Birmânia/Exército deteve Aung San Suu
Kyi e declarou estado de emergência por um ano
Bissau, 01 Fev 21 (ANG) - As
forças armadas prenderam a chefe “efectiva” do governo birmanês, Aung San Suu
Kyi, segundo confirmou esta madrugada o porta-voz de seu partido, a Liga
Nacional para a Democracia (LND).
Durante o que foi
qualificado pela Prémio Nobel da Paz de 1991 de “Golpe de Estado”, os militares
anunciaram a instauração do estado de emergência por um ano, período ao final
do qual prometem a organização de novas eleições e a transferência do poder aos
civis.
Em comunicado, Aung San Suu
Kyi exortou a população a sair à rua para rejeitar o golpe.
De acordo com os raros testemunhos locais,
por volta das 3 horas da manhã locais, registaram-se os primeiros indícios do
que estava a acontecer. Foi constatada a presença de tropas nas ruas de
Naypyidaw e Rangoon, as duas principais cidades do país, ouve um apagão, a
internet entrou em colapso e as redes de telecomunicações móveis foram
parcialmente interrompidas.
Durante esta madrugada, o partido Liga
Nacional para a Democracia confirmou que a sua líder, Aung San Suu Kyi, bem
como o presidente birmanês tinham sido levados pelos militares, esta formação
considerando que “estava a ser organizado um golpe”. Foram igualmente detidos o
governador de Rangum, líderes da sociedade civil, representantes das minorias
étnicas assim como artistas, nomeadamente o cineasta Min Htin Ko Ko Gyi,
conhecido pelas suas criticas ao exército.
Esta manhã, depois da interrupção das
emissões da rádio e televisão nacionais, por volta das 8 horas, foi lido um
comunicado confirmando que o exército birmanês tinha retomado o poder, num
golpe que qualifica de “constitucional”. Ao proclamar o estado de emergência
por um ano, os militares anunciaram a instalação provisória no poder do
vice-presidente, U Myint Swe, prometeram ainda a realização de eleições “livres
e justas” e a instauração de uma "verdadeira democracia multipartidária".
Esta retoma do poder pelos militares
acontece pouco antes do novo parlamento eleito no passado mês de Novembro
realizar a sua primeira sessão. Uma decisão necessária para preservar a
“estabilidade” do país, argumentaram os militares que não aceitaram a larga
vitoria do partido de Aung San Suu Kyi nas legislativas do passado mês de
Novembro.
O partido da Prémio Nobel da Paz não escondia sua intenção de, entre outras coisas, mudar a Constituição que actualmente consagra o poder efectivo do exército através do controlo dos três principais ministérios (Interior, Defesa e Fronteiras) e da atribuição automática de 25% dos assentos parlamentares aos militares.
Perante esta eventual mudança, o exército
denunciou fraudes massivas nas legislativas e acabou por consumar-se o divórcio
com os civis oficialmente no poder desde 2011, ao ponto de o chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas, o general Min Aung Hlaing, ter recentemente
declarado que a Constituição poderia ser "revogada" em determinadas
circunstâncias.
Neste contexto cada vez mais tenso, ainda
na passada Sexta-feira, várias representações diplomáticas no países,
nomeadamente a embaixada dos Estados Unidos e a delegação da União Europeia
tinham exortado a Birmânia a "aderir aos padrões democráticos". Hoje
mais uma vez, diversas vozes da comunidade internacional elevaram-se para
reclamar a libertação imediata dos líderes presos. A Austrália, os Estados
Unidos, o Japão, o Reino Unido, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António
Guterres, assim como o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel,
condenaram o sucedido, enquanto a China apelava os birmaneses a
"resolverem os seus diferendos" no âmbito da lei.ANG/RFI
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