Pescas/ Pesca ilegal na Guiné-Bissau põe em causa espécies cuja captura é proibida
Bissau, 01 Nov 23 (ANG) - Águas
territoriais da Guiné-Bissau e inclusivamente
suas áreas protegidas têm sido palco de abusos por parte de pescadores
vindos do exterior, revela engenheiro de pescas ligado ao IBAP em entrevista a
RFI
"Raias e tubarões
são espécies ameaçadas e são interditas de captura, não só a nível da
Guiné-Bissau mas a nível sub-regional. Existe um plano sub-regional para a
conservação de raias e tubarões. Várias vezes tive oportunidade de participar
nas atividades de fiscalização com a equipa de diferentes direções das áreas
marinhas protegidas, para fazer o seguimento, para controlar. Uma vez,
apreendemos uma piroga que tinha vindo do Gana. O alvo do ganês é raias e
tubarões porque aquilo dá muito dinheiro (...). Aqui na Guiné-Bissau, alguns
pescadores fazem captura às vezes acidental, esporádica que talvez não tem
impacto no meio ambiente, mas quando se trata de outros países, como é o caso
concreto do Gana, é pesca comercial de grande escala", refere o
estudioso.
Muitos daqueles que praticam a pesca ilegal
na Guiné-Bissau vêm dos países da região, nomeadamente do Senegal, da Serra
Leoa ou ainda da Gâmbia, refere João Sousa Cordeiro. "Normalmente, o que nós
constatamos, pelos nossos relatórios, os senegaleses também pescam muito nas
nossas águas (...). Há informação de que há escassez de recursos ao nível de
certos países, como é o caso concreto do Senegal. Isto faz com que os pescadores
senegaleses venham à Guiné-Bissau à procura de recursos haliêuticos. Não só os
senegaleses, mas também os serra-leoneses, os gambianos. São muitas
nacionalidades que vêm praticar a atividade de pesca ilegal dentro do
território da Guiné-Bissau também devido à fragilidade da fiscalização" refere
o engenheiro para quem esta situação "poderá comprometer futuramente o reconhecimento da
Reserva de Biosfera (do Arquipélago Bolama Bijagós) como Património Natural
Mundial".
Com efeito, este responsável refere que são
numerosos os vastos acampamentos de pescadores vindos do exterior que se
estabelecem em zonas onde não é suposto capturarem pescado. "Se analisamos uma das
ameaças que existem dentro da reserva da biosfera que é a proliferação dos
acampamentos (de pescadores ilegais), será que há uma ou outra instituição que
ganha ou não com isso? Claro que sim. Devido à falta de recursos financeiros,
às vezes algumas pessoas responsáveis das instituições do Estado vão cobrar
dinheiro aos pescadores que estão nos acampamentos. Devem pagar porque estão
dentro do acampamento de pesca independentemente da licença de pesca que já
pagaram. Quando você vai à procura de dinheiro, você está a legalizar de uma
forma indireta. Se houvesse sensibilidade dos nossos dirigentes em relação ao
meio ambiente e em relação aos recursos naturais, teriam que negociar com estas
pessoas porque são os nossos vizinhos, não são de forma nenhuma os nossos
inimigos, poderíamos discutir com eles para saírem das zonas sensíveis, das
zonas de reserva (...), e arranjarmos locais mais perto das grandes cidades nas
quais poderão continuar a praticar a atividade de pesca",
diz João Sousa Cordeiro.
Questionado sobre a fase em que se encontra
a candidatura Reserva de Biosfera do Arquipélago Bolama Bijagós a Património
Natural Mundial da Unesco, o especialista enuncia alguns dos elementos que o
país pretende colocar em destaque nesta nova candidatura, depois de ter
fracassado em 2012. "Utilizamos
diferentes tipos de critérios que têm a ver com a beleza natural. Mas do ponto
de vista técnico, escolhemos alguns valores naturais excepcionais que nós
achamos que tem importância global, como por exemplo, as tartarugas marinhas. O
Parque Nacional Marinho João Vieira e Poilão é o terceiro lugar de desova das
tartarugas marinhas praticamente no mundo, temos as aves migratórias, temos
vários bancos de areia, grandes extensões, temos ecossistemas de mangais, então
são alguns valores excepcionais com valor global. Esses valores têm que ser
muito bem explicados e temos de ter a capacidade de explicar a curto, a médio e
longo prazo como é que nós vamos conservar esses valores",
refere o engenheiro de pescas.
Para João Sousa Cordeiro, é urgente que o
país consiga obter para a Reserva de Biosfera do Arquipélago Bolama Bijagós o
estatuto de Património Natural Mundial da Unesco, numa altura em que circulam
informações insistentes sobre a possibilidade de existir petróleo nas águas
territoriais da Guiné-Bissau. "Se
um dia, o governo decidir fazer a exploração de petróleo, o que é que vamos
fazer? Será que vamos pôr em causa o sítio do Património Natural Mundial? Por
isso é que eu acho que é pertinente que os Bijagós sejam reconhecidos como
Património Natural Mundial, porque aí já é da Humanidade. Mesmo que o governo
venha a ter intenção de fazer exploração de petróleo, tem que respeitar as
regras e convenções internacionais porque engajou",
considera o técnico. ANG/RFI
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