Portugal/Guterres pede “rotas seguras e legais” após 59 mortos em naufrágio na Calábria
Bissau, 27 Fev 23(ANG) – A ONU apelou no domingo para que sejam garantidas “rotas seguras e legais” no Mar Mediterrâneo, na sequência de um naufrágio que matou pelo menos 59 migrantes ao largo da costa da Calábria, em Itália.
“Outro horrível
naufrágio ceifou a vida de dezenas de pessoas, incluindo crianças, desta vez na
costa de Itália. Repito: todos aqueles que procuram uma vida melhor merecem
segurança e dignidade”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, sobre o
naufrágio ocorrido na madrugada de domingo.
“Precisamos de rotas
seguras e legais para migrantes e refugiados”, acrescentou António Guterres.
O Alto Comissário da ONU
para os Refugiados, Filippo Grandi, mostrou-se chocado com o sucedido e indicou
que “é hora de os Estados pararem de discutir e chegarem a um acordo sobre
medidas justas, efetivas e partilhadas para evitar mais tragédias”.
Já a Agência das Nações
Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as
Migrações (OIM), liderada pelo português António Vitorino, reiteraram que os
mecanismos de resgate da União Europeia são necessários. Os estados-membros
devem “aumentar os recursos e as capacidades para cumprirem eficazmente as suas
responsabilidades”, referiram.
Uma ideia sublinhada em
comunicado pela representante da ACNUR para Itália, Santa Sé e São Marino, que
notou que, “num contexto histórico caracterizado por pessoas que fogem de
conflitos e perseguições, é mais necessário do que nunca fortalecer a
capacidade de resgate, que ainda é insuficiente, para evitar tragédias como
esta”.
“É inaceitável
testemunhar tais horrores, com famílias e crianças confinadas a navios
arruinados e não navegáveis. Esta tragédia deve-nos levar a agir e a agir de
imediato”, afirmou Chiara Cardoletti.
Pelo menos 59 pessoas
morreram quando um barco com migrantes se afundou perto da cidade italiana de
Crotone, de acordo com o último balanço feito por um autarca daquela localidade
na Calábria, no sul de Itália.
“Até alguns minutos, o
número de vítimas confirmadas era de 59”, disse Vincenzo Voce ao canal de
notícias Sky TG-24, às 16:00 de domingo (15:00 em Lisboa).
No anterior balanço, as
equipas de socorro italianas davam conta de 45 corpos de migrantes encontrados
e 80 sobreviventes do naufrágio, mas receavam que pudesse haver mais vítimas
mortais.
Entre as vítimas encontram-se
muitas crianças, incluindo um recém-nascido, e mulheres, segundo relatos dos
socorristas.
A primeira-ministra
italiana, Giorgia Meloni, expressou, em comunicado, “profundo pesar” pela
tragédia e disse que era “criminoso colocar um barco de 20 metros com 200
pessoas a bordo e uma previsão de mau tempo” no mar.
A incerteza quanto ao
número de vítimas deve-se a diferentes relatos dos sobreviventes quanto às
pessoas que viajavam no barco que naufragou.
O número de passageiros
adiantado por sobreviventes varia entre 150 e 250, disseram elementos das
equipas de socorro, admitindo haver dificuldades de comunicação com os
migrantes por causa das diferenças linguísticas.
A imprensa italiana
noticiou que os migrantes são do Iraque, Irão, Síria e Afeganistão, depois de
inicialmente também ter sido referida a presença de paquistaneses.
Segundo a guarda
costeira, o barco partiu-se nas rochas a poucos metros da costa, numa altura em
que o mar estava muito agitado.
As imagens da polícia
italiana mostravam destroços de madeira espalhados ao longo de uma centena de
metros de praia, onde muitos socorristas e sobreviventes estavam à espera de
serem transferidos para um centro de receção.
O naufrágio ocorreu
poucos dias depois de o parlamento italiano ter aprovado novas regras
controversas sobre o resgate de migrantes, formuladas pelo executivo dominado
pela extrema-direita.
Meloni, líder do partido
de extrema-direita Fratelli d’Italia, assumiu a chefia de um governo de
coligação em outubro de 2022, após prometer reduzir o número de migrantes que
chegavam a Itália.
A nova lei obriga os
navios humanitários a efetuar apenas um salvamento de cada vez, o que, segundo
os críticos, aumenta o risco de morte no Mediterrâneo central, que é
considerado a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.
A localização geográfica
da Itália torna-a um destino privilegiado para os requerentes de asilo que se
deslocam do Norte de África para a Europa e Roma há muito que se queixa do
número de chegadas no seu território.
Em reação à tragédia, a
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a presidente do
Parlamento Europeu, Roberta Metsola, pediram aos Estados-membros que acelerem
um acordo sobre política migratória.
Segundo o Ministério do
Interior, quase 14 mil migrantes desembarcaram em Itália desde o início do ano,
contra cerca de 5.200 durante o mesmo período do ano passado e 4.200 em 2021.
ANG/Inforpress/Lusa
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