Ciências/Primeiro transplante de um olho inteiro representa uma “oportunidade de futuro”
Bissau, 14 Nov 23 (ANG) - Uma equipa de cirurgiões norte-americanos
anunciou ter realizado o primeiro transplante de um olho inteiro a um paciente
que tinha perdido a visão na sequência de um acidente de trabalho.
A operação decorreu em Maio, mas a equipa médica só agora deu a conhecer
o resultado ao público, passados seis meses para a confirmar a "dinâmica
positiva" do olho transplantado.
O militar de 46 anos, apesar do sucesso do
transplante, não recuperou a visão nem consegue mover o olho. Mas esta é, sem
dúvida, para os cientistas, uma oportunidade sem precedentes para entender o
funcionamento do olho humano. Para já, o olho do paciente continua a dar sinais
de excelente saúde, incluindo fluxo sanguíneo até à retina.
A operação durou cerca de 21 horas e foi
realizada no final de Maio por uma equipa do hospital universitário NYU Langone
Health, em Nova Iorque. Além do olho esquerdo e da sua órbita, os cirurgiões
também transplantaram o nariz, os lábios e outros tecidos faciais.
A equipa médica em causa ficou surpreendida
com os resultados obtidos até ao momento, diz tratar-se de uma "conquista
notável" rumo a um objectivo mais alargado que é o de restaurar a visão.
A principal dificuldade de um transplante
de olho é conseguir restabelecer a transmissão de informações para o cérebro
através do nervo óptico, uma vez que este é cortado tanto no paciente quanto no
doador.
Para Cristina Jorge, presidente da
Sociedade Portuguesa de Transplantação, este anúncio representa
uma “oportunidade de futuro”.
Existe uma quantidade enorme de gente no
mundo com dificuldades de visão, com cegueira incurável neste momento e,
portanto, isto é uma oportunidade no futuro.
Penso que, do ponto de vista técnico, foi
uma cirurgia bastante inovadora. Foi a primeira. Foi uma longa cirurgia num
doente que tinha uma necessidade de um transplante parcial da face e que,
também, já não via daquele olho e, portanto, foi-lhe colocado o olho e a face
do seu dador falecido.
Não havia certezas se o doente iria
recuperar a visão e, realmente verifica-se que ele não recuperou visão.
Portanto, esse é que vai ser um passo grande quando se conseguir obter esta
possibilidade de recuperar a visão. Mas penso que ainda estamos a muitos anos
que esse feito seja atingido.
Este transplante não significa a cura para
a cegueira, mas a reacção deste paciente ao transplante do olho pode vir a
abrir caminho nesse sentido.
Cristina Jorge sublinha que este é um percurso que tem de ser trilhado, pois “só experimentando é que nós conseguimos verificar quais as verdadeiras limitações e os verdadeiros desafios que existem, que aparecem à medida que se experimenta e se confronta com estas necessidades.” ANG/RFI
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