em 2015, este relatório revela que os líderes mundiais
continuam a desvalorizar as questões ambientais?
Francisco Ferreira,
presidente da ONG portuguesa ZERO: Sabemos, por aquilo
que foi analisado, que menos de 10% das metas traçadas pelas Nações Unidas têm
sido cumpridos. É realmente um número difícil de aceitar e é também por isso
que devemos clamar por mais ação e objetivos mais ambiciosos.
Esta reunião das Nações Unidas vai procurar
fazer o balanço daquilo que é a agenda para 2030. Dezassete Objetivos para o
Desenvolvimento Sustentável foram aprovados, unanimemente, em 2015. Estamos a
meio caminho e é a altura certa de percebermos, porque também há muitos
aspectos positivos, o que é que está a falhar.
Mas quais é que são as
prioridades?
Nós temos duas ou três prioridades que vale a
pena identificar. A primeira-porque encaixa neste reconhecimento das Nações
Unidas- é o impacto do clima. As alterações climáticas estão a ser mais rápidas
do que as previsões dos cientistas e estão a ter um impacto no futuro da
humanidade em todas as perspectivas. Na produtividade do Oceano, na
produtividade agrícola, na resiliência das florestas.
Vimos os incêndios que afetaram o Canadá, a
Grécia e o Havai. Mas depois, temos outros objetivos fundamentais. Ainda na
área do ambiente, os objetivos que dizem respeito à vida terrestre e à vida
marinha. Esses também estão em causa. Nós estamos numa crise de biodiversidade
e desigualdade da distribuição de recursos. Há ainda a questão das energias
renováveis, as cidades sustentáveis, a pobreza, a fome, o abastecimento de
água. Tudo isto são aspectos cruciais. Não podemos separar o ambiente das
questões económicas, sociais e de governança.
Os episódios climáticos
extremos, incêndios no Canadá, na Grécia e cheias na Líbia, são cada vez mais
frequentes. Uma transformação rápida das sociedades é a única solução possível?
Há aqui uma responsabilidade de todos. É
urgente que os países se comprometam a acelerar o fim da utilização dos
combustíveis fósseis e é isso que vai estar em cima da mesa na quarta-feira [20
de Setembro]. Na Cimeira de Ambição Climática nas Nações Unidas, o
secretário-geral da ONU, António Guterres, vai tentar consciencializar os
diferentes líderes nessa questão. Espera-se um pouco mais do que uma conversa
porque vários países vão mostrar mais ambição nas suas metas e é uma preparação
para conferência que vai ter lugar no Dubai, no final do ano.
No entanto, é preciso responsabilizar países,
mas também as empresas, os municípios e as pessoas. Terminar com os
combustíveis fósseis é realmente uma das grandes prioridades porque é a queima
do gás natural, do carvão e do petróleo que causam as principais emissões de
dióxido de carbono. Também temos de acabar com as desigualdade e desperdício de
recursos que temos à escala mundial, uma vez que tem uma ligação direta ao
prejuízo para o clima e para a biodiversidade.
Foi esta a mensagem que
quiseram passar este fim-de-semana com a manifestação contra a utilização dos
combustíveis fosseis? A ONG Zero juntou-se à iniciativa em Nova Iorque, nos
Estados Unidos…
Não foi só em Nova Iorque, mas por todo o
mundo. As associações de ambiente procuraram ser muito claras, o próprio
secretário-geral das Nações Unidas tem-no dito, defendendo que a queima dos
combustíveis fósseis tem de ser ultrapassada. Precisamos de usar energia
suficiente para o que precisamos, mas é fundamental apostar em energias
renováveis.
Devemos acabar com os investimentos feitos na
extração de carvão feitas nos países asiáticos. Acabar com os investimentos de
petróleo nos países do Médio Oriente e com os investimentos de gás natural nos
países africanos, Médio Oriente e América do Sul. Temos de ser objetivos
naquilo que são as metas de cada um dos países.
O que se pode esperar da
78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, quando sabemos que o Presidente
francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, o
Presidente russo, Vladimir Putin, e o homólogo chines, Xi Jinping, não vão
estar presentes?
É um problema sério. Se cada um deles levasse
a sério a crise que temos em termos de clima, biodiversidade, recursos e de
paz, não falhariam esta reunião.
Aquilo que é a concertação à escala mundial,
no quadro das Nações Unidas, para procurar ultrapassar os problemas que a
humanidade enfrenta. Logo à partida, estamos numa posição fragilizada para
entendimentos que são cada vez mais essenciais para lidar com estas crises.
O secretário-geral das
Nações Unidas, António Guterres, espera que durante a 78a Assembleia Geral se
consiga alcançar um acordo para "resgatar" os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, depois de várias agências da ONU terem alertado
que a pandemia e a guerra na Ucrânia atrasaram o seu progresso em quase todo o
mundo. Este acordo será possível?
Não há dúvidas que aquilo que foi decidido em
2015, com esta agenda de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030,
é absolutamente essencial. Essencial para a humanidade que não tem recursos
para lidar com as consequências das alterações climáticas, pobreza,
desigualdade…
Este diálogo norte-sul, que tem de ser
concretizado, com apoios financeiros, metas a cumprir, se não for no quadro das
Nações Unidas, muito dificilmente os será. Portanto, temos de olhar para aquilo
que os países aprovaram há oito anos e “resgatar” esse espírito e garantir que
os avanços, que também existem, vão no sentido de se cumprir as metas traçadas.
Ainda vamos a tempo?
Em alguns vai ser muito difícil irmos a
tempo. Sem dúvida que temos uma situação frágil para conseguirmos resolver
aquilo que muitos países vivem. E isto deve-se ao facto de não termos
encontrado soluções na hora certa, fazendo com que muitos dos problemas se
tivessem agravado. ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário