"O desafio
é resgatar Guiné-Bissau após 45 anos de independência", diz Zé Manel
Bissau,27 Set 18
(ANG) – José Manuel Fortes conhecido no mundo musical por Zé Manel lança neste mês
o quinto álbum de originais com doze faixas, intitulado "Nha Alma" que
apela à mobilização geracional, dando eco à voz do povo guineense que acredita
numa "nova esperança".
O músico guineense
considera que, 45 anos após a independência, a Guiné-Bissau está numa situação
muito confusa, e que a prioridade neste momento deveria ser resgatar e salvar o
país e só depois pensar nos projetos de desenvolvimento.
Numa entrevista a
DW África o músico afirma que desde a independência do país (24 de setembro de
1973), a cultura e o desporto foram as áreas que mais evoluíram na Guiné-Bissau,
em detrimento de outras vitais para o desenvolvimento do país.
"Acho que a
preocupação agora não é o desenvolvimento, mas sim resgatar o país. Porque
desenvolvimento quando temos um Estado extremamente frágil como o nosso não é
viável.
Vejam o estado em que se encontram as estradas, hospitais, escolas ou
infraestruturas que temos desde a independência. Nem conseguimos reparar as
infraestruturas que os portugueses deixaram", disse a gesticular e em tom
irritado o músico guineense que patenteia a sua revolta face à degradação
em que se encontra o seu país.
Zé Manel critica o
que considera ser a pouca sensibilidade dos governantes guineenses para com o
setor da cultura, embora esteja certo de que a melhor fase da Guiné-Bissau como
país foi a década de 80, porque na época havia, de facto, um Estado digno desse
nome, que infelizmente hoje se desmoronou.
"Da parte do
Estado houve algum incentivo à cultura por parte do então Presidente Luís
Cabral. Sim, esse homem tinha sensibilidade e nessa época havia um Estado que
hoje não funciona. Isto está tão baralhado que não se vê a cultura. Falta
incentivo e sensibilidade das autoridades”, disse o músico que considera que depois
de Luís Cabral o setor da cultura nunca mais foi uma prioridade para os
sucessivos dirigentes guineenses.
Segundo Zé Manel,
não é só apoiar pontualmente um ou outro artista que significa desenvolver a
cultura. "É preciso pôr a cultura na linha de frente à escala nacional e
injetar dinheiro tal como se faz em Angola, Cabo-Verde e noutros países.
Ninguém pode promover um país sem cultura e no caso concreto da
Guiné-Bissau temos um mosaico cultural extremamente rico", destaca o
cantor que está prestes a lançar o seu quinto álbum,Nha Alma, que
significa “Minha Alma”.
José Manuel Fortes
ou simplesmente Zé Manel, ajudou a fundar quando tinha oito anos de idade,
aquela que viria a ser a mítica banda musical da Guiné-Bissau, o Super Mama
Djombo, onde começou como baterista do grupo.
A banda foi
fundada por escuteiros nos anos 70 e rapidamente se tornou num grupo de
referência no país e na diáspora por causa das suas músicas revolucionárias
cantadas, em crioulo, mandinga e balanta, precisamente para despertar a
consciência dos guineenses sobre os ideais da luta de libertação nacional.
As músicas do Mama
Djombo insistiam na consolidação dos valores guineenses pós-independência,
fomentando a autoestima e o patriotismo, mas sobretudo resgatando identidades
locais marginalizadas durante o período colonial.
Após mais de 15
anos no grupo, Zé Manel deu início à uma carreira a solo, tendo editado 4
álbuns de originais e o quinto, será lançado neste mês de setembro, com o
título "Nha Alma" ,no qual interpreta o "sentimento do
povo guineense sobre a Guiné-Bissau de hoje".
Com este novo trabalho, o
músico guineense pretende preservar a sua identidade musical unindo as
culturas, tal com fazia no passado quando pertencia ao Mama Djombo.
"Eu tinha 8
anos quando começamos o projeto Mama Djombo no escutismo. Com 17 anos escrevia
canções de amor e depois, com 20 anos, a rota mudou e comecei a escrever coisas
muito mais sérias.
Com 22 anos de
idade gravou o primeiro álbum que foi o cartão de visita para o cantor. No
“Testemunhos de Ontem”, lançado em 1982, Zé Manel criticava e ao mesmo tempo
denunciava as más práticas do regime de partido único (PAIGC) que vigorou no
país logo após a independência, uma "ousadia" para muitos mas que deu
ao músico uma grande projeção a nível nacional e internacional.
"As
letras refletem o dia-a-dia da sociedade, os nossos problemas, as nossas
derrotas ou sentimentos. Aquele disco foi feito na realidade de ontem, na
atmosfera de ontem para aquela geração. Mas a boa música não tem geração e pode
durar uma eternidade” sustentou.
Para muitos
guineenses, Zé Manel, hoje com mais de 40 anos de uma carreira, com muitos
prémios e várias atuações, atingiu o pódio pela força das suas letras que
espelham a verdadeira dinâmica da sociedade. Com o álbum "Maron di
Mar" (Ondas do Mar), em 2001, obteve vários prémios internacionais, com
destaque para a nomeação como o melhor álbum no "All Kora Music
Awards", na África do Sul e para o melhor disco no "Just Plain Folks
Music Awards", na Califórnia, Estados Unidos da América. ANG/DW África
Sem comentários:
Enviar um comentário