Guerra
Medio Oriente/Israel usa fome como arma de guerra em Gaza – Human Rights
Watch
Bissau, 19 Dez 23(ANG) – A
Human Rights Watch (HRW) acusou segunda-feira o Governo de Israel de “utilizar
a fome de civis como método de guerra” na Faixa de Gaza ocupada, o que
constitui um crime de guerra.
“As forças israelitas estão
a bloquear deliberadamente o fornecimento de água, alimentos e combustível,
impedindo deliberadamente a assistência humanitária, aparentemente arrasando
zonas agrícolas e privando a população civil de objetos indispensáveis à sua
sobrevivência”, escreveu a organização não-governamental (ONG) num comunicado
enviado à Lusa.
A HRW notou que, desde o ataque
do Hamas a Israel, a 07 de outubro, políticos israelitas, incluindo o Ministro
da Defesa, Yoav Gallant, o Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e o
Ministro da Energia, Israel Katz, “fizeram declarações públicas a expressar o
objetivo de privar os civis em Gaza de alimentos, água e combustível”.
Declarações que refletem
“uma política que está a ser levada a cabo pelas forças israelitas”, referiu-se
na nota.
“Há mais de dois meses que
Israel tem vindo a privar a população de Gaza de alimentos e água, uma política
incentivada ou apoiada por altos funcionários israelitas e que reflete a
intenção de matar civis à fome como método de guerra”, constatou o diretor da
HRW para Israel e Palestina, Omar Shakir.
Neste sentido, o responsável
apelou aos líderes mundiais para se manifestarem “contra este abominável crime
de guerra, que tem efeitos devastadores para a população de Gaza.”
A HRW entrevistou 11
palestinianos deslocados em Gaza entre 24 de novembro e 04 de dezembro. Estes,
segundo o comunicado, descreveram “profundas dificuldades em assegurar as
necessidades básicas”.
“Não tínhamos comida, nem
eletricidade, nem Internet, nada”, disse um homem que abandonou o norte de
Gaza, a zona mais bombardeada pelo exército israelita desde que estalou o conflito
a 07 de outubro.
No sul da Faixa de Gaza, os
entrevistados falaram à ONG sobre a escassez de água potável, a falta de
alimentos e os preços exorbitantes.
“Estamos constantemente à
procura de bens necessários para sobreviver”, notou um homem, pai de dois
filhos.
O Programa Alimentar Mundial
das Nações Unidas informou, a 06 de dezembro, que nove em cada 10 agregados
familiares no norte da Faixa de Gaza e dois em cada três agregados familiares
no sul do território tinham passado pelo menos um dia e uma noite sem
alimentos, referiu ainda a HRW.
O direito humanitário
internacional, ou as leis da guerra, afirma-se ainda no comunicado, “proíbem a
fome de civis como método de guerra”.
A ONG relembrou ainda que,
“antes das recentes hostilidades”, já se estimava que 1,2 milhões dos 2,2
milhões de habitantes da Faixa de Gaza se encontravam em situação de
insegurança alimentar aguda e mais de 80% dependiam de ajuda humanitária.
“Israel mantém um controlo
global sobre Gaza, incluindo a circulação de pessoas e mercadorias, as águas
territoriais, o espaço aéreo, as infraestruturas de que Gaza depende, bem como
o registo da população. Isto deixa a população de Gaza, que Israel submeteu a
um bloqueio ilegal durante 16 anos, quase totalmente dependente de Israel para
ter acesso a combustível, eletricidade, medicamentos, alimentos e outros bens
essenciais”, declarou.
Na nota apela-se a Telavive
que pare “imediatamente de usar a fome de civis como método de guerra”,
respeite a proibição de ataques a bens essenciais à sobrevivência da população
civil e levante o bloqueio à Faixa de Gaza”.
“O Governo deve restabelecer
o acesso à água e à eletricidade e permitir a entrada em Gaza de alimentos,
ajuda médica e combustível desesperadamente necessários, incluindo através da
passagem de Kerem Shalom”, a fronteira entre Israel, Egito e Gaza, apelou.
A HRW deixou ainda um apelo
a vários países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Alemanha, para
“suspenderem a assistência militar e a venda de armas a Israel enquanto as suas
forças continuarem a cometer impunemente abusos generalizados e graves que
equivalem a crimes de guerra contra civis”.
Desde que começou a guerra,
em 07 de outubro, cerca de 19 mil habitantes de Gaza morreram, vítimas de
bombardeamentos israelitas e dos combates, incluindo quase 8.000 crianças,
segundo o Ministério da Saúde da Faixa, controlada pelo movimento islamito
palestiniano Hamas desde 2007.
O ataque do Hamas em solo israelita causou 1.140 mortos, de acordo com os últimos números fornecidos pelas autoridades israelitas.ANG/Inforpress/Lusa
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