China/Antigo primeiro-ministro Li Keqiang vai ser cremado após dias de
homenagens e censura
Bissau,31 out 23 (ANG) – Os
restos mortais do antigo primeiro-ministro chinês Li Keqiang vão ser cremados
na quinta-feira em Pequim, após a realização de homenagens em várias
partes da China, apesar dos esforços do regime para conter demonstrações
públicas.
Li Keqiang, que exerceu o
cargo de primeiro-ministro entre 2013 e 2023, morreu subitamente, aos 68 anos,
de ataque cardíaco, na sexta-feira passada. Ele era um economista fluente em
inglês, que pertencia a uma geração de políticos formados numa época de maior
abertura da China às ideias liberais ocidentais.
O primeiro-ministro perdeu,
no entanto, grande parte da sua influência à medida que o Presidente chinês, Xi
Jinping, centralizou o poder e priorizou a segurança do regime comunista, em
detrimento do crescimento económico.
Funcionários em empresas
estatais ouvidos pela agência Lusa contaram terem sido advertidos pelas chefias
para não partilharem mensagens de condolências nas redes sociais.
Também o portal China
Digital Times, que acompanha o conteúdo bloqueado pelos censores chineses,
divulgou instruções dadas a um órgão de comunicação social chinês pelas
autoridades: “As caixas de comentários devem ser bem geridas. Cuidado com
comentários ‘excessivamente efusivos’” sobre Li, que competiu com Xi Jinping
pelo cargo de secretário-geral do Partido Comunista até 2012.
Nos últimos dias, porém,
milhares de pessoas reuniram-se em cidades ligadas à vida e à carreira de Li
Keqiang para lhe prestar homenagem, depositando numerosas flores em locais que
lhe ficaram associados.
As suas antigas residências
na sua província natal de Anhui, no leste do país, e partes da cidade de
Zhengzhou, a capital da província central de Henan, onde foi governador, foram
visitadas por milhares de cidadãos para o homenagear com flores ou três laços,
seguindo a tradição local.
Na rede social Weibo, as
mensagens de condolências e os comentários em resposta às publicações oficiais
sobre a sua morte foram objeto de forte censura logo após o anúncio.
Apesar de as palavras-chave
relacionadas com a morte de Li terem registado mais de 11,5 milhões de
visualizações nos minutos que se seguiram à notícia, muitos comentários
permaneceram invisíveis, após terem sido “filtrados” ou “selecionados”, segundo
a plataforma.
As mortes de antigos
dirigentes do país são frequentemente momentos de grande tensão para o aparelho
de Estado chinês, com as vigílias e o luto por vários funcionários a servirem
no passado de catalisador de descontentamento, cristalizando-se em protestos.
O luto pela morte do
político reformista Hu Yaobang, no dia 15 de abril de 1989, tornou-se no
gatilho para os protestos estudantis em larga escala que culminaram no massacre
da Praça Tiananmen, na noite de 03 para 04 de junho.
“Por vezes, elogiar o
caminho não percorrido equivale a comentar sobre o caminho que foi percorrido”,
observou Wen-Ti Sung, membro no grupo de reflexão Atlantic Council Global China
Hub. “Para alguns, Li Keqiang representava uma atitude relativamente mais
relaxada no que respeita às relações entre o Estado e a sociedade. Ele defendia
a concessão de mais espaço às forças da sociedade e do mercado”, explicou.
A agência noticiosa oficial
Xinhua informou hoje que as bandeiras vão ser hasteadas a meia haste nos
edifícios oficiais de toda a China, incluindo Hong Kong e Macau, e nas
embaixadas do país no estrangeiro.
O protocolo para Li Keqiang, cujos restos mortais foram transferidos para Pequim no mesmo dia da sua morte, é comparável ao seguido após a morte, em 2019, de Li Peng, também antigo primeiro-ministro.ANG/Lusa
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