Covid-19/Farmacêuticas devem acabar com pandemia em vez de ganhar mais dinheiro
Bissau, 03 Mar 21(ANG) –
As farmacêuticas devem concentrar-se em a
cabar com a fase mais aguda da
pandemia da covid-19 em vez de procurarem ganhar mais dinheiro com acordos
bilaterais para venda de vacinas, defende o presidente da Aliança Global para
as Vacinas, Durão Barroso.
“Os fabricantes devem
comprometer-se a ajudar a acabar com a fase aguda da pandemia e isso significa
trabalhar directamente com a [plataforma internacional de distribuição
equitativa de vacinas] Covax em vez de buscar maiores ganhos financeiros por
meio de acordos bilaterais”, considera Durão Barroso numa entrevista à agência
Lusa feita por escrito.
O ex-primeiro-ministro
português e ex-presidente da Comissão Europeia salienta que “este vírus não
respeita fronteiras” e que o caminho para acabar com a pandemia que desencadeou
“não é entrar em competição desenfreada entre uns e outros”, uma lógica que
considera que deve valer também para os governos.
Questionado sobre a
escassez de vacinas que afecta vários países por causa das limitações de
produção, defende que o caminho para resolver o problema e apoiar os países em
desenvolvimento é “investir na capacidade de manufactura nesses mesmos países e
apoiar o seu fabrico por meio de acordos de transferência de tecnologia”.
Foi o que a plataforma
Covax, liderada pela GAVI, Organização Mundial de Saúde e pela coligação CEPI
fez ao assinar “dois acordos deste tipo com o Serum Institute of India”, que
deram acesso a “potencialmente mais de mil milhões de doses de vacina”.
Sobre a possibilidade de
levantamento de patentes para licenciar a produção de vacinas tal como acontece
com os medicamentos genéricos, José Manuel Durão Barroso não vê que seja
possível por se tratar de “um desafio muito difícil”.
“Além, obviamente, da
grande divergência entre os interesses em jogo, [a abertura da propriedade
intelectual para vacinas] não leva em consideração a complexidade do seu
desenvolvimento científico e tecnológico, que geralmente envolve milhares de
etapas e um grande ‘know-how’”, o que as torna diferentes dos medicamentos que
podem ser fabricados por produtores de genéricos, argumenta.
É um processo que “vai
bem além do mandato da GAVI” e cuja resolução estaria dependente dos governos
do mundo, “o que já foi por vezes tentado no âmbito da Organização Mundial do
Comércio, mas sempre sem nenhum resultado concreto”.
Durão Barroso lança
outro alerta à indústria farmacêutica por causa das mutações do vírus: “parece
cada vez mais claro que os fabricantes poderão ter que se ajustar à evolução
viral, incluindo, potencialmente, o fornecimento de futuras doses de reforço”.
“Isso torna a
necessidade de acesso equitativo às vacinas mais importante do que nunca, pois
quanto mais tempo deixarmos o vírus espalhar-se sem controlo, maiores serão as
oportunidades de ele sofrer mutações e de haver reinfecções e mesmo novos
surtos da pandemia”, aponta o presidente da GAVI
Além disso, as mutações “podem diminuir a eficácia das vacinas já existentes”, salienta. ANG/Inforpress/Lusa
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