Nigéria/HRW critica ausência de
"medidas" para impedir mortes por engano no país
Bissau, 07 Dez 23 (ANG) - A organização Human Rights Watch (HRW)
lamentou hoje que a Nigéria não tenha tomado "medidas concretas" para
evitar que operações aéreas do exército voltem a atingir civis por engano ou
que os responsáveis não sejam conduzidos à justiça.
"As autoridades (nigerianas) não
tomaram medidas concretas para fazer justiça, prestar contas ou garantir que as
suas operações protejam melhor os civis no futuro", disse a HRW num
comunicado.
"Desde 2017, mais de trezentas pessoas
foram mortas em ataques aéreos que as forças de segurança disseram ter como
alvo "bandidos" ou membros do grupo armado islâmico Boko Haram, mas
que, em vez disso, atingiram populações locais", acrescentou a organização
não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos.
A declaração da HRW surge como reação a um
ataque aéreo do exército nigeriano no último domingo que matou acidentalmente,
pelo menos, 85 civis e feriu 66 no norte do país, de acordo números das forças
armadas nigerianas, e que a Amnistia Internacional, citando fontes locais,
coloca em, pelo menos, 120 mortos.
A ONG junta a sua voz à do Gabinete das
Nações Unidas para os Direitos Humanos, que esta quarta-feira apelou a uma
"investigação exaustiva e imparcial" do incidente.
"É inaceitável que o exército
nigeriano continue a matar pessoas, através de ataques aéreos, que estão
simplesmente a tentar prosseguir com as suas vidas", afirmou a
investigadora da HRW para a Nigéria, Anietie Ewang, citada no comunicado.
"É necessário um escrutínio das
atividades das forças de segurança para evitar mais mortes e proceder à
reparação das famílias das vítimas, começando por uma investigação
independente, imparcial e transparente", acrescentou.
A HRW contactou testemunhas, que explicaram
que a primeira bomba atingiu a cidade de Tundun Biri, no estado de Kaduna, no
norte do país, por volta das 21h45 horas locais (20h45 TMG), quando centenas de
pessoas estavam a celebrar o nascimento do profeta Maomé (festival Mawlid).
A explosão causou a morte de cerca de 56
pessoas, incluindo muitas crianças, e fez um largo número de feridos, o que
levou a população local a chamar outras pessoas das aldeias vizinhas para
ajudar a transportar os que não conseguiam deslocar-se.
Por volta das 23h00 horas locais (22h00
TMG), caiu uma segunda bomba, matando muitas das pessoas que tinham vindo
ajudar.
"Estava a abraçar o meu filho, que
tinha uma perna partida, quando a segunda bomba foi lançada sobre nós. Perdi os
meus cinco filhos e a mãe deles", disse uma das vítimas à HRW.
Alguns estados nigerianos - particularmente
no centro e noroeste do país - estão a ser atacados incessantemente por
"bandidos", um termo utilizado no país para descrever bandos
criminosos que cometem assaltos em massa e raptos, a troco de resgates, e que
são por vezes rotulados de "terroristas" pelas autoridades.
Os ataques são recorrentes, apesar das
repetidas promessas do Governo nigeriano de pôr fim à violência através do
destacamento de mais forças de segurança.
Esta insegurança é agravada desde 2009 pela
atividade do grupo extremista islâmico Boko Haram no nordeste do país e, desde
2016, também pelo Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP),
aliado à Al-Qaida. ANG/Angop
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