Israel/Gaza vai ser o início de uma grande crise que vai atingir todo o Médio Oriente”
Bissau, 09 Out 23 (ANG)
- Israel anunciou um “cerco total” a Gaza, “sem eletricidade, comida e
combustível”, em resposta ao ataque sem precedentes do Hamas.
Foi a partir do enclave
palestiniano, onde vivem cerca de 2,3 milhões de pessoas, que o Hamas lançou os
ataques no sábado. Entretanto, o governo israelita recrutou 300 mil reservistas
para "ir para a ofensiva".
Ivo Sobral, especialista em Relações
Internacionais , alerta que “Gaza vai ser o início de uma grande crise que vai
atingir todo o Médio Oriente”.
Desde sábado e até esta segunda-feira, nos
dois lados do conflito, teriam morrido 1100 pessoas. De acordo com o ministério
da Saúde israelita, há mais de 700 mortos em Israel [incluindo as 250 pessoas
assassinadas numa festa de música perto da Faixa de Gaza], enquanto as
autoridades palestinianas apontam para 493 mortos palestinianos. Este é um
balanço sem precedentes na história de Israel, apenas comparável à primeira
guerra israelo-árabe de 1948. Por isso, é um momento “histórico” e que vai ter consequências para todo o Médio Oriente, alerta Ivo
Sobral, professor de Relações Internacionais na Universidade de Abu Dhabi.
O conflito começou no sábado, com o Hamas a
lançar um ataque surpresa contra o território israelita, com o lançamento de
mísseis e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar. Em
resposta, Israel fez bombardeamentos sobre a Faixa de Gaza, à qual anunciou um
"cerco total", esta segunda-feira, “sem eletricidade, comida,
combustível”. Foi a partir de Gaza, o enclave palestiniano onde vivem cerca de
2,3 milhões de pessoas, que o Hamas lançou a ofensiva sem precedentes.
Entretanto, o governo israelita também
recrutou um número recorde de 300 mil reservistas para "irem para a
ofensiva", de acordo com um porta-voz militar israelita. Os planos de
Israel de uma ofensiva terrestre a Gaza pretendem “destruir, o máximo possível, o aparelho logístico e comando de controlo
do Hamas” e, por outro lado, “tentar recuperar o máximo de vidas
israelitas que foram capturadas como reféns”.
“Esta manhã, existiram
igualmente rumores de operações logísticas para tentar transferir alguns destes
reféns para outras zonas com óbvios problemas, como o Líbano e outros países.
Portanto, Gaza vai ser só o início, infelizmente, de uma grande crise que vai,
obviamente, atingir todo o Médio Oriente”, explica
Ivo Sobral. Logo, “o
risco de uma espiral de violência que possa tocar o resto do Médio Oriente é
muito grande neste momento”
até porque “não existe nenhum conflito
no mundo tão internacional como a questão palestiniano-israelita”.
O especialista em Relações Internacionais
também se questiona sobre o momento do ataque do Hamas, num momento de
aproximação de Israel com a Arábia Saudita. “Temos
de pensar no xadrez geopolítico do Médio Oriente. Muito recentemente, existia
uma possibilidade de um acordo conciliatório entre Israel e a Arábia Saudita
que, neste momento, é obviamente impossível de continuar (…) O apaziguamento do
Golfo, inclusive da Arábia Saudita, em relação a Israel, está neste momento
completamente congelado, pelo menos, a Arábia Saudita. Temos que perguntar onde
está a origem desta mesma estratégia do Hamas”, avança.
Para Ivo Sobral, esse acordo “estaria por alguns dias e, agora, obviamente
vai ser completamente cancelado”, o que o leva a pensar “no maior patrocinador do Hamas que é o
regime de Teerão”: “O Irão teve uma série de vitórias
recentemente. Uma das últimas vitórias foi um acordo para libertar alguns
reféns americanos que estariam no território iraniano, em troca de um apoio
financeiro de fundos iranianos que estariam congelados no Ocidente há algum
tempo e foi uma grande vitória para o Irão. Uma grande vitória seguida por
outra grande vitória que será agora o congelamento das relações entre Israel e
a Arábia Saudita.” ANG/RFI
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