Etiópia/Dívida dos países africanos sobe para 990 mil milhões
de euros
Bissau, 21 Ago 24(ANG) -
A dívida soberana dos países africanos ultrapassou 1,1 biliões de dólares (990
mil milhões de euros), segundo a Comissão Económica das Nações Unidas para
África, e o serviço da dívida custa anualmente 163 mil milhões de dólares.
"A dívida soberana
em África está acima de 1 bilião de dólares, causando uma severa crise
orçamental, com mais de um em cada três países ou em sobre-endividamento ou em
elevado risco de estar em sobre-endividamento", disse à Lusa o porta-voz
da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA).
A questão da dívida
pública e o seu impacto na capacidade de os países africanos financiarem os
investimentos para fomentar o desenvolvimento económico tem sido um dos eixos
das últimas intervenções do secretário executivo da UNECA, Claver Gatete, que
tem salientado a importância de reformar a arquitetura financeira mundial para
privilegiar os empréstimos concessionais, ou seja, com taxas de juros menores e
maturidades maiores que os empréstimos comerciais.
"A reforma do
sistema financeiro global é urgente, já que pode mitigar as dificuldades de acesso
a recursos financeiros críticos que são necessários para implementar as medidas
para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)", disse
Claver Gatete numa recente intervenção no Fórum Político de Alto Nível, em Adis
Abeba.
Entre 2010 e 2023, a
dívida de África quase triplicou, subindo 192% para 1,1 biliões de dólares, com
o custo anual de servir (cumprir pagamentos) a dívida a subir para 163 mil
milhões de dólares, mais de 146 milhões de euros.
Este é "o valor
mais alto alguma vez registado, o que significa que para pagar a dívida, os
países ficam com muito pouco espaço para implementar as medidas dos ODS e o
programa a 10 anos da União Africana", acrescentou Gatete.
Defendendo as
reestruturações das dívidas públicas nos países que se encontrem em
dificuldades, a UNECA argumenta que a emissão de títulos de dívida verdes,
azuis ou sustentáveis, isto é ligados a causas ambientais, marítimas e de
desenvolvimento, pode atrair mais investidores que não cobrem juros tão
elevados pelos empréstimos.
O aumento do rácio da
dívida pública face ao PIB, na sequência da pandemia de covid-19, que agravou
uma tendência já existente, deixou muitos países africanos em graves
dificuldades financeiras e obrigou alguns a negociarem com os credores uma
reestruturação da dívida pública, num caminho inaugurado pela Zâmbia logo em
2021.
Num encontro recente, a
conselheira especial do secretário-geral da ONU para África, Cristina Duarte,
salientou ainda que a implementação das medidas dos ODS está desadequada às necessidades,
com apenas 12% das 140 metas a terem sido cumpridas.
"Precisamos de
perceber as causas de base dos desafios de financiamento que enfrentamentos no
continente e o foco deve estar no financiamento sustentável e no fortalecimento
institucional em África para construir resiliência", argumentou, durante
uma reunião conjunta da União Africana e da UNECA.
As medidas defendidas
pelos países africanos para reformar a arquitetura financeira global, como por
exemplo a canalização dos Direitos Especiais de Saque para os bancos
multilaterais de desenvolvimento, serão apresentadas formalmente na Cimeira do
Futuro, que decorre à margem da Assembleia-Geral da ONU, em setembro, em Nova
Iorque. ANG/Inforpress/Lusa
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