Ambiente/Mundo “na direção errada” para travar desflorestação até 2030
Bissau, 24 Out 23 (ANG) – Organizações não-governamentais e investigadores alertaram hoje num relatório que o mundo não está a cumprir a promessa de travar e inverter a desflorestação até 2030, uma vez que a perda global da área florestal aumentou em 2022.
Líderes de mais de 100
países e territórios, que representam a grande maioria das florestas do mundo,
comprometeram-se, em 2021, a travar e inverter a perda de floresta até 2030.
Mas o relatório anual
“Avaliação da Declaração sobre as Florestas” revelou que a desflorestação
global aumentou 4% no ano passado e que o mundo não está no bom caminho para
cumprir o compromisso delineado.
“O objetivo para 2030
não existe apenas para parecer bem. É essencial para manter um clima habitável
para a humanidade”, salientou Erin Matson, uma das principais autoras do
documento.
As florestas são
habitats essenciais para a vida animal, importantes reguladores do clima global
ao absorverem as emissões de carbono das atividades humanas.
No ano passado, a
desflorestação foi mais de 20% superior ao que deveria ter sido para cumprir o
compromisso assumido pelos líderes. Perderam-se cerca de 6,6 milhões de
hectares de floresta, a maior parte dos quais floresta primária em regiões
tropicais.
A avaliação, liderada
por mais de vinte organizações ambientais e organismos de investigação, alerta
também para o facto de a degradação florestal continuar a ser um problema
grave.
O termo degradação
refere-se a uma vasta gama de danos, incluindo incêndios florestais e perda de
biodiversidade, que afetam o estado geral de uma floresta.
“Os dados de um ano para
o outro tendem a mudar. Por isso, um ano não é o ideal”, disse Matson. E
concluiu: “Mas o que é realmente importante é a tendência, e desde o período de
referência de 2018 a 2020, temos estado a caminhar na direção errada”.
O relatório ressalva,
porém, que o panorama não é totalmente negativo, com cerca de 50 países
considerados no bom caminho para acabar com a desflorestação. O Brasil, a
Indonésia e a Malásia, em particular, conseguiram “reduções espetaculares” na
perda de florestas.
No entanto, o documento
adverte que estes progressos estão ameaçados: o sucesso da Indonésia está, em
parte, ligado a uma moratória sobre a desflorestação, mas há quem receie que a
nova legislação sobre a criação de emprego possa enfraquecer o compromisso.
No Brasil, embora haja
um interesse renovado em proteger a Amazónia, outro ecossistema fundamental, a
savana do Cerrado, tornou-se um alvo.
O relatório elogia as
novas regras introduzidas pela União Europeia para bloquear as importações de
produtos de base que incentivam a desflorestação, mas apela a uma ação global
mais forte, incluindo a atribuição de mais fundos à proteção das florestas e o
fim dos subsídios a setores, como a agricultura, que impulsionam a
desflorestação.
“O mundo está a
desiludir as florestas, com consequências devastadoras à escala global”,
advertiu Fran Price, responsável mundial pelas florestas no Fundo Mundial para
a Natureza (World Wide Fund for Nature).
“Desde que o compromisso
global (…) foi assumido, perdeu-se uma área de floresta tropical do tamanho da
Dinamarca”, salientou.
A publicação do
relatório antecede a COP28, a conferência das Nações Unidas sobre o clima, que
vai reunir os líderes mundiais no Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro.
No entanto, é provável
que a desflorestação seja relegada para segundo plano nos debates sobre as
energias renováveis e o futuro dos combustíveis fósseis.
“Queremos que a natureza
e as florestas sejam uma prioridade. Receamos que [os debates] não estejam à
altura”, lamentou Price.
ANG/Inforpress/Lusa
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