Afeganistão/ONU pede fundos para que famílias deixem de vender bebés para comer
Bissau, 27 Jan 22(ANG) – Os talibãs devem reconhecer “os direitos humanos fundamentais de mulheres e meninas” e os fundos afegãos devem ser libertados para que as famílias não precisem de vender “bebés para comprarem comida”, referiu quarta-feira o secretário-geral das Nações Unidas.
Estes
apelos de António Guterres foram aceites e reivindicados pelo responsável
afegão nas Nações Unidas, durante uma reunião do Conselho de Segurança, noticia
a agência AFP.
“Instamos
os talibãs a aproveitarem este momento e conquistarem a confiança e a boa
vontade da comunidade internacional, reconhecendo – e defendendo – os direitos
humanos fundamentais que pertencem a todas as meninas e mulheres”, sublinhou o
diplomata português.
O
responsável das Nações Unidas manifestou-se “profundamente preocupado” com os
recentes relatos de prisões arbitrárias e sequestros de activistas, pedindo
“vigorosamente” a libertação destes.
Naseer
Ahmad Faiq, o actual responsável das Nações Unidas para o Afeganistão, desde a
saída, em meados de Dezembro, de um diplomata demitido pelos talibãs, interveio
no final da reunião, garantido falar “em nome do povo afegão” e não do antigo
governo derrubado em Agosto.
“Peço
aos talibãs que ponham fim às violações dos direitos humanos” denunciadas pelas
ONG, que “permitam que as mulheres trabalhem” e que “abram as portas das
escolas e universidades às raparigas”, atirou.
O
diplomata apelou ainda aos talibãs para que forneçam informações sobre o
paradeiro dos ativistas que desapareceram recentemente e que estes sejam
“libertados imediatamente”.
Ahmad
Faiq pediu também ao Conselho de Segurança que convoque uma “conferência
internacional para discutir temas intra-afegãos”, com o objectivo de alcançar
“a formação de um governo inclusivo e responsável, reformando a Constituição e
permitindo que os afegãos escolham os seus líderes através de eleições”.
O
secretário-geral da ONU já tinha anteriormente instado a “comunidade
internacional a fortalecer o seu apoio ao povo afegão”, em particular através
da libertação dos fundos congelados em Washington pelo Banco Mundial e Estados
Unidos, num momento em que o país do Médio Oriente está “no fio da navalha”.
“Mais
da metade dos afegãos enfrentam níveis extremos de fome” e “algumas famílias
estão a vender os seus bebés para comprar comida”, alertou o português.
Também
o embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, comentou esta situação extrema,
revelando que uma mulher “vendeu as suas duas filhas e um rim” para poder
alimentar a sua família.
“É
uma tragédia humana”, denunciou, pedindo implicitamente aos Estados Unidos que
levantem “sanções unilaterais” e permitam o acesso do Afeganistão aos fundos.
Os
EUA bloquearam quase 9,5 mil milhões de dólares (8,3 mil milhões de euros) em
reservas do Banco Central Afegão, o que equivale a metade do Produto Interno
Bruto (PIB) do país em 2020.
O
Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial também interromperam as
suas atividades no Afeganistão, suspendendo as ajudas e 300 milhões de euros em
novas reservas emitidas pelo FMI em Agosto.
António
Guterres argumentou que a economia afegã deve ser “reanimada” com mais
dinheiro.
“Sem
ação, vidas serão perdidas e o desespero e o extremismo aumentarão”, enquanto
um “colapso da economia afegã pode levar a um êxodo em massa de pessoas que
fogem do país”, alertou.
O
Afeganistão enfrenta uma grave crise económica, afetada pela escassez de
alimentos e crescente pobreza, intensificada com a chegada ao poder dos talibãs
em agosto.
O
país do Médio Oriente enfrenta também uma grave crise de liquidez, após
doadores internacionais terem suspendido a ajuda que suportava o orçamento
governamental há 20 anos.
ANG/Inforpress/Lusa
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