Portugal/Guterres considera cessar-fogo na Ucrânia positivo mas pede solução para o conflito
Bissau, 06 Jan 23 (ANG) – O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, considerou quinta-feira positivo o cessar-fogo na Ucrânia, anunciado pelo Presidente russo para o Natal ortodoxo, mas admite faltarem por agora condições para uma desejável solução duradoura para o conflito.
“Se
puder haver condições para que no Natal não morra gente, isso em si é positivo,
mas o que importa fundamentalmente é uma solução do conflito e a solução só é
possível com base na carta das Nações Unidas e no direito internacional”,
afirmou Guterres à Lusa e à Reuters, à margem de uma cerimónia em que recebeu o
Prémio Universidade de Lisboa relativo a 2020.
As
tropas russas a combater na Ucrânia observarão um cessar-fogo de 36 horas entre
o meio-dia de 06 de Janeiro e a meia-noite de 07, decretou hoje o Presidente
Vladimir Putin.
Num
comunicado, a Presidência russa (Kremlin) afirmou que Putin respondeu a um
apelo do patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo, divulgado hoje de manhã.
Em
reação, um conselheiro do Presidente ucraniano, Mykhailo Podoliak, qualificou
de “hipocrisia” o anúncio de um cessar-fogo russo na Ucrânia e apelou às tropas
russas para abandonarem o país.
Para
Guterres, “naturalmente que o Natal é um período especial e uma festa de
ucranianos e russos”, mas, apesar do cessar-fogo insiste numa solução para o
conflito.
“Neste
momento, as condições ainda não estão criadas para uma solução de paz efectiva
no imediato, mas espero que seja possível criar as condições para que uma
solução de paz baseada na Carta das Nações Unidas e no direito internacional
possa prevalecer”, afirmou.
O
secretário-geral da ONU fez ainda uma referência ao acordo de exportação de
cereais retidos na Ucrânia, através do Mar Negro, destacando a importância do
entendimento alcançado em Julho entre as Nações Unidas e as autoridades de
Kiev, Moscovo e Istambul, e indicando que mais de 15 milhões de toneladas já
foram transportados.
“Tem
havido algumas limitações em relação ao número das inspeções, mas a dimensão
dos barcos tem aumentado, o que tem permitido manter o ritmo, não tão elevado
como desejaríamos”, afirmou.
António
Guterres enfatizou, por outro lado, uma mensagem que já tinha deixado na visita
que realizou ao porto de Odessa, no sul da Ucrânia, em 19 de Agosto, sobre a
exportação de alimentos russos: “Continuamos também empenhados em resolver os
problemas da exportação de adubos e cereais russos de que a comunidade
internacional também precisa”.
A
ofensiva militar lançada a 24 de Fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a
fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e
mais de 7,9 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes
dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa
desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste
momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões
necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A
invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a
necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da
Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem
respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de
sanções políticas e económicas.
A ONU
apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.919 civis mortos e
11.075 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
ANG/Inforpress/usa
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