Mais de 40 migrantes morrem em ataque a centro de detenção
Bissau, 04 jul 19 (ANG) - Mais de 40 migrantes foram mortos num
bombardeamento contra um centro de detenção na periferia de Trípoli (Líbia), um
ataque atribuído às forças do marechal Khalifa Haftar e que provocou duras
condenações internacionais
Segundo a AFP, o ataque "pode claramente constituir um
crime de guerra", disse nesta quarta-feira (3) o enviado da ONU na Líbia,
Ghassan Salamé.
"Matou (...) pessoas inocentes forçadas a estar neste
refúgio por causa das suas condições de vida pavorosas", acrescentou num
comunicado.
Na terça-feira à noite, um ataque aéreo fez um buraco de cerca
de três metros de diâmetro no centro desse hangar em Tajura, na periferia leste
de Trípoli. Vários corpos jaziam no chão, segundo um fotógrafo da AFP.
De acordo com um comunicado da Missão de Apoio da ONU à Líbia
(MANUL), no qual Ghassan Salamé foi citado, o balanço desse ataque é de
"pelo menos 44 migrantes" mortos e mais de "130 gravemente
feridos".
"Esse ignóbil e sangrento massacre é uma das consequências
mais terríveis e trágicas do absurdo dessa guerra", acrescentou Salamé.
O enviado da ONU apelou à comunidade internacional para
"condenar este crime e impor sanções apropriadas aos autores desta
operação em flagrante violação" dos direitos humanos.
O Conselho de Segurança não obteve um acordo para condenar o
ataque, após os Estados Unidos decidirem não apoiar a declaração.
Após duas horas de sessão, o Reino Unido fez circular uma
declaração que condenava o ataque, pedia um cessar-fogo e a volta do diálogo.
É a segunda vez que esse centro de migrantes de Tajura, onde
vivem mais de 600 pessoas, é atingido desde que o marechal Khalifa Haftar,
homem forte do leste do país, lançou uma ofensiva em Abril para controlar a
capital do país.
Num comunicado, o Governo de União Nacional (GNA), com sede em
Trípoli e reconhecido pela ONU, denunciou o que chamou de "crime
odioso" e o atribuiu "ao criminoso de guerra Khalifa Haftar".
Na sua nota, o GNA acusou as tropas de Haftar de terem cometido
um ataque "premeditado" e "preciso" contra o centro de
migrantes.
A autoria do ataque não foi reivindicada, mas a mídia que apoia
Haftar mencionou a iminência de uma "série de ataques aéreos" na área
de Trípoli e Tajura, onde o centro de migrantes está localizado.
Em Tajura, ficam vários centros militares controlados pelo governo.
Nesta quarta-feira à noite, forças ligadas ao marechal Haftar
responsabilizaram-se por um outro ataque, desta vez contra o aeroporto de
Mitiga. Este é o único em funcionamento em Trípoli. Não houve vítimas, nem
danos materiais, afirmaram autoridades aeroportuárias, acrescentando que os
voos foram suspensos.
ONU pede investigação independente
O ataque provocou várias reacções da comunidade internacional.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, "pede uma
investigação independente sobre as circunstâncias" do ataque, declarou seu
porta-voz, Stéphane Dujarric.
"É preciso garantir que os autores sejam levados à
Justiça", frisou, destacando que "as Nações Unidas haviam dado a
localização exacta do centro de detenção às partes" em conflito para
evitar que fosse um alvo.
Guterres está "indignado", acrescentou o seu
porta-voz.
Este episódio "destaca a necessidade urgente de fornecer
abrigos seguros para todos os refugiados e migrantes até que os seus pedidos de
asilo sejam atendidos, ou eles sejam repatriados de maneira segura" para o
seu país de origem, completou Dujarric.
"O secretário-geral reitera o seu apelo por um cessar-fogo
imediato na Líbia e o retorno a um diálogo político" para resolver o
conflito, concluiu.
A União Europeia (UE) também pediu uma investigação imediata
sobre o ataque. União Africana, EUA, França, Itália, Catar e Turquia reforçaram
a condenação à ofensiva.
"Esta trágica e desnecessária perda de vidas, que atingiu
uma das populações mais vulneráveis, ressalta a urgente necessidade de que
todas as partes líbias reduzam a intensidade da luta em Trípoli e voltem ao
processo político", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado
americano, Morgan Ortagus.
O alto comissário da ONU para os refugiados (Acnur), Filippo
Grandi, advertiu no Twitter sobre "três mensagens-chave: os migrantes e
refugiados NÃO podem ser presos, os civis NÃO podem ser alvos, a Líbia NÃO é um
lugar seguro para devolver" os migrantes.
"Estamos horrorizados com essas mortes", disse à AFP
Charlie Yaxley, porta-voz do Acnur.
O porta-voz expressou a "extrema preocupação" da
organização sobre os "rumores" que apontam que o local servia de
"depósito de armas".
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) reagiu no Twitter a
"esses terríveis acontecimentos" e pediu a "imediata evacuação
dos refugiados e migrantes presos em centros de detenção em Trípoli".
Agências da ONU e organizações humanitárias reiteraram que os
migrantes resgatados do mar não podem ser devolvidos para a Líbia, em função do
caos institucional no país.
O presidente da comissão da União Africana, Musa Faki Mahamat,
"condenou fortemente" o ataque e pediu uma "investigação
independente para garantir que os responsáveis pela morte horrível desses civis
prestem contas".
A Itália expressou a sua "consternação" e condenou o
"bombardeio cego de áreas civis".ANG/Angop
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