Israel/Telavive recusa vistos a representantes da ONU após declarações de Guterres
Bissau,
25 Out 23(ANG) – Israel anunciou hoje
que vai recusar vistos a representantes das Nações Unidas após as declarações
do secretário-geral da ONU, António Guterres, que afirmou que o ataque do Hamas
“não vem do nada, mas de 56 anos de ocupação”.
“É
altura de dar uma lição aos altos funcionários da ONU”, disse Erdan hoje numa
entrevista à rádio do exército israelita.
“O
massacre de judeus perpetrado pelo Hamas [a 07 deste mês] foi um ato de
genocídio na sua intenção e imensamente brutal na sua forma”, afirmou Dani
Dayan, presidente do Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, condenando
também as declarações de Guterres perante o Conselho de Segurança da ONU.
“Parte
da diferença em relação ao Holocausto deve-se ao facto de os judeus terem hoje
um Estado e um exército. Não estamos indefesos ou à mercê dos outros”,
acrescentou o responsável do Yad Vashem.
Para
Dayan, “a sinceridade dos líderes mundiais, dos intelectuais e das pessoas
influentes”, como Guterres, é agora “posta à prova”.
Perante
isto, o secretário-geral da ONU “falhou o teste”, disse Dayan.
Após
os massacres perpetrados pelos milicianos do Hamas em Israel há mais de duas
semanas – o ataque mais mortífero da história do Estado judaico – o Governo
israelita comparou as suas ações às do Estado Islâmico ou ao genocídio nazi de milhões
de judeus.
O
governo israelita também referiu que as ações do Hamas constituíram “o pior
massacre de judeus desde o Holocausto”.
No
entanto, a controvérsia estalou terça-feira no Conselho Geral da ONU, quando
Guterres “condenou inequivocamente os atos terroristas horríveis e sem
precedentes do Hamas”, embora tenha ressalvado que o sucedido tem origem em
décadas de conflito com os palestinianos.
“Os
ataques do Hamas não ocorrem no vazio. O povo palestiniano tem estado sujeito a
56 anos de ocupação sufocante”, afirmou então Guterres, declarações que levaram
a uma forte crítica do executivo israelita, que exige agora a demissão do
secretário-geral da ONU.
“Não
tem vergonha de si próprio?”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros
israelita, Eli Cohen, que estava presente na sessão da ONU e cancelou uma
reunião planeada com o secretário-geral.
As
declarações de Guterres foram também alvo de críticas de familiares dos reféns
do grupo islamita Hamas, que as consideraram “escandalosas”.
“Que
vergonha dar legitimidade a crimes contra a humanidade quando se trata de
judeus! As declarações do secretário-geral da ONU são escandalosas!”, afirmou o
grupo de famílias dos cerca de 220 sequestrados num comunicado.
“Crianças
foram queimadas vivas, mulheres foram violadas e civis foram torturados e
assassinados a sangue frio. Tudo com o objetivo de aniquilar todos os
israelitas e judeus na área capturada pelo Hamas”, observaram as famílias.
Outras
críticas a Guterres, antigo primeiro-ministro português, vieram também do líder
da extrema-direita italiana e vice-primeiro-ministro de Itália, Matteo Salvini,
que as considerou “graves e inaceitáveis” porque, defendeu, “não pode haver
justificação para o terrorismo”.
Outras
críticas vieram do Reino Unido que, através do secretário de Estado para a
Imigração, Robert Jenrick, apelou a Guterres para se “retratar” dos seus
comentários, negando que Israel tenha violado a lei no seu cerco a Gaza.
“O
Reino Unido não acredita que Israel tenha violado o direito internacional.
Existe um direito claro no direito internacional de uma nação se defender e é
isso que Israel está a fazer”, insistiu Jenrick.
Já
hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho,
referiu à agência Lusa que Portugal “compreende e acompanha” a posição de
Guterres sobre o conflito entre Israel e o Hamas, que motivou um pedido de
demissão do secretário-geral da ONU por Telavive.
“Compreendemos
e acompanhamos inteiramente a posição de António Guterres, que foi inequívoco
quando condenou o terrorismo do Hamas, que é absolutamente inaceitável. Foi
absolutamente cristalino na análise que fez”, afirmou Cravinho, que lamentou
esta polémica entre o Governo de Israel e o secretário-geral da ONU.
Para
o Governo português, “não há forma nenhuma de dizer que António Guterres está
de alguma maneira a desculpabilizar o terrorismo”.
Tal,
acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa, “é um erro absoluto que não se
pode deixar passar em branco”. ANG/Inforpress/Lusa
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