Sociedade/Inspetor da Educação de Ilhêu de Rei
lamenta péssimas condições de
trabalho dos professores
Bissau, 15 Dez 23
(ANG) – O Inspetor da Educação de Ilhêu de Rei, lamentou as
péssimas condições de trabalho que os professores colocados naquela localidade
sobretudo no que toca a situação de transporte que é extremamente difícil.
Carlos Cuma fez essa
lamentação durante uma reportagem realizada pelo repórter do Jornal Nô Pintcha,
na qual disse que, não é possível a ilha
ficar sem canoa que possa fazer carreira regular, para ajudar na circulação de
pessoas e seus bens.
Reconheceu que os
professores trabalham num ambiente de muito sacrifício, provocado por falta de
água, falta de mercado ou de um estabelecimento comercial para fazer compra
pelo menos de uma bolacha para saciar à fome, frisando que, esses fatores que contribuem no retrocesso do
processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
Disse que, já
entregou vários relatórios ao Ministério da Educação sobre a situação da escola
e de professores colocados no Ilhéu do Rei, mas nunca recebeu uma única
resposta, desde que foi nomeado inspetor-geral nessa zona.
"Nunca recebemos
a visita de um ministro da Educação e nem de altos dirigentes do Ministério e
para inverter essa situação, a comunidade deve envolver-se seriamente, porque o
atraso de professores em relação à hora de início das aulas não foi por culpa
própria, mas sim por falta de colaboração de próprios moradores da ilha”, explicou.
Aquele responsável
conta que, várias vezes presenciou
situações onde os professores foram abandonados no porto sem poder fazer nada.
Mas a comunidade, por sua vez, entende que esses não querem dar aulas e optam
em matricular seus filhos em Bissau.
Informou que, inicialmente,
a escola não tinha sido contemplada no grupo de escolas que deveriam beneficiar
de cantina escolar, mas graça ao seu esforço conseguiu integrar a escola dentro
do programa, mas, infelizmente, os pais e encarregados de educação não estão a
contribuir para o seu sucesso.
Sobre a situação de
ensino, o Nô Pintcha falou com a professora Janine Iracema dos Santos Dias,
quem reafirmou que, de facto, enfrentam enormes dificuldades, a começar por
desprezo na travessia e a falta de colaboração da comunidade.
“Os alunos que
estudam em Bissau, às vezes, chegam atrasados, devido à insuficiência de meio
de transporte. A única canoa que faz carreira é muito pequena, pelo que não
consegue levar todos passageiros de uma só vez”, lastimou.
Aquela educadora
disse que todos os dias levantam às quatro de manhã para poderem chegar antes
das oito horas na escola, mas são desmerecidos no porto pelos proprietários de
canoas e que há dias em que ficam lá até às nove horas a espera, às vezes até
às 10 horas e nos outros dias não conseguem mesmo travessar, embora nunca
chegam atrasado no porto, aliás, o único atraso é na travessia, pelo que as
aulas começam de acordo com a hora das suas chegadas.
"Dar aulas
nessas condições é extremamente difícil, mesmo com atraso na hora de chegada,
os pais e encarregados de educação de alunos não facilitam, porque não mandam
seus filhos para escola enquanto não chegamos, Muitas vezes nós é que saímos a
procura de alunos casa-à-casa, porque se não fizermos isso não haverá aulas”,
lamentou.
Aquela professora
disse que se forem criadas condições não têm problema de residir na Ilha,
aliás, isso vai os ajudar muito no cumprimento de horas letivos, mas a
comunidade entende o contrário, isso os leva a tirar seus filhos da escola.
Os populares preferem
mandar seus filhos para Bissau sem importar de risco de vida, como se a Ilha
não tivesse escola”, salientou.
Para Janine, o
comportamento dos pais e encarregados de educação de crianças está a levar a
escola à queda livre, porque daqui há alguns anos não vão ter alunos,
salientando que, isso já se tornou moda, ou seja, cada ano letivo os pais
mandam seus filhos para Bissau.
“Agora temos problema
de alunos no terceiro e quarto ano. Prova disso é que neste ano letivo há
somente quatro alunos no quarto ano, e 10 no terceiro. Como é que um professor
vai sair de Bissau para vir dar aulas apenas a quatro ou dez alunos, portanto
não temos outra escolha, somos obrigados a trabalhar nessas condições”,
referiu.
Por sua vez, o
vice-presidente da Associação de Filhos e Amigos do Ilhéu do Rei, Hortênsio da
Silva, disse que a conjuntura do país leva os jovens a refugiar-se em várias
atividades para sobreviver.
Em relação às
críticas levantadas sobre o comportamento da comunidade, disse que ele,
enquanto responsável dos jovens, participou, algumas vezes, na limpeza da
escola e que agora são responsáveis de famílias e cada um tem sua ocupação e só
no tempo livre que podem ajudar”.
Hortênsio da Silva
disse, por outro lado, que a população da ilha sente-se abandonada pelo Estado
e Ilhéu do Rei é uma vila mais perto de Bissau e menos desenvolvida.
O Ilhéu do Rei, é das
vilas mais pertos da capital Bissau, mas em termos de desenvolvimento figura na
última posição, porque ali falta quase tudo. Aliás, essa pequena localidade cercada
de água faz parte do Círculo Eleitoral 24, juntamente com bairros de Cupelum,
Santa Luzia e “Praça”. Essa localização geográfica coloca a ilha na lista de
zonas periféricas da capital.
Ilhéu do Rei situa-se
ao largo de Bissau, com uma distância de pouco menos de 10 minutos de navegação
em piroga. De acordo com relatos de alguns moradores, atualmente o Ilhéu do Rei
tem mais de mil habitantes, habitado maioritariamente por etnia papel seguido
de balantas.ANG/NÔ Pintcha
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