Burkina Faso/“Golpes de Estado são inaceitáveis” – António Guterres
Bissau, 26 Jan 22(ANG) – O secretário-geral das Nações Unidas disse hoje que os “golpes militares são inaceitáveis”, numa referência à situação no Burkina Faso, e apelou aos militares na África Ocidental para que “defendam o seu país, não que ataquem os seus governos”.
“Peço
às forças armadas desses países que assumam o seu papel profissional como
exércitos para proteger o país e restaurar as instituições democráticas”, disse
António Guterres, que falava à imprensa antes de uma reunião do Conselho de
Segurança da ONU sobre a protecção de civis em conflitos armados.
“O
papel dos militares deve ser defender o seu país e o seu povo, não atacar o seu
governo e lutar pelo poder”, insistiu, sublinhando que, na região, “grupos
terroristas” ameaçam a paz e a segurança internacionais.
Questionado
sobre as manifestações de apoio ao golpe militar no Burkina Faso, na sequência
do derrube do Presidente Roch Marc Christian Kaboré, António Guterres respondeu
ser “fácil” organizá-las.
“Há
sempre celebrações nesse tipo de situações”, disse, acrescentando: “É fácil
orquestrá-las, mas os valores da democracia não dependem da opinião pública num
momento ou outro”.
Centenas
de manifestantes manifestaram apoio nas ruas da capital burquinabê,
Ouagadougou, à ação dos militares e ao derrube de Kaboré, cuja “libertação
imediata” foi exigida pela ONU em Genebra.
Os militares
que iniciaram no domingo um golpe de Estado no Burkina Faso confirmaram na
segunda-feira, também numa declaração na televisão estatal, que tomaram o poder
e anunciaram a dissolução do Governo e do parlamento.
Na
aparição televisiva, em que surgiram mais de uma dúzia de militares, um
porta-voz, o capitão Sidsoré Kader Ouédraogo, leu dois comunicados, dando conta
que os militares puseram fim ao poder do Presidente burquinabê, Roch Kaboré,
que governava este país da África ocidental desde 20215.
Na mensagem,
o chamado Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração anunciou que
iria trabalhar para estabelecer um calendário “aceitável para todos” para a
realização de novas eleições, sem adiantar mais pormenores.
O
Presidente Kaboré, no poder desde 2015 e reeleito em 2020 com a promessa de
lutar contra os terroristas, tem vindo a ser cada vez mais contestado por uma
população atormentada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e
pela incapacidade das forças armadas do país responderem ao problema da
insegurança.
Kaboré
lidera o Burkina Faso desde que foi eleito, em 2015 (reeleito em 2020), após
uma revolta popular que expulsou o então Presidente, Blaise Compaoré, no poder
durante quase três décadas.
Ainda
que reeleito em Novembro de 2020 para mais um mandato de cinco anos, Kaboré não
conseguiu combater a frustração que tem vindo a crescer devido à sua
incapacidade de conter a propagação da violência terrorista no país.
Os
ataques ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico têm vindo a
aumentar sucessivamente desde a chegada ao poder do actual Presidente,
reclamando já milhares de vidas e forçando a deslocação de um número estimado
pelas Nações Unidas de 1,5 milhões de pessoas.
Também os militares vêm a sofrer baixas desde que a violência extremista começou em 2016. Em Dezembro último, mais de 50 elementos das forças de segurança foram mortos na região do Sahel e nove soldados foram mortos na região centro-norte em Novembro. ANG/Inforpress/Lusa
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