Suíça/Ex-ministro gambiano começa ser julgado por crimes contra humanidade
Bissau, 09 Jan 24 (ANG) - O antigo ministro do Interior gambiano Ousman Sonko começou, segunda-feira, a ser julgado no Tribunal Penal Federal de Bellinzona, na Suíça, por crimes contra a humanidade na era do ex-presidente Yahya Jammeh, arriscando prisão perpétua.O antigo ministro do Interior gambiano contesta as acusações que lhe são imputadas.
O seu advogado, Philippe Currat, pediu ao
tribunal para "encerrar o processo relativo aos atos descritos na acusação
que alegadamente ocorreram antes de 01 de Janeiro de 2011", data a partir
da qual os crimes contra a humanidade foram consagrados no direito suíço, em
nome do princípio da não-retroatividade.
"Não se trata, portanto, hoje, de
transformar a Suíça num supermercado processual onde se pode processar pessoas
transgredindo as regras de competência e as que estabelecem os crimes",
referiu o advogado de defesa.
O julgamento deverá durar um mês e o
veredicto não deverá ser proferido antes de Março.
O processo contra Sonko é possível porque o
país alpino reconhece, desde 2011, o direito de julgar os crimes mais graves
cometidos no estrangeiro, desde que o autor se encontre em território suíço.
Foi detido a 26 de Janeiro de 2017 na
Suíça, onde tinha pedido asilo depois de ter sido demitido do seu cargo
ministerial, que ocupou durante 10 anos, até Setembro de 2016.
É a primeira vez na Suíça que o conceito de
crimes contra a humanidade é tratado em primeira instância.
Sonko é "também o político de mais
alto nível alguma vez julgado na Europa por crimes internacionais, ao abrigo da
jurisdição universal", segundo a organização não-governamental (ONG) Trial
International.
A Procuradoria-Geral da Suíça (MPC) acusa-o
de "ter, na sua qualidade e funções, apoiado, participado e não se ter
oposto aos ataques sistemáticos e generalizados feitos pelas forças de
segurança da Gâmbia contra qualquer opositor ao regime do Presidente Yahya
Jammeh" (1994-2016).
As acusações abrangem o período de 2000 a
2016 e o acusado é suspeito de numerosos crimes contra a humanidade, incluindo
homicídios, violações, raptos e tortura.
Dez pessoas apresentaram queixa contra o
antigo ministro e ao chegarem hoje ao tribunal exibiram cartazes onde se lia
"Levem Jammeh e os seus cúmplices à justiça".
A Gâmbia, um pequeno país da África
Ocidental e antiga colónia britânica, foi governada durante 22 anos por Yahya
Jammeh, que vive em exílio na Guiné Equatorial, depois de ter perdido as
eleições presidenciais em Dezembro de 2016.
Sonko é acusado de ter agido em grande
parte com um grupo composto pelo antigo Presidente e por altos membros das
forças de segurança e dos serviços prisionais, no exercício das suas funções,
primeiro como membro do exército, depois como inspetor-geral da polícia e,
finalmente, como ministro.
De acordo com o seu advogado, os factos
descritos na acusação não são da responsabilidade do seu cliente, mas sim da
Agência Nacional de Informações (NIA), e "esta agência nunca esteve sob a
autoridade ou controlo, nem de facto nem de direito, de Ousman Sonko".
Sonko é o segundo gambiano a ser julgado na
Europa por crimes cometidos no país, após o processo na Alemanha contra Bai
Lowe, antigo membro de uma unidade paramilitar conhecida como
"Junglers", também criada por Jammeh. Lowe foi condenado a prisão
perpétua em Novembro de 2023 por crimes contra a humanidade. ANG/Angop
Sem comentários:
Enviar um comentário