Capitã de navio
humanitário Sea Watch é presa ao ancorar na Itália
Bissau,01 Jul 19(ANG) - A capitã de navio humanitário que
resgata migrantes no Mediterrâneo foi presa sábado (29) ao ancorar na Itália.
A capitã Carola Rackete, de 31 anos, ignorou o bloqueio das
águas territoriais italianas imposto pelo ministro do Interior, Matteo Salvini,
de extrema direita. Ela foi imediatamente detida ao chegar em Lampedusa.
O próprio Salvini
solicitou publicamente a prisão de Rackete e do restante da tripulação do Sea
Watch por ajudar a imigração clandestina, assim como o sequestro do navio.
Segundo a imprensa italiana, Carola Rackete é acusada de
“resitência a um navio militar” e pode ser condenada a até 10 anos de prisão.
Depois de algum tempo de espera a bordo, os migrantes puderam
finalmente desembarcar na manhã de sábado. Eles foram levados para um centro de
acolhida para refugiados de Lampedusa. Salvini informou pelo Twitter que todos
os migrantes serão enviados a outros países europeus que aceitaram recebê-los.
O diretor Sea Watch Johannes Bayer, escreveu no Twitter que a
ONG está orgulhosa da capitã, que fez o que era necessário, “insistiu no
direito marítimo e colocou estas pessoas em um local seguro".
Inicialmente, a polícia marítima italiana havia ordenado
que o navio permanecesse a uma milha náutica do porto. Na sexta-feira (28),
Rackete manteve contato permanente de vídeo com jornalistas em Roma, quando
denunciou uma situação "incrivelmente tensa" a bordo do Sea Watch.
Ela contou que a maioria das pessoas resgatadas são vítimas de traumas, que
sofreram abusos e violências e que estão muito angustiados por seu destino.
Um migrante de 19 anos com fortes dores e seu irmão pequeno
tiveram que ser retirados da embarcação na quinta-feira (27), por motivos
médicos. Os outros resgatados dormiam no convés do navio, sobre salva-vidas
infláveis e sob barracas improvisadas para se proteger da onda de calor que
atinge toda Europa.
O Sea-Watch, com bandeira holandesa, estava há duas semanas
bloqueado em águas internacionais. Ele
resgatou em 12 de junho um grupo de 53 migrantes que se encontravam à deriva em
um bote inflável, na costa da Líbia.
Onze pessoas que corriam risco de vida foram recuperadas pela
guarda-costeira italiana, mas Salvini proibiu a entrada do navio, de bandeira
holandesa, em águas territoriais do país. Na quarta-feira (26), Rackete decidiu
que não haveria outro remédio a não ser violar a proibição e salvar os
migrantes restantes.
Há um ano, Salvini ordenou o bloqueio dos portos para conter o
fluxo de imigrantes em situação irregular na costa da Itália. A Procuradoria de
Agrigento, na Sicília, abriu uma investigação contra a capitã por tráfico
ilegal de seres humanos e a notificação foi entregue pessoalmente na
sexta-feira por agentes da Guarda de Finanças, que na véspera haviam revistado
toda a embarcação.
"Violamos a lei porque a Líbia não é um porto seguro para
desembarcá-los, porque lá estão em guerra. Estou segura de que a justiça
italiana reconhecerá que a segurança das pessoas é mais importante que as
fronteiras nacionais", explicou a capitã.
Salvini exigia que as pessoas resgatadas no mar fossem levadas
para a Holanda, bandeira do Sea Watch, ou para a Alemanha, sede da organização
humanitária. O líder da Liga acusou paradoxalmente a organização alemã de
"fazer política" com a vida dos migrantes. ANG/RFI
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