Angola/ João Lourenço desdramatiza fim da mediação para a crise no leste da RDC
Bissau, 26 Mar 25 (ANG) - O Presidente angolano diz que o facto de Angola abandonar a mediação do conflito armado no leste da República Democrática do Congo, para se dedicar a questões da União Africana, não se significa o “distanciamento” das relações diplomáticas entre os países implicados. João Lourenço também desvalorizou uma possível incursão militar do M23 em Angola, tendo em conta a vasta fronteira que este país partilha com a RDC.
João Lourenço também desvalorizou uma possível incursão militar
do M23 em Angola, tendo em conta a vasta fronteira que este país partilha com a
RDC. Angola renunciou esta semana ao papel de mediador no conflito no Leste da
República Democrática do Congo, depois do falhanço do encontro , em Luanda, que
visava juntar o Governo de Kinshasa e do movimento armado M23 “23 de Março”,
apoiado pelo Ruanda.
O posicionamento do estadista angolano ocorreu depois de ter
inaugurado nesta terça-feira, 25, a circular rodoviária da Lunda Sul. João
Lourenço resumia à imprensa os dois dias de visita que efectuou à província.
Questionado sobre uma possível invasão na fronteira angolana
pelo M23, devido ao evoluir da crise na RDC, João Lourenço descartou tal
hipótese, mostrando-se “confiante pela prontidão” das forças de defesa e
segurança.
“Uma hipotética
invasão externa, também não sei o que leva a pensar que isso pode acontecer.
Não tem ligação absolutamente nenhuma entre uma coisa e outra. Mas, se vier a
acontecer, é fácil de se resolver. Vamos arranjar uma farda e uma arma e
entregá-la a si e mobilizá-la para as Forças Armadas. E pronto, fica o problema
resolvido”, disse Presidente
angolano, respondendo a uma pergunta colocada por uma jornalista da rádio
católica angolana Ecclesia.
Quanto ao abandono da mediação para o leste da RDC, o chefe de
Estado angolano diz que o facto de Luanda sair do processo, não é sinal de
animosidade entre os países implicados.
“O facto de nós
termos abandonado a mediação, isso não é nenhum sinal de inimizade com
absolutamente ninguém”, revelou João Lourenço
que, durante dois dias, esteve em visita à província da Lunda Sul, leste de
Angola, onde presidiu a reunião do Conselho de Governação Local, tendo feito
visitas de empreendimentos e inaugurado infraestruturas sociais naquela
província.
Em entrevista à RFI, o coordenador do Observatório Político
e Social de Angola, Sérgio Calundungo, admitiu que tanto o Ruanda como o M23
desconfiavam da neutralidade de Angola nesta mediação.
"Ficou claro
que havia um mal-estar, provavelmente mais do lado do Ruanda e do M23 com a
mediação angolana, muitas vozes se levantaram desse lado, questionando a
neutralidade de Angola, que é algo essencial para um mediador. A minha
impressão é que tanto o Ruanda como o M23 não estavam confortáveis com a
mediação angolana, embora eu acredite que Angola tinha um interesse genuíno em
resolver o conflito", explicou.
Sérgio Calundungo mostrou-se surpreso com o envolvimento do
Qatar, uma decisão que mostra a fragilidade das organizações regionais.
"É, sem
dúvida, uma mudança substancial. Há um ou dois anos, seria impensável que o
Qatar assumisse esse papel. Isso reflecte uma transformação significativa. No
entanto, muitas vozes criticam a tendência africana de recorrer a actores
externos para resolver os seus próprios problemas, em vez de fortalecer
soluções internas. O mais importante é que o Catar tenha influência suficiente
para levar as partes à mesa de negociações e alcançar um acordo. No fim das
contas, o essencial para aquela região e para os seus povos é a paz", notou.
O Qatar entrou como mediador nas negociações de paz para pôr fim
ao conflito entre o grupo rebelde M23, apoiado pelo Ruanda e o exército
congolês no leste da Républica Democratica do Congo (RDC). Na semana
passada, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, e o homólogo congolês, Félix
Tshisekedi, reuniram-se com o emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al Thani, na
capital, Doha.
No final do encontro, numa declaração conjunta divulgada pelo
Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, os dois presidentes africanos
reafirmaram o seu empenho num cessar-fogo "imediato e incondicional".
No entanto, não ficou claro como é que seria implementado ou monitorizado, uma
vez que não foram anunciadas resoluções imediatas.ANG/RFI
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