ONU/Até 400 milhões de pessoas poderão ser deslocadas pela subida do nível do mar
Bissau,15 Fev 23(ANG) – O ritmo atual de subida do nível do mar levará entre 250 e 400 milhões de pessoas a precisarem “de novas casas, em novos locais” em menos de 80 anos, alertou hoje o presidente da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Num debate aberto de
nível ministerial sobre o aumento do nível do mar e as suas implicações
para a paz e segurança internacional, no Conselho de Segurança das Nações
Unidas (ONU), Csaba Korosi citou dados do Programa Mundial de
Investigação Climática que dão conta de um aumento do nível do mar de
1 a 1,6 metros até 2100.
Korosi frisou que o
deslocamento de centenas de milhões de pessoas associado a esse aumento,
representará um risco à segurança internacional.
Csaba Korosi levantou
ainda questões de soberania territorial, indicando que a subida do nível
do mar induzido pelas alterações climáticas também está a provocar novas
questões legais que estão no cerne da identidade nacional.
“O que acontece com a
soberania de uma nação, ou membro da ONU, se ela afundar no mar? Existem regras
sobre a criação de Estados, mas nenhuma sobre seu desaparecimento físico. Quem
cuida das populações deslocadas? Ou como as primeiras mudanças nas linhas
costeiras influenciariam as fronteiras marítimas? E como isso afetaria as zonas
económicas exclusivas?”, questionou o presidente da Assembleia-Geral da ONU.
“Com boa parte da
agricultura global concentrada em planícies costeiras e ilhas baixas, o aumento
do nível do mar também está a trazer à tona questões de longo prazo sobre a
sobrevivência da humanidade”, observou ainda o diplomata húngaro.
Apesar de salientar que
a Comissão de Direito Internacional e o Sexto Comité da Assembleia-Geral
assumiram uma postura proativa ao considerar essas questões para debate
urgente, Korosi pediu uma maior ação climática.
“Conhecemos os riscos e
vemos as incertezas e instabilidades que vamos enfrentar. E não podemos duvidar
que isso abrirá as portas para conflitos e disputas, colocando em risco a paz e
a segurança globais. E onde esta porta estiver aberta, este Conselho tem a
responsabilidade de agir”, disse ainda, dirigindo-se ao Conselho de Segurança
da ONU, responsável por zelar pela paz e segurança internacionais.
É fundamental investir
na prevenção hoje, em vez de abordar as implicações da escassez de alimentos ou
da migração amanhã, sublinhou ainda Korosi.
“Já temos crises suficientes
para lidar. (…) Imploro ao Conselho que assuma o seu papel nesse esforço
coletivo. Se não, temo que a Assembleia-Geral da ONU em 2050 represente menos
de 193 Estados-Membros”, concluiu, aludindo a um eventual desaparecimento de
Estados devido à subida do nível do mar.
A reunião de hoje,
presidida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Malta, Ian Borg,
contou ainda com um ‘briefing’ do secretário-geral da ONU, António
Guterres, que afirmou que os “mares a subir são futuros a
afundar”, frisando que a elevação do nível do mar é um multiplicador
de ameaças.
Citando dados da
Organização Meteorológica Mundial, Guterres afirmou que os níveis médios
globais do mar aumentaram mais rapidamente desde 1900 do que em qualquer século
anterior nos últimos 3.000 anos.
Além disso, o oceano
como um todo aqueceu mais rápido no último século do que em qualquer outro
momento nos últimos 11.000 anos, referiu.
De acordo com o
ex-primeiro-ministro português, o perigo é especialmente agudo para quase
900 milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras: “uma em cada dez
pessoas” no mundo.
“As consequências de
tudo isto são impensáveis. Comunidades de baixa altitude e países inteiros
podem desaparecer para sempre. Assistiríamos a um êxodo em massa de populações
inteiras em escala bíblica e veríamos uma competição cada vez mais acirrada por
água doce, terra e outros recursos”, anteviu António Guterres, indicando que a
elevação do nível do mar já está a criar novas fontes de instabilidade e
conflito.
A subida do nível do mar
e outros impactos climáticos já estão a forçar algumas realocações em locais
como Fiji, Vanuatu, Ilhas Salomão, entre outros, de acordo com a ONU.
Malta, que preside este
mês ao Conselho de Segurança da ONU, indicou que o objetivo deste debate
aberto é explorar como o órgão pode enfrentar os riscos associados ao aumento
do nível do mar na arquitetura da segurança global e investir em mecanismos
preventivos. ANG/Inforpress/Lusa
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