Mali/ “Persona non grata’ não é aplicável a pessoal da ONU”, diz Guterres
Bissau, 08 Fev 23(ANG) – O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lamentou hoje que o Governo de transição do Mali tenha declarado o seu diretor da divisão de direitos humanos como ‘persona non grata’, mas frisou que esse estatuto não é aplicável.
“O secretário-geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) lamenta profundamente que, em 05 de
fevereiro, o Governo de transição do Mali tenha declarado o diretor da divisão
de Direitos Humanos da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para
a Estabilização no Mali (Minusma) (…) como ‘persona non grata'”, indicou o
porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, em comunicado.
Guterres destacou a
“necessidade crítica” de as autoridades do Mali protegerem os direitos humanos,
com especial destaque para a liberdade de expressão, que considerou “crucial
para o funcionamento de uma sociedade democrática”.
O ex-primeiro-ministro
português observou então que “a doutrina de ‘persona non grata’ não é aplicável
ao pessoal das Nações Unidas” e “é contrária ao quadro jurídico aplicável às
Nações Unidas, inclusive no que diz respeito às obrigações decorrentes da Carta
da ONU e às relativas aos privilégios e imunidades da ONU e seu pessoal”.
O secretário-geral
aproveitou ainda para manifestar total confiança na Minusma e no “compromisso e
profissionalismo do seu pessoal” para implementar o mandato da missão de apoiar
o Mali e o seu povo, “inclusive na promoção e proteção dos direitos humanos”,
segundo o comunicado.
A junta militar no poder
no Mali desde o último golpe de Estado anunciou no domingo que Guillaume Ngefa,
diretor da divisão de Direitos Humanos da Minusma e representante do
alto-comissariado no país, foi declarado ‘persona non grata’.
Quando a decisão foi
anunciada, Guillaume Ngefa já estava fora do país, segundo a ONU.
O Governo atribui
atividades “desestabilizadoras e subversivas” a Ngefa, incluindo dar voz a
supostos representantes da sociedade civil que alimentariam visões “enganosas”
do que estaria a acontecer num país cada vez mais próximo da órbita da Rússia.
A Minusma, em
comunicado, sublinhou que a proteção dos direitos humanos “é uma componente
importante dos esforços de estabilização do Mali” e ofereceu uma “colaboração
aberta e transparente” com a junta militar no poder, liderada por Assimi Goita.
A missão da ONU no Mali
foi criada em 2013 para ajudar a estabilizar um Estado ameaçado de colapso sob
a ofensiva terrorista, proteger os civis, contribuir para o esforço de paz e
defender os direitos humanos.
O Mali foi palco de um golpe de Estado em agosto de 2020, liderado pelo coronel Assimi Goïta, que encenou um segundo golpe de Estado em maio de 2021, após desacordos com o primeiro governo de transição, e é atualmente o Presidente para o período de transição no país.
ANG/Inforpress/Lusa
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