ONU/ Mulheres em 57 países não podem decidir sobre
seu corpo
Bissau, 15 Abr 21 (ANG) - Quase metade das mulheres em 57 países não têm
liberdade de decisão sobre o seu corpo, desde ter relações sexuais até ao uso
de contracepção ou ao acesso a cuidados médicos, uma realidade acentuada na
África Subsaariana.
Intitulado "O Meu Corpo é Meu", o relatório pormenoriza as violações dos direitos das mulheres nestes países, desde a violação à esterilização forçada até à imposição de testes de virgindade ou à mutilação genital.
Também analisa como
as mulheres não estão autorizadas a tomar decisões sobre o seu próprio corpo
sem risco de violência ou de serem sujeitas à decisão de outra pessoa sobre a
sua integridade física.
O relatório
centra-se principalmente em três questões: se as mulheres podem dizer não ao
sexo, se podem decidir sobre o uso de contracetivos e se podem decidir sobre os
cuidados médicos.
De acordo com o
documento, que se baseia em dados de 57 países em desenvolvimento, incluindo os
lusófonos Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, apenas 55 por
cento das mulheres podem decidir plenamente nestas três áreas.
Esta percentagem,
contudo, variam significativamente entre regiões: enquanto na América Latina e
nas Caraíbas e no Leste e Sudeste Asiático cerca de 75 por cento das mulheres
têm o seu direito à autonomia corporal respeitado, na África Central e Ocidental
esse número é inferior a 40 por cento.
Em três países da
África Subsaariana - Mali, Níger e Senegal - a capacidade de tomar decisões
sobre o seu corpo é reconhecido a menos de 10 por cento das mulheres, segundo o
estudo.
Em alguns países,
como o Mali, o relatório mostra que uma clara maioria de mulheres pode decidir
sobre contracetivos, mas apenas 22 por cento pode fazê-lo quando se trata de
procurar cuidados médicos e apenas uma em cada três mulheres pode recusar sexo.
Em Angola, 62% das
mulheres têm autonomia para tomar decisões nas três questões analisadas, um
valor que desce para 49 por cento em Moçambique, para 46 por cento em São Tomé
e Príncipe e para 40 por cento em Timor-Leste.
No conjunto da
África Subsaariana, menos de uma em cada duas mulheres (48%) tem autonomia para
tomar estas decisões.
O relatório aponta
que apenas 56 por cento dos países inquiridos têm leis e políticas abrangentes
sobre educação sexual.
O relatório enumera
ainda 20 países ou territórios que têm leis que permitem que um violador se
case com a sua vítima para escapar à acusação e 43 estados que não têm leis
sobre violação conjugal.
Mais de 30 países
impõem restrições ao movimento das mulheres fora de casa.
O estudo foi
apresentado em Portugal, durante uma sessão em formato digital, pela
directora-executiva do FNUAP em Genebra, a portuguesa Mónica Ferro, e contou
com a participação do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da
Cooperação e presidente da Comissão Nacional para os Direitos Humanos (CNDH),
Francisco André.
"Muitas vezes,
quando perguntadas, as mulheres e raparigas não sabem que têm o direito a dizer
não a ter relações sexuais com o seu marido. É um dado muito interessante e que
tem muito a ver com o trabalho que tem de ser feito ao nível das normas sociais
e da educação", disse Mónica Ferro.
A
directora-executiva do FNUAP assinalou ainda que a negação da autonomia
corporal reveste formas tão diferentes como o casamento infantil, a mutilação
genital, a violação conjugal e as leis que ditam o casamento com os violadores,
entre outras práticas.
"Alcançar a
autonomia e a integridade corporal depende da igualdade de género e de
afastarmos as normas e as práticas patriarcais que veem a mulher ainda como
tendo menos direitos do que o homem e o seu bem-estar como sendo menos
relevante", considerou.
Por seu lado, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André, sublinhou a pertinência da abordagem do relatório, considerando que as suas conclusões serão "extremamente valiosas" e darão um "contributo da maior relevância quer no plano interno quer no contexto da política de cooperação e dos projetos com os países parceiros".ANG/Angop
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