Timor-25 anos/ Corrupção é o “único ato com
transparência” e feito “à luz do dia”- Fretilin
Bissau, 22 Ago 24 (ANG) – O secretário-geral
da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri,
defendeu hoje que a corrupção no país é o “único ato com transparência” porque
“é feita à luz do dia”.
Em
entrevista à agência Lusa a propósito dos 25 anos do referendo que levou à
independência de Timor-Leste, que se assinalam em 30 de agosto, o dirigente do
principal partido da oposição e ex-primeiro-ministro deu como exemplos de
corrupção os ajustes diretos feitos pelo Governo para projetos relacionados com
a visita do Papa ao país.
“Cento
e cinquenta milhões de dólares em projetos de ajuste diretos, porque aprovaram
um decreto-lei que não passa pelo parlamento. O primeiro-ministro apresenta
para aprovação já, nem há discussão no Conselho de Ministros e o Presidente da
República promulga sem ler”, acusou.
Segundo
Mari Alkatiri, estes ajustes diretos são “uma afirmação muito clara da ditadura
da lei”, que serve “para garantir a democracia e não para exprimir a
vontade ditatorial de seja quem for”.
“Até
se aprovam decretos-lei para legalizar a corrupção. Essa é que a realidade”,
disse Mari Alkatiri, que liderou o Governo de Timor-Leste em dois momentos
(2002–2006 e 2017-2018).
O
líder da Fretilin congratulou-se pelo facto de a sociedade civil começar a
questionar a corrupção e acusou o Governo de estar a dificultar a participação
do povo na visita do Papa, com receio de manifestações, e a impedir o encontro
de Francisco com partidos, apesar da insistência da Igreja nesse sentido.
Ainda
sobre a visita do Papa, entre 09 e 11 de setembro, Mari Alkatiri considerou que
o que se está a fazer “é cosmético e o Papa não merece isso”.
Entre
as medidas, criticou os desalojamentos na capital timorense: “É desumano,
inadmissível. Claro que Díli tinha de ser uma cidade, mas não é assim. Tinha de
se ter uma política de urbanização, com ordenamento, estudado e publicado e
aprovado”.
“Só
espero que isto tudo não venha provocar o fracasso da visita do Papa. Não sou
católico, toda a gente sabe, mas tenho um grande respeito por este Papa”,
disse, referindo que, por causa da visita, o partido não vai celebrar os seus
50 anos no próprio dia, em 11 de setembro.
Sobre
o balanço destes 25 anos, o líder da Fretilin considerou que “o Estado está a
ser construído, o povo já veio de um sofrimento prolongado” e deve haver
“investimento estratégico na saúde, educação, diversificação económica e uma
economia resiliente”, o que “não é feito desde 2007, a partir do reinado de
Xanana” Gusmão, atual primeiro-ministro timorense.
“O
que fizeram durante estes anos, de 2007 para a frente, foi induzir em erro todo
o povo. Em vez de ter uma política clara para que o povo compreendesse o
processo, induzimos um paraíso fiscal e agora estamos no real precipício
fiscal”, criticou.
Sobre
a situação política no país, assegurou que “a Fretilin já não viabiliza mais
nenhum Governo” e admite ir a eleições legislativas antecipadas “se for
necessário”.
“Isso que fique claro, já chega. Eu não sou bombeiro e a Fretilin não é uma organização de bombeiros.”, acrescentou, referindo que é contra governos de unidade nacional, mas “a favor de políticas de inclusão nacional e isso não significa que todos tenham de estar no Governo”. ANG/Lusa
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