Antigo PGR diz que corrupção é "endémica e sistémica" no país
Bissau,19 Set 18(ANG) - O antigo procurador-geral
da República Hermenegildo Pereira disse terça-feira que o poder judicial
guineense não controla a corrupção no país, que é "endémica e
sistémica".
Hermenegildo Pereira |
Hermenegildo Pereira falava num seminário
organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), subordinado ao tema
"Apoio ao combate à corrupção na Guiné-Bissau", que decorre até
quarta-feira em Bissau.
Na intervenção durante o debate, o antigo
procurador-geral da República fez uma radiografia da atuação do poder judicial
guineense, considerando que não controla a corrupção por falta de mecanismos,
que os governantes "acabam por ser comerciantes", que a corrupção
"é endémica e sistémica" e que se nada for feito "poderá vir a
ser tarde".
Victor Bacurim, um magistrado e membro da equipa de
inspeção do Ministério Público, corroborou as palavras de Hermenegildo Pereira
e destacou que o poder judicial guineense "está hoje completamente
dividido, de acordo com as cores políticas" dos atores.
No discurso de abertura do seminário, o ministro da
Presidência do Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares, Agnelo Regalla,
afirmou que "o sinal mais evidente" de que o fenómeno da corrupção
"é encarado com toda a naturalidade" é constatar que os que ostentam
sinais exteriores de riqueza duvidosa são elogiados ao invés do mérito pelo
trabalho ou competência técnica e profissional.
O adjunto do representante do secretário-geral da
ONU na Guiné-Bissau, o australiano David Maclachlan-Karr, enfatizou que, apesar
de o país contar com uma legislação e mecanismos de luta contra a corrupção,
deve haver "um forte compromisso do Estado e da sociedade" para
implementação dos mesmos, assim como uma cooperação internacional para atacar o
fenómeno.
O seminário junta técnicos do governo, da
Presidência da República, do parlamento, académicos e elementos de organizações
da sociedade civil, e está a analisar os mecanismos de controlo financeiro,
auditoria e gestão do Orçamento Geral do Estado, bem como o papel do poder
judicial na luta contra a corrupção.
Os meandros da concessão de licenças, pelo Estado,
para exploração de recursos minerais, nomeadamente o petróleo e as areias
pesadas, o corte da floresta para extração da madeira, e as pescas são dos
temas em análise no seminário. ANG/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário