Tunísia/Migrantes subsaarianos vítimas de agressões depois de um discurso “racista e de ódio” do presidente Kaïs Saïed
Bissau, 28 Fev 23 (ANG) - Vários migrantes relatam ter sido vítimas de agressões, na Tunísia,dias depois de o Presidente Kais Saied ter falado em "chegada de bandos de clandestinos" e em "estratégia criminosa para mudar a composição geografica do país".
Estas declarações foram condenadas pela União
Africana que pediu aos seus Estados-membros para se absterem de "qualquer
discurso de ódio de teor racista e que possa prejudicar as pessoas".
Várias agressões
ocorreram em todo o país desde que Kaïs Saïed, presidente da Tunísia,
pronunciou na terça-feira, dia 21 de Fevereiro, um discurso que associações
alertaram ser "racista e de ódio", em que os imigrantes
clandestinos eram designados como "massas incontroláveis" que
teriam o objectivo de transformar a Tunísia num "país únicamente
africano" arrancando-o às "nações arabo-muçulmanas".
Desde esse dia têm-se multiplicado os
testemunhos de vítimas de agressões, todos elas contra migrantes subsaarianos.
No sábado, quatro migrantes foram atacados com arma branca em Sfax, a Leste do
país, outras quatro jovens estudantes foram agredidas à saída da sua residência
universitária em Tunes, na capital, e uma cidadã do Gabão foi agredida quando
saía do seu domicílio, também em Tunes.
Todas estas agressões terão sido
silenciadas na Tunísia. Relata-se que os meios de comunicação locais não
noticiaram nada acerca dos acontecimentos em Sfax e que as associações foram as
únicas a divulgar o testemunho das quatro vítimas, transportadas para o
hospital depois do ataque.
As associações de estudantes apelaram os
seus colegas a não sair de casa. Nos
arredores da cidade de Tunes, no bairro de Bhar Lazreg, onde habitualmente subsaarianos coabitam com tunisinos,
muitos preferem agora fechar-se em casa. Um cidadão
marfinense que vive nesse bairro testemunhou:
Desde que esses acontecimentos começaram,
e depois do primeiro discurso do presidente, há agressões todas as noites, há
tunisinos a entrarem nas casas, a vandalizarem casas e a cometerem roubos.
Actualmente, há pessoas encurraladas em bairros onde nem podem sair à rua para
comprar comida.
O marfinense em causa disse ainda
que se vai apresentar na segunda-feira, 27 de Fevereiro, na embaixada da Costa
do Marfim, com a mulher e filha, para regressar ao seu país, depois de 8 anos
vividos na Tunísia.
Desde o discurso
de Kaïs Saïed, as autoridades detiveram e colocaram sob custódia policial uma
centena de migrantes em situação irregular, acusados de "entrada ilegal
no território".
A União Africana
reagiu e condenou as declarações do presidente Kaies Saied que considerou serem
"chocantes". ANG/RFI
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