Quénia/Pelo menos nove pessoas foram mortas em protestos da oposição - ONG
Bissau, 14 Jul 23 (ANG) – Pelo menos nove
pessoas foram mortas em protestos da oposiç
ão no Quénia na quarta-feira devido
ao aumento dos impostos sobre produtos básicos, anunciou hoje a Comissão
Nacional de Direitos Humanos do Quénia (KNCHR, na sigla inglesa).
Os
protestos foram fortemente reprimidos e "resultaram na perda de pelo menos
nove vidas quenianas", nas cidades de Mlolongo, Kitengela e Emali, perto
de Nairobi, a capital queniana, bem como em Sondu e Busia (oeste), disse hoje
Roseline Odede, presidente da KNCHR, uma instituição autónoma mas financiada
pelo Estado, através de um comunicado.
Segundo
a organização, foram registados "numerosos ferimentos em membros do
público e agentes da autoridade" e "houve casos de uso excessivo da
força por parte da polícia na detenção de manifestantes".
"Embora
a manutenção da lei e da ordem seja crucial, nunca deve ser feita à custa dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais dos indivíduos", bem como
do seu direito à vida, sublinhou Odede.
A
KNCHR manifestou-se ainda "horrorizada" com os "disparos
irresponsáveis e não provocados de gás (lacrimogéneo) por parte dos
agentes", gás que acabou por invadir uma sala de aula de uma escola do
bairro de Kangemi, na zona oeste de Nairobi, e que obrigaram a que mais de
cinquenta alunos fossem transportados para o hospital.
O
organismo condenou igualmente o saque e a destruição de bens privados e
públicos por parte de manifestantes, que ergueram barricadas e vandalizaram
lojas.
Embora
a polícia tenha declarado os protestos ilegais, o KNCHR recordou que estes
foram "organizados no quadro (...) da Constituição queniana e do direito
de reunião pacífica".
As
manifestações tiveram lugar em Nairobi e em várias cidades vizinhas, bem como
em Mombaça (sul do país), Kisumu e Kisii (oeste), e as forças de segurança
utilizaram munições reais e gás lacrimogéneo para as dispersar.
Embora
não tenha confirmado o número de mortos, o ministro do Interior queniano,
Kithure Kindiki, afirmou em comunicado na quinta-feira que os “protestos
violentos" provocaram "a morte de pessoas e ferimentos em civis e
agentes de segurança", bem como "a perturbação de muitos negócios e a
destruição de propriedade pública e privada".
"A
pilhagem é um ato de ilegalidade, que não pode ser aceite ou tolerado",
acrescentou Kindiki, referindo que, pelo menos, 312 pessoas foram detidas,
incluindo um deputado.
Ao
longo do último ano, o líder da oposição Raila Odinga convocou vários protestos
contra o Governo do Presidente queniano, William Ruto, a quem acusa de
manipular os resultados das eleições de agosto de 2022.
Odinga,
um antigo primeiro-ministro - que obteve 48,85% dos votos -, não reconhece os
resultados eleitorais, apesar de o Supremo Tribunal ter rejeitado o recurso que
interpôs contra a vitória de Ruto, que obteve 50,49% dos votos, segundo a
comissão eleitoral do país.
A
tensão e o descontentamento social também aumentaram nas últimas semanas,
depois de o Presidente ter aprovado, em 26 de junho, uma nova lei das finanças
que, entre outras medidas, duplica o imposto sobre os combustíveis para 16%.
Apesar
de a justiça ter suspendido temporariamente a aplicação da lei dias após a sua
aprovação, enquanto se aguarda a determinação da sua constitucionalidade, as
autoridades mantiveram a implementação do aumento dos impostos sobre a
gasolina. ANG/Lusa
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