Política/Acordo entre PRS e APU-PDGB revela
"oportunismo político", diz Diamantino Lopes
Bissau, 16 Jan 24 (ANG) - Os partidos políticos PRS e APU-PDGB assinaram um acordo político com o objetivo de concorrerem juntos às próximas eleições.
O Presidente do PRS, Fernando Dias, e o líder da APU-PDGB, Nuno Nabiam, reconheceram a importância desta aliança, após várias tentativas de aproximação, sublinhando que as duas formações têm a mesma base sociológica eleitoral. Em entrevista a RFI, Diamantino Lopes, analista político, considera que este acordo revela mais um episódio de oportunismo político.
RFI: Qual a importância
do acordo político entre o PRS e a APU-PDGB?
Diamantino Lopes, analista político
guineense: Representa a aproximação política entre duas forças que têm a mesma
base identitária do ponto de vista étnico, geográfico. Depois há a questão do
líder político Kumba Ialá que participou na formação do PRS e colocou Nuno
Nabiam na arena política guineense.
Porque é que só foi
feito agora?
O contexto político que se vive atualmente
poderá ter influenciado, no entanto há uma "obsessão" que surpreende.
Porque, recentemente, o PRS esteve numa relação de acordos com a coligação
PAI-Terra Ranka, os partidos tiveram um acordo de incidência parlamentar para
suportar o Governo, mas que não deu certo.
Os partidos [PRS e APU-PDGB] perceberam que o número de deputados obtidos nas últimas eleições legislativas, foram pouco expressivos. [Com este acordo] os partidos vão testar para ver o que vai acontecer.
O acordo de incidência de parlamentar feito entre o PRS e o PAI-Terra Ranka não resultou. De quem foi a culpa?
A queda do Parlamento e do Governo já era
perspectivada antes da tomada de posse. Agora, o pagamento de seis mil milhões
de francos CFA [a 11 empresários, através de um crédito a um banco comercial de
Bissau] foi a gota que fez transbordar a água do copo. Todavia, a decisão de
dissolver o Parlamento é ilegal, uma vez que não têm bases jurídicas
constitucionais para o efeito.
Face a esta situação de
ilegalidade, que validade tem este acordo?
O PRS, enquanto partido político, que fez
parte dessa coligação, deveria ter uma posição diferente. O PRS nunca condenou
a dissolução do Parlamento. Não obstante, sabe que se trata de uma decisão
ilegal.
Quem é que sai a ganhar
com este acordo?
Ninguém sai a ganhar. Só temos um perdedor
que é o povo.
Se olharmos para os
resultados das últimas eleições legislativas, o PRS elegeu 12 deputados e a
APU-PDGB obteve um deputado. Quem vai ganhar? Nuno Gomes Nabiam?
Nuno Nabiam quer ser Presidente da
República e o PRS, neste momento, não tem uma figura para assumir o cargo de
chefe de Estado. Nabiam preenche muito bem esse espaço. Portanto, ambos ficam a
ganhar. Os partidos vão-se juntar nas eleições legislativas [ainda sem data
marcada] e nas presidenciais vão apoiar Nuno Gomes Nabiam. Porém, numa
perspectiva política geral e social, temos um perdedor que é o povo.
Certamente, o povo vai tomar uma decisão [no próximo escrutínio].
O próximo passo será uma
aliança com o MADEM-G15? Como já anunciou o líder do PTG, Botche Candé….
Pode ser. Uma aliança entre o PRS,
APU-PDGB, MADEM-G15 e PTG. Temos duas variantes interessantes: o PRS e o
APU-PDGB são partidos muitos próximos, étnica e geograficamente, as suas bases
estão nas mesmas regiões. O PTG e o MADEM-G15 são a mesma coisa, tendo
proximidade identitária étnica, exploram a mesma base política.
No entanto, vamos ter mais um problema para
o futuro. Isto porque todos esses partidos são traidores e já provaram a
negatividade na gestão pública do país. Já provaram que politicamente não são
sérios, agem por conveniência. Os problemas do país não têm interesse, o essencial
é solucionar os interesses do grupo, dos partidos. Esses partidos gerem o país
como se fosse uma empresa.
Está a afirmar que há um certo oportunismo político?
Lógico que se trata de um oportunismo
político. Estes partidos vivem da política. Não vivem para servir ao povo, mas
para se servirem a si mesmos.
O Presidente da
República, Umaro Sissoco Embaló, falou numa decisão sábia. Que comentário lhe
merece esta afirmação?
Quem vai sofrer muito com isso é Umaro
Sissoco Embaló. Isto porque cada uma dessas figuras políticas tem uma agenda
própria. Nuno Nabiam quer ser Presidente da República, Braima Camará pode
espreitar essa possibilidade e até Botche Candé pensa nisso. Todos viram que é
possível e quando chegar o momento D -as presidenciais- vamos ter uma história
muito bonita para contar.
Portanto, a união desse grupo será, de
certo modo, a explosão do mesmo grupo. Isto resulta dos interesses comuns e do
ego de superioridade. O Presidente da República vive desse ego de superioridade
e os outros já têm a noção de que isso é possível chegar onde Sissoco Embaló
chegou. ANG/RFI
Sem comentários:
Enviar um comentário