Líder comunitária confirma fim da mutilação genital feminina
Bissau,17 set 18(ANG) – A líder das mulheres de
Cutia, Binta Mandjam, no norte da Guiné-Bissau, afirmou perante duas
secretárias de Estado portuguesas que «há muito que não se pratica o fanado»,
como é conhecida a prática da mutilação genital naquela comunidade.
Imagem Ilustrativo |
Cutia é uma das várias localidades guineenses
onde atuam organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau e de Portugal no
combate às práticas nefastas à saúde da mulher e da criança, nomeadamente os
casamentos precoce e forçado e, sobretudo, a mutilação genital feminina. O
Governo português é um dos principais financiadores das ações daquelas
organizações.
Durante uma visita de cinco dias, que terminou no
sábado, as secretárias de Estado portuguesas para Cidadania e Igualdade, Rosa
Monteiro, e da Saúde, Rosa Matos, visitaram várias comunidades na capital e no
interior da Guiné-Bissau para constatarem o que tem sido feito.
Na sexta-feira, as duas governantes portuguesas
foram às localidades de Cutia e Mansoa, onde conversaram com líderes
comunitários e chefes religiosos, os imãs.
No alpendre da casa do imã Bacar Seidi, em
Cutia, e perante cerca de duas dezenas de pessoas, na sua maioria mulheres, a
líder comunitária Binta Mandjam garantiu que na aldeia já não se pratica a
excisão e que se souber quem a faça vai denunciar a situação à presidente do
comité para o abandono das práticas nefastas à saúde da mulher e criança,
Fatumata Djau Baldé.
O único problema, disse Mandjam, é que não
tem um telemóvel para fazer as denúncias. O problema foi de pronto resolvido,
com Djau Baldé, antiga chefe da diplomacia guineense, a entregar dinheiro à
líder comunitária para que compre um aparelho.
As duas secretárias de Estado portuguesas
assistiram à conversa, tendo ambas deixado o apelo para o abandono da mutilação
genital feminina e para os pais levaram as meninas à escola.
«De agora em diante quem ousar fazer o
fanado, se eu souber, ligo-lhe diretamente e informo», declarou a líder das
mulheres de Cutia, dirigindo-se a Djau Baldé.
O compromisso de Binta Mandjam e a atitude de
Djau Baldé mereceram rasgados aplausos dos presentes que foram à casa do chefe
religioso Bacar Seidi, para acolherem as hóspedes portuguesas.
Em Mansoa, ativistas locais que trabalham na
sensibilização à população sobre os riscos da prática da mutilação genital
feminina também explicaram que o fenómeno «está a acabar», mas o médico Duarte
Castillo disse ser «difícil perceber se de facto há ou não a erradicação»
da excisão, já que, regra geral, as mulheres só vão ao médico no trabalho
do parto.
O ativista Alfa Umaro de Mansoa contou à Lusa
que cada vez mais a excisão é feita às crianças de tenra idade, o que, disse,
se torna difícil saber, já que não há festas «como no passado» para anunciar
o acontecimento nas comunidades.
ANG/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário